A queda do IPCA e o futuro próximo da economia, segundo o analista

Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, Selic só cairá em agosto de 2023, e se - além da inflação - as questões fiscais estiverem bem resolvidas

Legenda: A inflação de novembro passado, medida pelo IPCA do INGE, veio abaixo do que previa o mercado
Foto: Fabiane de Paula / Diário do Nordeste

Medidor oficial da inflação brasileira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,41% em novembro. De acordo com os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador ficou 0,18 ponto percentual abaixo do que foi apurado em outubro – 0,59%. 

Para o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, o número surpreendeu, pois a expectativa era de uma taxa um pouco mais alta.

“Frente ao nosso número, o IPCA foi uma surpresa baixista. O nosso número era de 0,50% e veio 0,41%. Podemos dizer que o IPCA foi uma surpresa relativamente generalizada, bem distribuída entre os itens. Quando a gente olha da ótica de livres administrados, a maior surpresa é de oito pontos percentuais que se deu em livres, a nossa projeção era de 0,33% e veio de 0,22%”, explica Cardoso. 

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Outro aspecto importante a destacar em relação ao número do IPCA de novembro está relacionado ao grupo de industrializados, que foi de 0,12% frente a projeção de 0,21% da Daycoval Asset. Cardoso atribui ao mpacto da Black Friday, porém não descarta que isso se reverta em breve. 

“Quando a gente vai detalhando o número, então olhamos para dentro dos preços livres que foi efetivamente o que ajudou o IPCA a ser mais comportado, principalmente a parte de serviços e produtos industriais que vieram abaixo do imaginado. Serviços, que são a parte mais importante para o Banco Central, foi toda abaixo. Mas quando a gente olha o núcleo de serviços subjacentes, eles ainda rodam em 0,5%  Já na parte de industriais veio 0,12%  e a gente tinha 0,21%, atribuímos isso ao efeito da Black Friday que pega os itens bastante atingidos pelos descontos dessa época. Então, a gente olha com ressalva, pois pode ser que eventualmente adiante isso se reverta”, diz Cardoso. 

Apesar da desaceleração do IPCA mostrada em novembro passado - em novembro de 2021 o IPCA foi de 0,95% - o economista-chefe do Daycoval Asset não vê o número como um "ponto de virada". Cardoso explica que, apesar dos serviços apresentarem queda, na análise qualitativa ainda há grupos que rodam em 0,50%.

“Na avaliação qualitativa, você vê que o número do grupo de serviços não veio tão baixo. A gente sabe que tem uma reversão parcial pelo menos dessa parte de industriais e nos parece que esse número não é um game change. Muito provavelmente a gente vai ter uma normalização desses números um pouco adiante. Acreditamos em uma desinflação um pouco adiante, mas não acreditamos que esse número em si seja um ponto de virada. Achamos que é um número positivo de curto prazo, mas algumas indicações que têm aí devem se reverter um pouco adiante”, explica Cardoso.

Para o economista, da perspectiva do Banco Central o IPCA não muda nada e a projeção da Daycoval Asset é de cortes da Selic somente a partir de agosto de 2023, mas isso muito mais dependente de outras questões – como as fiscais – do que da inflação propriamente dita.                           

Segundo o IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses foi de 5,90%. No ano, o IPCA chega a 5,13%. A projeção da Daycoval Asset é que o IPCA feche 2022 em 5,9%. Para 2023, Cardoso destaca que a expectativa é de IPCA de 5,2% e, em 2024, 3,5%.