É possível gerar desenvolvimento econômico a partir dos produtos que a biodiversidade oferece sem destruí-la? Sim, e o nome desse modelo de produção é bioeconomia, conforme conceituou a economista e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Michele Lins Aracaty e Silva.
De acordo com a especialista, uma evidência desse crescimento qualificado é o chamado “efeito-açaí”. Isso porque o fruto originário da região amazônica migrou do campo para as cidades, agregando valor ao território e proporcionando emprego e renda a toda extensa cadeia produtiva.
Veja também
Para se ter ideia, segundo estudo feito pelo instituto de pesquisa WRI Brasil, a bioeconomia brasileira já contabiliza um Produto Interno Bruto (Pib) de R$12 bilhões, resultado superior ao que os indicadores oficiais demonstram. Com investimentos adicionais, esse número saltaria para pelo menos R$38,6 bilhões em 2050.
Consequentemente, seriam criados 833 mil empregos, que substituiriam os trabalhos atualmente associados à destruição da floresta amazônica. Além disso, o modelo econômico resultaria em desmatamento zero e na restauração de 24 milhões de hectares de áreas verdes, conforme a pesquisa.
“Devemos olhar para a Amazônia como a nossa bala de prata. Ela é a solução para os problemas do mundo”, ponderou Silva à coluna, durante o Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), nessa quarta-feira (9), em São Paulo.
Ela acrescenta ser necessário levar em conta as potencialidades regionais, a partir de um planejamento específico para cada uma das cinco zonas da Amazônia Legal (ver infográfico), que abrange nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
“Trata-se de uma bioeconomia amazônica, valorando os produtos da floresta por meio da bioprospecção, como ocorreu com o açaí. Hoje, em qualquer lugar do planeta, encontra-se o fruto porque a cadeia produtiva passou por esse processo. Por isso, chamamos de ‘efeito-açaí”, detalhou.
O mesmo fluxo de escala do produto poderia ser mutiplicado com as frutas camu-camu, acerola e cupuaçu para beneficiar as comunidades nativas, por exemplo.
“Precisamos reverter o processo por meio de um novo modelo de desenvolvimento regional endógeno, envolvendo as pessoas. Se não fizermos isso, continuarão buscando alternativas ilegais”, enfatizou.
Conforme a economista, no Brasil, algumas empresas já atuam nessa direção, como a Natura, que utiliza cosméticos provenientes da floresta. No entanto, apontou, casos isolados não conseguirão construir um novo sistema econômico, sendo imperativo unir sociedade, setor privado e público em prol desse projeto de País.
Durante o evento, o Luiz Lessa, CEO do Banco da Amazônia, endossou o coro: “A Amazônia é o nosso petróleo”.
Realizado por 76 especialistas de instituições científicas de diversas regiões brasileiras, o estudo da WRI Brasil calcula que o custo de transição para implementar a Nova Economia da Amazônia, como a instituição propõe, seria de 2,5 trilhões até 2050, ou 1,8% do PIB do País, a serem aplicados na Amazônia e no restante do Brasil.
O objetivo é restaurar áreas degradadas e criar produtos da floresta inovadores para a transição e “para fornecer serviços ecossistêmicos para os quais não há substitutos economicamente viáveis ou disponíveis em escala para atender às demandas produtivas, principalmente da agricultura e da pecuária”.
A 25ª edição do Congresso do IBGC ocorre nestes dias 8 e 9 de outubro, no WTC Events Center, em São Paulo.
*A repórter viajou a convite do Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa