A Universidade precisa de aproximar-se da produção. E vice-versa.

A indústria e a agropecuária podem ficar mais perto dos deputados federais e estaduais, se criarem assessorias parlamentares. A Faec reconhece sua culpa e promete cuidar do assunto.

Legenda: Plenário da Assembleia Legislativa do Ceará, onde nem a indústria nem a agropecuária tem assessoria parlamentar
Foto: José Leomar / Diário do Nordeste

Repercutiu no empresariado o comentário publicado ontem por esta coluna, a respeito da desinformação que a maioria dos parlamentares federais e estaduais cearense tem – e exibe – a respeito da economia do Ceará, destacadamente de sua indústria e de sua agropecuária. 

Conversar com eles sobre o assunto chega a ser frustrante, tão grande é o seu desconhecimento, com as poucas exceções que confirmam a regra. E de quem é a culpa? As entidades empresariais da indústria e do agro podem ser citadas como as principais culpadas. 

Falta à Federação das Indústrias e à Federação da Agricultura algumas providências básicas. Por exemplo: criar uma assessoria parlamentar para, de forma permanente, manter contato pessoal com os deputados federais e estaduais e com os senadores, também. 

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Esse tipo de assessoria têm no Congresso Nacional os ministérios, as autarquias e as empresas estatais, como a Petrobras. Mas grandes corporações privadas, como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) também dispõem, em tempo integral, de assessoria no Parlamento, em Brasília. 
 
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará, Amílcar Silveira, reconhece que sua entidade “tem culpa no cartório”, mas considera “muito oportuna e construtiva a crítica da coluna”. E mais do que isto:

“A Faec vai colaborar”, promete ele, “para o aprimoramento de nossas relações com os parlamentares, que, como nós, produtores rurais, trabalham na elaboração de leis que beneficiam e incentivam o desenvolvimento econômico e social do Ceará”. 

Por falta da assessoria parlamentar, de quando em vez o empresariado é surpreendido por alguma decisão da Assembleia Legislativa.

O presidente da Camarão BR, entidade nacional que congrega os maiores carcinicultores do país, o empresário cearense Cristiano Maia levantou, através de uma rede social integrada por industriais e agropecuaristas, outra questão. Ele disse à coluna que, assim como os deputados federais e estaduais, “as universidades cearenses também precisam aproximar-se mais do empresariado, e vice-versa”. 

Esse distanciamento da academia “preocupa até mais do que o dos parlamentares, pois os estudantes universitários, após sua graduação, buscam a primeira chance de trabalho nas empresas, mas isso se torna difícil à medida em que eles mostram desconhecimento sobre as atividades econômicas do estado, pois não aprendem sobre isso durante a graduação”, disse Cristiano Maia.

Ele lembrou que a maioria das teses de doutorado elaboradas nas universidades brasileiras, as cearenses no meio, tem servido, apenas, para enfeitar prateleiras de bibliotecas, sem nenhuma aplicação prática na indústria ou na agropecuária. 

“Isso tem de mudar. Basta copiar o exemplo dos Estados Unidos, onde essas pesquisas são aplicadas na indústria, na agricultura ou na pecuária, contribuindo para o processo de inovação das empresas”, acrescentou Maia. 

Fábiano Mapuranga, administrador de empresas e consultor empresarial, leitor da coluna, revela que, quando dirigia a área de produção agroindustrial do Grupo Telles, tentou atrair a turma de alunos do curso de agronomia de uma universidade cearense “para as operações da empresa”, mas a sua coordenação opôs inexplicável resistência, e a ideia não vingou. 

Pesquisar e escrever sobre o sexo dos anjos – mesmo com a alta qualidade que exige um texto acadêmico – será jogar tempo e dinheiro no lixo, e é o que, no Brasil – no Ceará, também – tem sido feito ao longo do tempo. 

O Brasil, que tem a agricultura e a pecuária mais modernas do mundo, porém não tem sequer um Prêmio Nobel, o que é lastimável. A Argentina tem cinco. O Peru tem um. A Colômbia, dois.  O Chile, dois. 
Mas nenhum país tem seis Copas do Mundo de Futebol, só o Brasil.

Neste momento de grandes desafios para a economia cearense – estão chegando as empresas do futuro Hub do Hidrogênio Verde do Pecém – é necessário, e podemos dizer que é urgente, a criação, pela Fiec e pela Faec, de assessorias parlamentares com o objetivo de manter bem-informados os deputados federais e estaduais do Ceará a respeito do que já fizeram, estão a fazer e o que farão a indústria e a agropecuária estaduais.