Hoje, 7 de abril, é a Sexta-Feira da Paixão de Cristo. É o memorial do sofrimento de Jesus que, no domingo, explodirá na maior festa da cristandade – a sua Ressurreição, fundamento da fé cristã. Ponto.
Mas esta data pode, também, ser referida como um marco da dura vida real que os brasileiros estamos vivendo, na expectativa de que se realizem os projetos públicos e privados de recolocação deste país nos trilhos do desenvolvimento econômico, social, cultural e moral.
Para isto, é necessário, é essencial, é inadiável a união de todos pelo progresso desta Nação rica e bonita por natureza.
Mas não é nem será fácil chegar à unidade pretendida. A sociedade brasileira segue dividida entre nós e eles, entre eles e nós, entre a esquerda e a direita.
Consequência trágica dessa polarização tem sido a repetição, neste país de tradição pacífica, do que virou rotina nos Estados Unidos – o ataque de tresloucados a crianças e adolescentes em escolas e creches, algo inimaginável há muito pouco tempo.
Os que trabalham e produzem – a maioria – preocupam-se com o visível descompromisso da elite política com o verdadeiro interesse público. Essa elite, infelizmente, está comprometida muito mais com o seu próprio interesse pessoal, paroquial e regional – exatamente nesta ordem.
Aos que duvidam, uma sugestão: acompanhem as tratativas que os presidentes da Câmara dos Deputados, Artur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, desenvolvem a respeito da composição das comissões mistas das duas casas legislativas.
Se for pouco, sigam os entendimentos de ambos para a liberação das famosas emendas parlamentares, que agora saem por meio de um tal de orçamento secreto, inventado pelos partidos que formam o Centrão, do qual Lira e Pacheco são líderes proeminentes.
“Investir em um cenário assim é impossível”, diz à coluna um grande empresário industrial, que confessa: “Quero dobrar o tamanho de minha empresa, mas correrei grandes riscos se o fizer neste momento conturbado e de incerteza da economia nacional”.
O mesmo empresário afirma que ele e seus colegas cearenses e de todos os demais estados brasileiros estão sendo torturados pela indecisão dos que detêm o poder.
“Não posso investir numa situação de incerteza como a que estamos todos atravessando”, acentua ele, apontando para as altas taxas de juros como uma das causas da baixa atividade econômica e citando as dúvidas do novo arcabouço fiscal como outro item de suas preocupações.
Mas na agropecuária essas preocupações ampliam-se, porque, além dos juros altos e da indefinição a respeito da nova matriz fiscal, “há o MST e suas invasões, que podem chegar ao Ceará a qualquer momento, e ainda não sabemos como reagirá o setor”, como diz, sob anonimato, um grande empresário agrícola.
O Banco Mundial e o Boletim Focus vêm confirmando que, neste ano, o PIB brasileiro crescerá menos de 1%. O presidente Lula, porém, incitou seus ministros a usarem o discurso do otimismo para contra-argumentar.
Lula está, agora, dizendo e repetindo que o PIB do Brasil crescerá bem mais do que indicam as previsões dos economistas. Todavia, como das vezes anteriores, ele não apresentou dados que sustentem sua previsão.
O próprio presidente do Banco Central, economista Roberto Campos Neto, elogiou o novo arcabouço fiscal, e disse que foi superpositiva a avaliação que sobre ela fizeram seus técnicos. Mas ele ressaltou que não existe uma relação mecânica entre a política fiscal e a taxa de juros. Traduzindo: o Banco Central não garante que cortará a taxa de juros Selic na sua próxima reunião, no início do mês de maio.
Tudo o que acima foi dito significa que o cenário da economia segue pintado com as cores escuras da incerteza, da desconfiança, mesmo porque a proposta do arcabouço fiscal ainda será encaminhada ao Congresso Nacional, que, muito provavelmente, fará mudanças no texto.
E é aí que reside o perigo, porque, como sempre acontece nessas ocasiões, haverá a possibilidade de aprovação de jabutis. E são os jabutis do Legislativo que atravancam a economia brasileira.