Academia faz festa para receber Pio Rodrigues na Cadeira 17
Saudado pelo poeta Pedro Henrique Saraiva Leão, o novo integrante da Academia Cearense de Letras é empresário, engenheiro, compositor e poeta. E declara que só anda no trilho do bem.
Empresário, engenheiro, compositor gravado por grandes intérpretes da MPB, poeta, tudo isto Pio Rodrigues já é. Mas, na noite desta quinta-feira, 2/12, ele se tornou, também, imortal.
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Sob o aplauso de muita gente, Pio tomou posse da Cadeira Número 17 da Academia Cearense de Letras, que em 1922 foi pela primeira vez ocupada por José Avelino e, até há pouco tempo, por um dos maiores juristas brasileiras, o professor Paulo Bonavides, chamado pelo novo acadêmico de “cidadão do mundo”.
Para quem sempre disse que “o importante é chegar lá, o fundamental é permanecer lá, mas o essencial é ir além”, sua chegada ao sodalício da literatura do Ceará deve representar o algo mais de que ele falava premonitoriamente.
Para receber Pio Rodrigues, a Academia vestiu-se de pompa e circunstância. A começar pela comovente saudação de Pedro Henrique Saraiva Leão, a quem o noviço chamou de “meu médico, meu amigo, meu guru, meu irmão”. E fez respeitoso silêncio – quebrado várias vezes por salvas de palmas – para ouvir o seu discurso, que começou em tom absolutamente informal. Pio Rodrigues disse, dispensando os excelentíssimos e ilustríssimos presentes:
“Que bom estarmos aqui outra vez! Que maravilha rever os amigos, olhar nos olhos de cada um, não pela tela do computador, mas com os olhos d’alma”.
No quinto parágrafo, o orador assumiu um compromisso: “Comprometo-me a respeitar e dignificar a história desta Cadeira”. Em seguida, salientou que “ter o privilégio de conviver com o mais seleto e qualificado extrato da intelectualidade da nossa terra não deixa de ser uma distinção para poucos, já que são 40 cadeiras para milhões de cearenses”.
Numa linguagem coloquial que encantou o auditório, Pio Rodrigues apresentou-se em versos aos seus colegas acadêmicos:
“Sou inteiro, intenso e incerto / Puro, profundo e poeta / Estável, equilibrado e exagerado / Afável, amoroso e aflito / Sonhador, sincero e sensível / Um ser espiritual em construção! / Um imperfeito inacabável! / Uma criatura/ Uma criança / Que nunca anda no trilho do trem / Mas só navega, sem medo, / No trilho do bem”.
Recordou o pai, empresário Clóvis Rolim, de quem herdou a veia empresarial, mas acentuou que deve a sua “tenra sensibilidade” ao braço materno de sua ancestralidade, os Araújo de Itapipoca, que ainda hoje costumam reunir-se em noitadas de música e poesia.
Referiu-se à mãe, D. Edir, “que me deu a vida e na vida me deu régua e compasso, regra e respeito, dignidade e responsabilidade, ensinou-me a ler e escrever e foi a responsável por me dar o impulso necessário, quando, pelos idos de 1986, me disse: ‘Meu filho, você sempre fez redações tão bonitas, por que você não começa a escrever?’ Estava dada a largada para esta chegada”. Pio foi aplaudido novamente.
Amante da liberdade, ele bradou que é “um guerreiro e um poeta que gostaria de saber qual foi o crime e quem foi o juiz que decretou a pena de um passarinho preso na gaiola, que, às portas dos 70, quer mais é transbordar de vida, efervescer de ser, se esbaldar do bem e se esparramar nas pedras do caminho, reaprendendo a cada dia que Só me falta o que sempre quis / Só me resta o que me falta / Mas falta, no que me resta, / O que mais quis: tempo para ser feliz”.
Pio Rodrigues fez uma elogiosa referência ao presidente da Academia Cearense de Letras, Lúcio Alcântara, que, depois de ter sido deputado estadual, deputado federal, senador e governador, “é um dos poucos homens públicos que pode dar o seu passado de presente para o seu futuro”.
E fez duas sugestões. A primeira: a Academia Cearense de Letras deve compartilhar com a vida pulsante da cidade e trabalhando para a cidade passar pelos salões da Academia.
A segunda: “Que esta casa abra uma trincheira de defesa contra a abusiva invasão, notadamente do inglês, sobre a nossa linda, sonora, musical e riquíssima língua portuguesa”.