Bolsa sobe, dólar desce, mas mercado olha para os gastos do governo

Aprovado, Arcabouço Fiscal foi à sanção presidencial, mas a Reforma Tributária ainda demorará. Cenário externo também preocupa. EUA dá sinais de retração. China anda devagar.

Legenda: Servidores públicos federais, que não tinham reajuste desde 2019, ganharam 9% de aumento nos seus vencimentos
Foto: Agência Brasil

Foi mais um dia positivo, o de ontem, para a Bolsa de Valores brasileira, a B3, que fechou em alta de 1,70%, aos 118.135 pontos. O dólar encerrou a quarta-feira cotado a R$ 4,85 para compra e para venda, com forte queda de 1,72%.
 
A aprovação do Arcabouço Fiscal pela Câmara dos Deputados, na noite da terça-feira, contribuiu muito para a boa performance da bolsa B3 na quarta-feira. 

Mas a Reforma Tributária, já aprovada pela Câmara dos Deputados e agora em tramitação no Senado, vai demorar até o fim de outubro para ser aprovada, também.

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Influíram, igualmente, na performance de ontem da B3 as notícias vindas dos EUA, onde surgiram os primeiros sinais de desaceleração da economia norte-americana, algo que pode levar o Federal Reserve, o Banco Central de lá, a não mexer na taxa de juros em sua próxima reunião de setembro.

A Bolsa brasileira foi ainda incentivada, no seu pregão de ontem, pelos preços futuros do minério de ferro, que subiram 3,68% no mercado internacional.
 
Essa subida foi causada pelas especulações de que as usinas siderúrgicas da China aumentarão sua produção, algo de que o mercado ainda tem dúvida.

Neste momento, há uma crise no setor imobiliário chinês causada pela notícia de que duas de suas grandes empresas deixaram de pagar compromissos na data do vencimento.
 
O aumento dos preços do minério de ferro fez subir ontem, em 0,96%, ou seja, quase 1%, o preço dos papeis da Vale, que são um dos blues chips da Bolsa B3.

Outro blue chip, a Petrobrás, teve suas ações valorizadas ontem em 5,5% porque o Bank of America e o BTG Pactual elevaram a recomendação de compra, e o motivo foi a política de distribuição de dividendos e, ainda, o forte aumento dos preços dos combustíveis no mercado interno brasileiro.

Ontem, o Senado aprovou, em apenas cinco minutos, a Medida Provisória que aumenta em 9% os vencimentos dos servidores públicos federais do Executivo, de autarquias e fundações. Essa MP havia sido aprovada, 24 horas antes, na Câmara dos Deputados e, por isto, já foi encaminhada à sanção do presidente Lula.

Esse aumento, que já vem sendo pago desde o dia 1º de maio deste ano, representa mais R$ 11 bilhões nas despesas do governo.

A mesma Medida Provisória também criou uma diretoria na Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba, a Codevasf, que passará a contar com quatro diretores. 

A nova diretoria será ocupada por alguém a ser indicado pelo partido Republicanos, que faz parte da base de apoio do governo Lula no Congresso Nacional.
 
Tem mais: a mesma Medida Provisória também permite aos anistiados políticos que recebam reparação econômica mensal se optarem pelo uso dessa remuneração para pedir crédito consignado.
 
Os servidores públicos federais estavam, desde 2019, sem aumento de vencimentos. Então, parece justa e oportuna a decisão do governo de melhorá-los. Acontece que a situação fiscal do governo é ruim, com um déficit que, neste ano, será de cerca de R$ 120 bilhões.
 
O Arcabouço Fiscal, aprovado terça-feira de forma definitiva e, também, encaminhado à sanção presidencial, tem uma meta crucial: zerar o déficit primário no próximo ano. 

Mas para isso, é preciso lembrar sempre, será necessária a obtenção de uma receita extraordinária de R$ 150 bilhões, e até agora nem os economistas nem os operadores do mercado, e muito menos as autoridades do Ministério da Fazenda, têm a certeza de como isso será possível.
 
E por uma razão simples: o governo não está reduzindo gastos. Pelo contrário, suas despesas só fazem crescer, como agora. E é isto que preocupa os empresários, que estão cancelando ou adiando novos investimentos. 

Como investir num cenário interno de dificuldades, que é agravado pelo quadro externo, também complicado, principalmente em relação à economia dos Estados Unidos e da China, as duas locomotivas do mundo, que estão emitindo sinais de retração? Na Europa, a cena é a mesma.

Eis aí uma pergunta para a reflexão de quem produz e trabalha.