Gal Costa, 'hoje tenho apenas uma pedra em meu peito'

Fecho os olhos e vejo Gal Costa. Revolucionária. Transgressora. Apaixonante e apaixonada

Legenda: E, hoje, logo que vi o anúncio da morte de Gal Costa, a mulher nordestina que transpôs territórios, com corpo, voz e ideias, instalou-se em meu peito uma bagunça de sentimentos
Foto: Reprodução/Instagram Gal Costa

Guardo no peito, e em casa, uma playlist com músicas variadas de amor. Muito amor. Grandes amores, de todos e tantos tipos. No meio dessa lista, volto sempre a uma canção, que quero ouvir vendo seu vídeo. Nele, Gal Costa aparece linda, livre e plena, cantando – e certamente amando – ao lado de Chico Buarque, há décadas. 

"Samba do grande amor" é o nome da composição, de autoria dele, interpretada junto dela. E, hoje, logo que vi o anúncio da morte de Gal Costa, a mulher nordestina que transpôs territórios, com corpo, voz e ideias, instalou-se em meu peito uma bagunça de sentimentos, inclusive aquela sensação de pedra que se acumula quando a vida dá sinais de aflição. 

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Pensei em sua partida, lembrei de sua voz cortante, e das vezes em que sua música me marcou na vida. Me apaixonou. Acalentei corpo com respiro lento, e alma com a memória que tenho de Gal revirando os olhos enquanto entoa "Samba do grande amor". Alívio! A lembrança de Gal Costa me faz sorrir. E amar a minha própria história. 

O que mais gosto no vídeo da música é o fato de que Gal canta não apenas com a voz. Ela abusa dos seus olhos de paquera, seus ombros esfuziantes e os cabelos esvoaçantes. Atrevida. Uma perfeita combinação de elementos que ajudam a formar a imagem provocante e libertária da cantora de nossas almas. Nossos mundos. E amores. Tenho gravado na mente seu sorriso largo, seu rebolado elegante de sedução, de para sempre. 

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Fecho os olhos e vejo Gal Costa. Revolucionária. Transgressora. Apaixonante e apaixonada. Com aquela voz que ainda liberta-se feito furacão e explode em nossos corações e ouvidos. Escorre pelos olhos toda a sensação de estar dentro da sua voz, que de tão profunda, tanto nos atravessa. Nos deixa marcas. Nos leva embora de fora do mundo para dentro de nós. 

Hoje, assim como cantou Gal, junto a Chico, também "tenho apenas uma pedra em meu peito". Apesar disso, não quero guardar a sensação de dureza sobre a qual canta uns de seus versos, prefiro as estrofes que falam de "amor", "reza", "flor" e das constantes "risadas" sobre ter e ser um "grande amor".  

Gal Costa transpassou muitas histórias de gente, de vidas, e mudou mundos com sua postura de charme, inteligência e revolução. Disso não tenho dúvida, tanto que, de tanto acreditar, eu também, como diz a canção, "botava a mão no fogo, então. Com meu coração de fiador".

 
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