A retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, na cidade de Ipojuca, Pernambuco disparou o alarme nas hostes daqueles que representam, no País, os interesses do grande capital, nacional e internacional, do rentismo, daqueles que não querem um Nordeste desenvolvido e um Brasil soberano, sendo capazes de definir um caminho próprio de desenvolvimento no interior do atual estágio do capitalismo. No momento em que a crise climática, o aquecimento global, que exige uma transição para um modelo de produção mais sustentável , apoiado em fontes de energias renováveis, oferece ao Brasil mais uma oportunidade de assumir um papel central na economia global, sendo um destino privilegiado de investimentos, por causa de sua matriz energética muito mais descarbonizada do que da maior parte das grandes potências, os sabotadores internos da prosperidade nacional, novamente veem a tona, arrancam as suas máscaras e se manifestam publicamente, não apenas contra a retomada do projeto desenvolvimentista, que tentaram de toda forma por fim, com o golpe de Estado de 2016, com o impeachment fraudulento da presidente Dilma, com o apoio irrestrito a Operação Lava Jato, a utilização mais desabrida e criminosa do poder Judiciário para destruir o Partido dos Trabalhadores e prender a sua principal liderança, mas também contra a adoção de uma nova política industrial, de uma reindustrialização do país.
O lançamento da política industrial mereceu da parte dos jornalões do Partido da Imprensa Golpista, como os chamava o jornalista Paulo Henrique Amorim, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo editoriais orquestrados e uníssonos contra a sua implementação, chamando-a de mais do mesmo, tentativa de repetir o que não deu certo. Aferrados a um neoliberalismo que fracassou em toda parte do mundo, que só causou mais pobreza, concentração de riqueza, desmantelamento da própria base industrial de muitos países, como foi o caso do Brasil, onde a indústria, já chegou a representar mais de trinta por cento do PIB e hoje representa pouco mais de doze por cento, os jornalões que são porta-vozes daqueles que os financia, o mercado financeiro, o rentismo e os interesses externos, abriram suas páginas para que os especialistas amestrados dos interesses imperialistas e colonialistas viessem criticar a participação direta do Estado no financiamento e indução da economia nacional. A tentativa de destruir a Petrobras, de privatizá-la, tornando-a, inicialmente, uma mera produtora de petróleo cru, e importadora de combustíveis, foi o principal motivo da realização da Operação Lava Jato, o impeachment da presidenta Dilma e a prisão do presidente Lula.
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O forte discurso que Lula fez em Ipojuca, relembrado seu calvário jurídico-político-midiático, denunciando o conluio daquela operação judicial com interesses americanos, das empresas petrolíferas estrangeiras, querendo se apossar do petróleo do pré-sal e dos próprios ativos da Petrobrás, adquiridos com o suor do povo brasileiro e construídos com a inteligência nacional, foi chamado de fake-news pelos colunistas que estiverem atolados até o pescoço na defesa daquela operação judicial, que eram meros repassadores do que o juiz Sérgio Moro e os procuradores queriam que circulasse na imprensa, cheios de ódio por terem sido pegos de calças curtas como assessores de imprensa de uma das mais corruptas operações judiciais já realizadas no país, em nome do combate a corrupção. Como eternos representantes dos interesses americanos no país, do imperialismo e da hegemonia americanos, que vive uma enorme crise, esses ditos colunistas ficaram indignados ao perceberem que sua principal vítima sabe muito bem o que estava por trás do processo de tentativa de desmoralização e destruição política e pessoal que sofreu.
Além dos interesses internacionais, das empresas multinacionais interessadas em dominarem o mercado brasileiro, produzindo, de preferência, fora daqui, já que a aplicação do receituário neoliberal, notadamente por um governo incompetente e sem projeto como o anterior, desorganizou não só o mercado de consumo mas o reduziu drasticamente, com o crescimento da pobreza e o declínio do poder de compra e da massa salarial no país (a saída da Ford do país, durante o governo Bolsonaro, aprofundando a desindustrialização, mostra bem onde é que vai dar a política econômica defendida em editoriais pela imprensa inimiga do país e pelos chamados especialistas porta-vozes da entidade chamada mercado, que não tem rosto, nem fede e nem cheira), dos porta-vozes de sempre, na imprensa e fora dela, uma parte do agronegócio, do capital agrário se opõe a que o governo, que o Estado invista na indústria, na reindustrialização.
Com uma visão míope, que só enxerga a disputa por recurso do tesouro através do financiamento do chamado plano safra, setores do agronegócio e aqueles que o representa no parlamento e na imprensa, se colocaram contra a nova política industrial, quando poderiam ser um dos setores beneficiados, com a redução do custo da compra de máquinas e implementos agrícolas, se elas fossem produzidas no país e se, ao invés de exportar seus produtos in natura, o fizesse já industrialmente transformados. Aliás, uma das áreas prioritárias prevista na nova política industrial é, justamente, aquela que se destina a agregar valor a produção agropecuária brasileira, liberando o país de importar produtos que são resultado do beneficiamento de produtos que exportamos sem qualquer beneficiamento, como matéria-prima.
A extrema-direita logo embarcou na gritaria contra a nova política industrial. O Brasil, nesse aspecto é inovador, pois conta com uma extrema-direita que é profundamente autoritária do ponto de vista político, que sonha com a implantação de uma ditadura, mas que, ao mesmo tempo, seria liberal do ponto de vista econômico, o que só desmarcara o fato de que para se aplicar o receituário neoliberal em toda a sua extensão e radicalidade teríamos que estar sob a égide de um regime ditatorial, tais as consequências nefastas que ele traz para a maioria da população, levando a ameaça de levantes sociais. Vejamos o que está ocorrendo, em tão pouco tempo, na Argentina de Javier Milei, seu programa ultraliberal enfrenta a rejeição e a reação imediata da sociedade argentina, e torna-se cada vez mais nítido que seu programa econômico só será aplicado se ele implantar uma ditadura no país, na direção da qual já deu vários passos.
Muitos, por mera tática eleitoral, afinal esse ano tem eleições municipais, embarcaram na onda criada pelos defensores do capital financeiro, aqueles que não querem saber de investimento produtivo, que odeiam a existência de bancos públicos, que financiem a juros baixos a atividade produtiva, que torne claro para a sociedade que, no atual estágio do capitalismo, a finalidade inicial do setor financeiro foi totalmente distorcido, levando as próprias crises periódicas do próprio capitalismo, transformado em um modo de produção que cada vez mais abre mão da atividade produtiva, do investimento em atividades que utilizem o trabalho humano, aquele que unicamente produz valor. A ciranda financeira, onde dinheiro pare dinheiro, sem que nada de produtivo seja efetivado, sem que seja necessário uso do trabalho e a produção correspondente de valor, produz um capitalismo doente e decadente.
A famosa Faria Lima, a meca do rentismo, vê com pavor o governo Lula recuperar o papel do BNDES na indução do crescimento econômico nacional, banco que havia sido totalmente desvirtuado em suas funções após o golpe de 2016 e que estava inscrito na lista de privatizações. Os inimigos do BNDES, dos bancos públicos, como o Banco do Nordeste, que se volta para o financiamento da média e pequena empresa, e passa agora a ter uma robusta carteira de microcrédito, voltado para microempreendedor individual, são inimigos do Brasil e do Nordeste. São forças que atuam como verdadeiros cavalos de Troia, o famoso cavalo com que os gregos presentearam os troianos, que não sabendo que no interior do cavalo de madeira estava o exercito grego, o introduziu na cidade, abrindo os portões e dando acesso ao interior dos muros que protegiam a cidade do cerco do inimigo. Assim como o cavalo de Troia essas forças trabalham no interior do próprio país para sabotar o desenvolvimento autônomo nacional, sendo beneficiados e regiamente financiados para isso. Foi muito importante ver o presidente da Confederação Nacional da Indústria, o empresário baiano Ricardo Alban, sair em defesa da nova política industrial, na elaboração da qual teve importante participação. O economista baiano, professor universitário, Rafael Luchesi, que ocupa o cargo de Diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia, do CNI, que participou ativamente da elaboração da proposta de política industrial - elaboração que foi coordenada pelo vice-presidente da República e Ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que no passado, enquanto era um tucano, era incensado por essa mesma imprensa que agora abre as baterias contra ele – disse que os críticos da política industrial ou estavam mal informados, falando de uma proposta que não haviam se dado ao trabalho de lerem, ou eram ignorantes, que não entendiam do que estavam falando ou se manifestavam por pura má fé, atacando a proposta por ser contrárias as suas convicções que chamou de “liberais”, ou por ferir interesses outros não confessados e explicitados.
Foi interessante ver um membro da diretoria do órgão que representa os industriais no país, aqueles de verdade, que possuem fábricas, e não aqueles que já venderam suas empresas e se tornaram rentistas, jogando seus recursos no mercado de capitais, mostrar a ignorância em matéria de história do país, daqueles que afirmam que a indução estatal ao desenvolvimento industrial do país se trata de um fracasso que se quer repetir. Ele lembrou que o Brasil, graças a política desenvolvimentista implantada, no pós-trinta, pelo governo de Getúlio Vargas - uma política que dava a indução do Estado e, inclusive, ao investimento direto do Estado no setor, uma centralidade -, foi o país que mais cresceu industrialmente até os anos oitenta, do século XX, quando a adoção do receituário neoliberal, desde que esses mesmos que fazem oposição ao governo Lula patrocinaram a ascensão de Fernando Collor e seu neoliberalismo ao poder, levou ao inicio do processo de desindustrialização do país, acompanhado de uma dependência cada vez maior das finanças do país do setor exportador de matérias-primas minerais e produtos primários. No início dos anos oitenta o PIB industrial brasileiro era maior do que os PIBs industriais da China e da Coreia do Sul juntos. Hoje, só a China, graças a uma agressiva política de industrialização financiada pelo Estado possui um PIB industrial que é vinte e cinco vezes maior do que o do Brasil. O que os Estados Unidos nunca quis e não quer ver é o Brasil repetir a trajetória da China, é desenvolver todas as suas potencialidades, que o levaria a se tornar um seu rival na própria América, para isso ele conta com aliados internos ao nosso país, com grupos empresariais, com setores econômicos, com lobbies midiáticos, que se colocam a seu serviço, sendo regiamente recompensados por isso.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.