Portugal é o 5º melhor país da OCDE para mulheres trabalharem; brasileiras têm espaço na tecnologia

O ranking anual da revista The Economist que avalia os índices dos países da OCDE com relação ao papel e influência das mulheres na força de trabalho foi divulgado na segunda-feira (7)

Legenda: Lei portuguesa determina cota de 33,3% para mulheres em cargos de chefia de empresas públicas e de privadas com ações na bolsa
Foto: Shutterstock

Em linhas gerais, o cenário ficou menos favorável nos 29 países que formam a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas Portugal vem dando saltos que chamam a atenção. Sendo um forte destino para a emigração brasileira, vale analisar. O país saiu da 12ª posição em 2016 para a 5ª atualmente, atrás apenas dos imbatíveis nórdicos Suécia, Islândia, Finlândia e Noruega - que se revezam, ano a ano, entre as quatro primeiras posições.

A Economist leva em conta dez métricas para calcular a performance dos países. Portugal foi bem no cenário do acesso das mulheres à educação e participação geral no mercado de trabalho, mas ficou na média do grupo no quesito da disparidade salarial entre gêneros.

Quando o assunto é maternidade, o país tem baixo custo com cuidados infantis, mas paga pouco pela licença quando chega um bebê.

E é importante situar as métricas relacionadas à maternidade: o Japão e a Coreia do Sul, onde as mulheres ainda têm que optar ou pela carreira ou pela família, ocupam as duas últimas posições no ranking da revista.

Mulheres no evento Women in Tech
Legenda: Evento “Women in Tech” - mulheres na tecnologia, em Lisboa, levantou questões que se relacionam aos indicadores da revista The Economist, como acesso à educação, suporte familiar e disparidade salarial
Foto: Caroline Ribeiro

Mulheres na Tecnologia

No mesmo dia em que os números foram divulgados, um evento em Lisboa de um braço do Web Summit, o “Women in Tech” - mulheres na tecnologia, levantou muitas questões que se relacionam aos indicadores da Economist, como acesso à educação, suporte familiar e disparidade salarial.

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Mas um dos pontos mais frisados pelas participantes foi com relação à “falácia da meritocracia”, como disse Catarina Peyroteo, diretora de comunicação global e marca na Defined.ai (que caminha para se tornar o próximo unicórnio português e foi fundada por uma mulher), e a necessidade de cotas para mulheres.

“Estou completamente convicta de que sem cotas, sem essa lei, era impossível, as mulheres não chegariam lá”, disse Vanda de Jesus, diretora-executiva do Portugal Digital, programa do governo para as ações de capacitação e transição digital.

Vanda se referia à lei portuguesa que determina a cota de 33,3% para mulheres em cargos de chefia de empresas públicas e de privadas com ações na bolsa. A executiva analisa que essa pode ser a chance para as profissionais brasileiras, pela carência de mão de obra.

“Só para responder às exigências das cotas, não temos mulheres suficientes, nem em idade, nem em formação ou com preparação para assumir as posições. A quantidade de pessoas que nós precisamos em Portugal e na Europa para resolver as necessidades do Plano de Recuperação e Resiliência e do que temos identificado das necessidades de tecnologia, não temos mercado suficiente, precisamos mesmo de equipes do resto do mundo e o Brasil é pra nós o mais natural, porque, falando a nossa língua, tem uma afinidade cultural muito grande”, diz Vanda.

Desafios

Que fique claro que não são tudo flores. Em um brevíssimo resumo, a burocracia portuguesa pode massacrar uma profissional estrangeira, a falta de oportunidade na sua área de formação pode obrigar a mudanças drásticas, que geram insatisfação e pouco rendimento, e o país tem, sim, questões identitárias a resolver com a imigração.

Mas é um sinal bastante positivo ver índices internacionais melhorando, aliados às análises de mulheres em posição de liderança que já conseguem identificar barreiras e orientar mudanças.

Já que nenhuma de nós precisa de um buquê para comemorar o dia internacional da mulher, que venha Portugal - ou o mundo - a desbravar.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.