Conceito capitalista sobre recurso natural empobrece e emburrece, diz economista Tania Bacelar

Legenda: No último dia 16, Tania participou da 54ª Reunião Anual da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), na sede do BNB, em Fortaleza
Foto: Divulgação BNB

Tragédias ambientais como a do Rio Grande do Sul demonstram a necessidade de repensar o modelo econômico atual de exploração dos recursos naturais, conforme avaliou a economista e socióloga Tania Bacelar. “Teremos de abalar o capitalismo”, brincou. 

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Segundo Bacelar, a lógica de desenvolvimento capitalista é concentradora por essência. “No meu primeiro ano estudando Economia, o conceito que me deram foi: a Economia precisa dos fatores de produção, sendo um deles os recursos naturais. Essa é uma visão estreita para um economista e também para um capitalista”, disse. 

Esse conceito de recurso natural empobrece, emburrece. Emburrece porque dificulta [olhar para a biodiversidade]. Como você analisa e contabiliza os impactos positivos, mas também os impactos negativos em outros elementos da natureza e não só naquele recurso da sua empresa, na região que está querendo explorar?”, questionou. 
Tania Bacelar
Especialista em desenvolvimento regional, economista, socióloga e professora aposentada da UFPE

Para Bacelar, ter o meio ambiente somente como fonte para gerar produção impede ampliar a perspectiva sobre biodiversidade para o crescimento sustentável. “Quando olho para o ecossistema, sou obrigada a ver os vários recursos que se combinam, interagem e se reproduzem num determinado local”, observou. 

Na avaliação da economista, as enchentes do Rio Grande do Sul colocarão o País na vitrine mundial e levantarão questionamentos sobre as escolhas de repetir ou não as atuais estruturas, incluindo as de moradias. 

“Dependendo de como fizermos, não é reproduzir aquele ambiente de antes, porque agora a dinâmica da natureza mudou e está mostrando que aquilo ali não é consistente”, analisou, frisando a necessidade de intensificar o debate sobre cidades.

“Onde colocaremos as pessoas acostumadas a morar nas cidades, onde há outros locais? E lá vem o capitalismo… E a propriedade privada do solo, como daremos conta dela?”, indagou.

Bacelar conversou com a coluna durante a 54ª Reunião Anual da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), na sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), em Fortaleza, em 16 de maio. 

Quem é Tania Bacelar

Legenda: Tânia Bacelar é mestre e doutora em Economia pela Universidade de Paris I Panthéon-Sorbonne)
Foto: Divulgação

Um dos principais nomes do desenvolvimento regional do Nordeste, a economista e socióloga pernambucana já foi diretora da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e secretária nacional de Políticas Regionais, além de ser professora aposentada e emérita da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

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