Eu já entrei na mata para procurar fragmentos de meteoritos em Pentecostes. Deixamos os carros em um lugar e marquei o local no GPS. No início todos estávamos entusiasmados, mas ao longo da mata fechada o calor ia nos deixando cada vez mais esgotados. Chegou a um ponto que decidimos voltar, nós estávamos seguindo o mais experiente de nós em aventuras pela mata, contudo eu decidi conferir no GPS, até que chegou a um ponto em que divergimos. O mais experiente acreditava que o caminho era por um lado, eu interpretava que deveríamos seguir na direção oposta.
— Você está “ariado”? – me disse.
— De maneira alguma, é por aqui – falei com insistência.
O grupo se sentiu dividido, mas resolveu seguir as minhas orientações. Eles vinham me seguindo desconfiados até vermos os carros. Alívio.
Esse mês, um novo recurso passará a entrar em ação para ajudar pessoas perdidas em lugares onde o sinal de internet é fraco. A rede Starlink da SpaceX começou a ser testada em aparelhos móveis. Atualmente, essa rede faz uso de uma antena fixa.
Nossos celulares se conectando com satélites parece algo comum, mas não é. Atualmente, a conexão 4G se dá por meio de antenas que funcionam como repetidores. Essas antenas não podem ficar muito distantes entre si, caso contrário o sinal se torna imperceptível. Agora imagine seu celular se comunicando diretamente com um satélite.
Atualmente, o GPS funciona porque os satélites possuem baterias muito potentes que são capazes de enviar sinais intensos para o celular. O contrário não é usual, ou seja, o celular, devido a sua bateria limitada, emite um sinal muito fraco incapaz de chegar até os satélites de comunicação no espaço.
Quando o sinal do seu celular está fraco, não é o sinal da antena que não chega no seu aparelho. É o seu smartphone que não tem potência suficiente para emitir a mensagem até a antena. Por isso que seu GPS funciona em qualquer lugar do mundo, pois o GPS funciona apenas recebendo o sinal dos satélites que estão a 20 mil km de altitude.
Todavia, isto está mudando. A Starlink é uma rede de cerca de 2.000 satélites que ficam mais próximos de nós do que os satélites comuns de GPS e de comunicação. Dizemos que estão em uma órbita baixa que fica cerca 500 km de altitude.
É muito fácil ver um satélite destes. Em uma noite de observação com meus alunos, nós podemos ver dezenas deles. Mesmo sendo a órbita baixa, a distância de 500 km corresponde quase à extensão do Ceará. Não dá para imaginar enviar uma mensagem de celular de Acaraú no extremo norte do estado até Juazeiro do Norte sem antenas para repetirem o sinal. Pois é isso que a nova tecnologia irá fazer.
Por enquanto, nada de navegar pela web, assistir séries online, não. A técnica funciona para transmitir poucos caracteres, que podem ser de aventureiros perdidos em regiões de difícil acesso. Mesmo que involuntariamente, uma pessoa pode ir parar na mata devido a um pouso forçado de avião, por exemplo. O mais importante neste caso será enviar os caracteres com suas coordenadas.
Pode parecer pouco, mas pode salvar vidas. Com essas informações enviadas a familiares, eles podem repassar os dados para a defesa civil, corpo de bombeiros ou qualquer equipe de resgate. Neste caso, temos mais uma aplicação da astronáutica em nossas vidas e dessa vez explorado pela iniciativa privada.
A Starlink pretende lançar o sistema gratuitamente para mensagens de texto neste ano de 2024. Ao longo do tempo serão implantados serviços de chamada de voz e internet das coisas, em 2025.
Os serviços prestados por empresas continuam crescendo nesta área espacial. Em último exemplo, tivemos o envio da sonda peregrine (peregrino) para a Lua. Mas infelizmente esta sonda está mais para prodigal son (filho pródigo), porque está voltando para a Terra inesperadamente. Eu falei sobre esta sonda na minha última coluna, caso queira conferir. Nos resta agora conferir a promessa da SpaceX com a Starlink.