Lula diz que política de preços da Petrobras vai mudar. Com critério.

O presidente disse, porém, que a mudança será feita "com muito critério". Ele quer "abrasileirar" o preço da gasolina e do óleo diesel. Mas precisará combinar com a Opep

Legenda: Lula confirmou ontem que a política de preços da Petrobras mudará, mas com critério
Foto: Fabiane de Paula / SVM

A Bolsa de Valores brasileira B3 fechou ontem, quinta-feira, em queda muito leve, de apenas 0,15%, aos 100.821 pontos. Nesta semana, a Bolsa perdeu mais de 1%. O dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,06, com alta de 0,16%.  

Foi um dia de pouca liquidez na Bolsa B3, motivado pelo feriado desta sexta-feira. Por isto, o mercado financeiro moveu-se ontem pelas notícias da política. E, mais uma vez, o presidente Lula deu motivos para preocupações. Ele voltou a falar sobre o Banco Central e sobre metas de inflação. 

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Durante café da manhã com jornalistas, Lula disse que a atual taxa básica de juros Selic é “incompreensível” e ainda palpitou a respeito da política de metas de inflação do Banco Central. Ele disse: 

“Se a meta está errada, muda-se a meta”.

Mas a meta de inflação é decidida pelo Conselho Monetário Nacional, que é integrado, além do presidente do Banco Central, pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, hoje ocupados por Fernando Haddad e Simone Tebet, o que quer dizer que, na sua próxima reunião, em agosto, esse colegiado deverá mudar a meta atual, como deseja o presidente Lula.

A meta de inflação para este ano de 2023 é de 3,25%, com variação de 1,5% para cima ou para baixo. Hoje, a inflação está acima de 5%, ou seja, ela ultrapassou e se mantém bem além do teto da meta, que é de 4,75%.

O presidente, mais uma vez, disse que não quer briga com o presidente do Banco Central, economista Roberto Campos Neto, argumentando que esse é um problema do Senado Federal, que aprovou o seu nome para a posição de autoridade monetária. 

Lula também abordou a questão da taxa Selic e disse que é preciso encontrar um jeito para reduzir os juros. A taxa de hoje “é incompreensível, porque não temos inflação de demanda”. 

Ele prometeu que indicará dois novos diretores do Banco Central, que serão, na sua opinião, “pessoas da mais alta responsabilidade”, que defenderão os interesses do governo, numa clara referência à sua tese de que os juros têm de ser reduzidos de qualquer jeito.

No mesmo café da manhã com jornalistas, o presidente posicionou-se a respeito da política de preços da Petrobras para os combustíveis. Lula referiu-se ao que na véspera dissera o seu ministro de Minas e Energia, para quem a política de preços da Petrobras vai mudar, causando a imediata desvalorização dos preços das ações da estatal.

Lula desautorizou o ministro, que o surpreendeu ao falar sobre a política de preços da Petrobras. Disse o presidente que a política de preços da empresa estatal será decidida quando o governo convocar uma reunião para isso. Por enquanto, acrescentou Lula, tudo segue como está funcionando hoje.

Mas o próprio Lula, no mesmo café da manhã de ontem com os jornalistas, disse que a política de preços da Petrobras vai mudar. Ele afirmou: 

“Nós vamos mudar, mas com muito critério, pois durante a campanha eu disse que era preciso abrasileirar o preço da gasolina e do óleo diesel”.

Mas é preciso ser dito que, entre o desejo do presidente e a realidade há um abismo. Neste momento, o preço internacional do petróleo está subindo, chegando à casa dos US$ 85 por barril, com viés de alta por causa da decisão da Opep, que cortou sua produção em 1,66 milhão de barris por dia. 

As novas opiniões do presidente fizeram desabar, ontem, as ações da Petrobras: elas perderam 1,43%, fechando o dia cotadas a R$ 23,95.

Mas o presidente Lula também falou sobre outro assunto, e tocou na questão da indústria automobilística, que enfrenta séria dificuldade com a venda de veículos. Essa venda caiu muito nas últimas semanas.

 Lula anunciou que fará uma reunião com os sindicalistas para tratar do assunto e admitiu que poderá conceder algum tipo de isenção tributária ao setor automobilístico.

Essa possibilidade, se acontecer, confrontará o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que trabalha no sentido de reduzir ao máximo as atuais isenções e incentivos fiscais, a fim de permitir o aumento das receitas do governo em pelo menos R$ 150 bilhões. 

É com essa montanha de dinheiro que o ministro Haddad pretende reduzir o déficit deste ano, zerar esse déficit em 2024 e obter um superávit em 2025.

Eis aí mais um motivo de preocupação para os investidores, pois se trata de uma dificuldade a mais que terá o ministro da Fazenda para viabilizar as metas do seu arcabouço fiscal. 

Resumindo: não é nem será fácil a vida do ministro Fernando Haddad. Pelo contrário, ele terá dificuldade para aprovar a proposta da nova matriz fiscal do jeito que ela chegar ao Congresso.

A perspectiva é de que essa proposta, que irá ao Parlamento na próxima semana, será bem modificada pelos deputados federais e senadores.