A internet tem uma tendência de movimentar notícias que abalem a sua própria existência. Nesta semana, tomou conta das redes, mais um vez, a notícia de que a internet cairia em 2024 devido a uma tempestade solar. Essa preocupação ganhou repercussão por conta de um trabalho apresentado em conferência por cientistas da Universidade da Georgia Mason, nos Estados Unidos. Meu aluno Vinícius me perguntou sobre o assunto querendo saber se a notícia era verdadeira.
Eu fui apurar o que é fato e o que é extrapolação.
O Sol possui ciclos de atividade. Em determinada época conseguimos ver manchas solares com uso de filtro em telescópios. Essas manchas são causadas por ejeções de massas. Quando essas ejeções chegam ao nosso planetas temos as tempestades solares e auroras boreal e austral.
Estamos saindo de um ciclo, até pouco tempo eu não via nenhuma mancha no Sol. Mas percebi já algumas quando me preparava para o eclipse solar que ocorreu dia 14 de outubro. Estamos iniciando um novo ciclo. Mas manchas na superfície do Sol estão aparecendo indicando a ejeção de massas.
O Centro de Previsão do Clima Espacial da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, o NOAA, prevê um aumento das atividades solares para o ano que vem. As partículas provenientes do Sol são desviadas para os polos Norte e Sul geográfico pelo campo magnético da Terra. Essas partículas emitem luzes que conhecemos como aurora boral se o fenômeno acontece no polo Norte, ou aurora austral quando ocorre no polo Sul.
Eu acho extremamente improvável que essas tempestades possam derrubar exclusivamente a internet. Elas podem derrubar alguns satélites da Starlink. Mesmo assim, essa rede é constituída atualmente de cerca de 2 mil satélites que podem funcionar independentemente. Se mil caírem, outros mil continuarão funcionando. Sem falar que o projeto é para aumentar esse número para 12 mil. Então eu acho que não derrubaria a internet via Starlink.
Essa ideia de derrubar a internet é mais absurda porque a maior parte de nossos serviços da rede vem por cabos submarinos. Essas partículas teriam que atravessar primeiro o campo magnético terrestre. Depois, sobreviver à passagem pela atmosfera terrestre. Alguns raios cósmicos conseguem.
Mas no fundo do oceano é extremamente improvável chegarem. Nem ondas de rádio conseguem penetrar na água salgada. E eu vi páginas dizendo que a tempestade solar afeta os repetidores de sinais no fundo oceano. Vou te dizer: se uma partícula do Sol afetar um repetidor no fundo do oceano, o que será do meu laptop aqui na superfície? Isso só vai ocorrer quando o Sol encostar na Terra daqui a 5 bilhões de anos.
Mas uma coisa é fato: tempestades solares podem causar danos à sociedade. Elas já causaram blecautes no Canadá em 1989. Neste contexto, não tem jeito. Se a tempestade solar derrubar o sistema elétrico, não tem internet mesmo. Neste caso, a falta de internet é o menor dos problemas. Certo dia meu pai, de 72 anos, me perguntou se o dinheiro em papel moeda iria acabar. Eu falei que sim. Depois de um apagão eu mudei de ideia.