Cometas são como mensageiros do Sistema Solar. Alguns deles vem de muito longe, para além da órbita do último planeta do nosso sistema, Netuno a 30 u.a. (uma unidade astronômica, u.a., é a distância média da Terra ao Sol e vale aproximadamente 150 milhões de quilômetros). É o caso do Cometa 12P/Pons-Brooks descoberto em 12 de julho de 1812. O nome de um cometa contém algumas informações codificadas. Para começar, o número 12, apesar de recorrente, não é pelo dia de sua descoberta nem pelo ano.
É simplesmente porque ele foi o décimo segundo cometa periódico descoberto. Por exemplo, o cometa Halley foi o primeiro da categoria, então ele recebeu o nome 1P/Halley. A letra P é justamente de periódico, pois ele retorna a cada 71 anos, por isso é do tipo Halley. O nome composto separado por hífen é a junção dos sobrenomes de dois astrônomos: Jean-Louis Pons (1761—1831), um francês considerado o maior descobridor de cometas (37) sem uso de telescópio, e William Robert Brooks (1844 — 1922), um inglês que observou o retorno do astro em 1883.
O cometa em questão teve sua máxima aproximação com o Sol no dia 21 de abril, o que é chamado de periélio. Isso provoca um aquecimento do objeto, feito geralmente de rocha e gelo, que se vaporiza do seu núcleo é expelido por dois vulcões. Quem não se lembra dos vulcões no lar da obra literária "O Pequeno Príncipe"? Pois é, a diferença é que na literatura se tratava do asteroide B612 e não de um cometa. Os asteroides são menores, de um a centenas de metros de diâmetro, enquanto um cometa possui vários quilômetros.
Por causa dos dois vulcões expelindo vapor, se formou uma estrutura parecida com dois chifres. E o que tem dois chifres na imaginação do povo? Boi, é claro! Faça um busca rapidinho na internet pelo cometa e vai ver o tanto de matéria se referindo como “cometa do diabo”. Não cometa esse erro! Tirar os créditos de dois astrônomos renomados que as pessoas podem conhecer pra dar ênfase a uma pareidolia (fenômeno psicológico de enxergar rostos em objetos inanimados) pagã.
Não tem nada de apocalíptico com o astro, ele não está em rota de colisão com a Terra e nem é a causa das guerras, outra associação infundada a presságio de cometas.
O Pons-Brooks é um cometa muito belo com magnitude 4,9, próximo do limiar do visível, por isso pode ser encontrado a olho nu na constelação do Touro e pode ser visto ao entardecer na direção Oeste. Porém, é melhor observado com uso de câmeras. Para capturar uma imagem dele eu dou algumas dicas:
Mudar o foco para longe na configuração de infinito
Aumentar o tempo de exposição até o limite que o objeto não forme um risco (isso acontece porque o nosso planeta gira)
Usar um telescópio com motores também denominado de GOTO (com isso, você pode usar mais tempo de exposição sem que a imagem fique riscada)
Dadas essas dicas, espero que você o encontre. Se não, sua próxima aparição será daqui a 71 anos em 2095. Antes do seu retorno, ainda teremos o Halley de volta em 2061. Por isso é bom aproveitar. O cometa ficará visível ao anoitecer até outubro, então, você terá bastante tempo.