No meu último texto sobre tempestade solar, fiz uma análise dos impactos deste fenômeno sobre a internet. E ressaltei que, se as tempestades solares causarem danos a nós, a internet seria o menor dos problemas. Nesta coluna, eu comento sobre os impactos das emissões solares no sistema sísmico terrestre. Aprendemos que os continentes estão sobre placas tectônicas que se encaixam como peças de quebra-cabeça separadas por fissuras chamadas falhas. O movimento dessas placas podem fazer relevos, como serras, montanhas e cânios, aparecerem. Também pode provocar terremotos, criar vulcões nos oceanos e causar tsunamis.
O Japão, por exemplo, fica em região próxima às falhas onde se encontram quatro placas que são: a asiática, australiana, filipina e a placa do oceano Pacífico. É um verdadeiro tumulto de placas procurando seu lugar e colidindo. Por isso, os terremotos são comuns ali.
O NOAA (Space Weather Prediction Center National Oceanic And Atmospheric Administration) previu um excesso de emissão de raios x pelo Sol que poderia causar interferência nas rádios de alta frequência (HF) para o dia 31 de dezembro de 2023, às 21h39. Depois disso, foi previsto ainda para o mesmo dia uma emissão de ondas de rádio no comprimento de onda de 10 cm, algo em torno de 2,99 GHz. Contudo, as frequências observadas ficaram nas casas dos MHz.
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Cerca 10 horas depois (7:10h UTC), no dia 1º de janeiro de 2024, ocorreu o terremoto de 7,5 pontos, considerado grande na escala Richter. Ele atingiu a cidade de Wajima, província de Ishikawa, às 16h10 do horário local do Japão. Depois múltiplos terremotos foram observados. É muita coincidência não serem eventos correlacionados. Em 2020, um estudo publicado na renomada revista Nature, levantou a correlação entre tempestades solares e terremotos em nosso planeta.
Ainda não sabemos como as tempestades causam terremotos. Explica-se que a onda de choque seria transmitida pela nossa atmosfera. Eu particularmente não acho essa explicação válida, porque uma onda de choque transmitida pelo ar, capaz de gerar um terremoto, deveria causar um boom sônico. Outra explicação que acho improvável é que o campo magnético gerado pelo Sol afetaria o núcleo magnético terrestre. Tenho feito cálculos do poder de penetração de ondas eletromagnéticas nas camadas terrestres, e elas não conseguiriam chegar ao núcleo do nosso planeta.
A explicação deve ser algo mais discreto e novo como uma perturbação gravitacional. O Sol, no momento da emissão de um poderoso raio de luz chamado flare, gerou uma onda em sua superfície chamada onda coronal. Talvez essa onda provoque uma onda gravitacional. E essas ondas gravitacionais conseguiriam penetrar as camadas terrestres e provocar pequenos movimentos de terra, talvez o suficiente para afetar áreas sensíveis como o Japão, que fica perto de muitas falhas entre as placas tectônicas. Mas isso deverá ser testado em breve. Porém, a correlação entre tempestades geomagnéticas e terremotos parece ser verdadeira. E mais estar por vir.
A NOAA fez uma nova previsão de uma tempestade solar para o dia 4. Então baseado no artigo, mais abalos sísmicos ou vulcões entrando em erupção estão por vir, provavelmente entre os dias 4 e 5.
Para nossa sorte, o Brasil não está próximo de nenhuma falha de placas tectônicas. O ponto mais próximo fica no nordeste de uma falha no oceano Atlântico de onde podem surgir tsunamis. Pois é, é verdade, o nosso litoral é local mais provável do Brasil de sofrer com tsunamis. Mas calma, não há nenhum indício de que as tempestade solares atingirão essa região no Atlântico.
A Terra girando funciona como uma roleta e no caso do último ocorrido a região atingida pelo Sol foi no oceano pacífico que banha o país nipônico. Mas não podemos subestimar os poderes da natureza. No momento que escrevo este texto foi registrado um terremoto de magnitude 4 na falha entre a América e o continente africano, conforme se pode ver na imagem do CSEM-EMSC.
É bom começarmos a debatermos o tema para prevenir. No Japão existem vários protocolos e treinamentos nas escolas e empresas em caso de terremotos. Uma das dicas em caso de abalo sísmico é procurar se abrigar próximos a colunas ou embaixo de mesas. Parece algo simples, mas já salvou muitas vidas. Eu espero que você nunca precise usar, mas nunca se sabe. Há relatos de tremores de terra em Sobral em julho de 2021 e muitas outras vezes que eu sei. “Conhecimento pode salvar vidas e ignorância mata”.