A Petrobras, os combustíveis, a inflação e o governo

Combustível mais barato derruba o preço de todas as mercadorias, principalmente as produzidas pela agropecuária e, por via de consequência, reduz a inflação.

Legenda: O preço da gasolina e do óleo diesel deve baixar a partir desta quarta-feira, 17
Foto: Fabiane de Paula / SVM

Com um Fato Relevante divulgado na manhã de ontem, terça-feira, 16, e cujo texto chega a ser confuso em alguns trechos, com erros de pontuação e repetição de palavras, a Petrobras anunciou que mudou sua política de preços para os combustíveis, essencialmente para a gasolina, o óleo diesel e o gás de cozinha.
 
A partir de hoje, esses produtos ficarão mais baratos para quem abastecer seu automóvel no posto da esquina. 

Resumindo: saiu a paridade com o preço internacional do petróleo e entraram as variáveis do mercado interno, a competitividade e a participação no mercado – o market share.
 
Isto quer dizer que o que haviam prometido o presidente Lula e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates – segundo os quais a precificação dos combustíveis mudaria – passa ser cumprido.

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Neste momento, o petróleo do tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres e importado pela Petrobras, está em queda, valendo US$ 75 por barril, mesmo com a redução de 1,6 milhão de barris/dia decretada pela Opep e seus parceiros (Opep+). 

A retomada da atividade econômica da China – maior importador mundial de petróleo – ainda não chegou aos níveis de antes da pandemia. Quando isto acontecer, o preço do petróleo voltará a subir e poderá chegar aos UDS$ 90 por barril, ou mais. E aí, como agirá a Petrobras? 

Combustível barato derruba o preço de todas as mercadorias, principalmente as produzidas pela agropecuária e, por via de consequência, reduz também a inflação. 

A decisão de ontem da Petrobras de reduzir o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha deverá ter consequência positiva no IPCA deste mês de maio, é o que estimam os economistas. 

Se o índice oficial da inflação brasileira cair neste mês, o governo terá mais um argumento para pressionar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central por uma redução da taxa básica de juros Selic, que segue há oito meses no patamar de 13,75% ao ano.

Mas é preciso lembrar que essa nova política de preços da petroleira brasileira é semelhante à que foi praticada no governo da presidente Dilma Rousseff. Ela é ótima para a popularidade do Chefe do Governo, mas é perigosa para as contas da empresa, que tem ações negociadas nas bolsas de São Paulo, a B3, e de Nova Iorque. 

Até ontem, o preço dos combustíveis era reajustado segundo a variação do dólar e dos preços do petróleo no mercado internacional.

Agora, esses preços voltam ao controle de um comitê de diretores da Petrobras e serão reajustados – para cima ou para baixo – sem periodicidade definida, sem a incorporação “da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.

O tempo dirá se a medida foi correta. Ontem, economistas e operadores do mercado dividiram opiniões:  alguns puseram em dúvida o acerto da providência, outros declararamm-se aliviados, pois não houve nenhum aceno sobre congelamento ou subsídio para importação.
 
As ações da Petrobras chegaram a subir mais de 3% durante o pregão da Bolsa no dia de ontem, mas encerraram o pregão com alta de 2,49%.

Como o país está politicamente polarizado entre esquerda – a favor do governo – e direita – contra o governo – ao primeiro sinal de debilidade da decisão da Petrobras, o debate começará. 

Mas a torcida é para que tudo dê certo. 

Por enquanto, e por um tempo que poderá ser curto ou longo, o consumidor deve aproveitar o preço mais baixo da gasolina do automóvel, do óleo diesel do ônibus e do caminhão e do gás da cozinha de todos nós e torcer para que tudo isso se reflita na queda da inflação e dos juros.

E a Bolsa de Valores brasileira B3 fechou em queda ontem. 

Foi uma queda de 0,77% por cento, aos 108.193 pontos, encerrando uma sequência de oito dias de alta.

O dólar subiu, e subiu bem: alta de 1,12%, encerrando o dia cotado a R$ 4,94, ou seja, 10 centavos acima da cotação de segunda-feira.

O destaque do pregão de ontem da Bolsa foram as ações do grupo cearense Hapvida, que chegaram a valorizar-se mais de 10%, mas fecharam o dia com ganho de 8,25%. 

Os analistas do mercado entenderam que o balanço da Hapvida relativo ao primeiro trimestre deste ano, que registrou prejuízo, trouxe indicações de que a empresa está reagindo bem e seus papeis tendem a ser valorizados.