Só sua tataraneta viverá em um mundo de plena igualdade entre homens e mulheres; entenda

Levará 134 anos — cinco gerações — para as mulheres viverem em um mundo onde terão as mesmas oportunidades que os homens, segundo estudo do Fórum Econômico Mundial. Ou seja, a depender da sua idade, se você tem uma filha ou planeja ter, talvez precise aguardar a chegada da tataraneta para presenciar a plena igualdade de gênero se tornar uma realidade. 

Nesse contexto, além das políticas públicas, os negócios podem contribuir para quitar essa dívida histórica antes das próximas gerações. Segundo a co-fundadora da Think Eva, Maíra Liguori, o primeiro passo é apenas o cumprimento da legislação. 

Entre elas, a igualdade salarial, acolhimento e canais de denúncia para vítimas de assédio moral e sexual no mercado de trabalho e o afastamento de pelo menos 120 dias em caso do nascimento ou adoção do filho.

“Vemos empresas descumprindo a licença maternidade e a estabilidade durante os cinco meses seguintes. Do ponto de vista da compliance (conformidade com a lei), essas questões já estão dadas”, observa, lembrando que as medidas geram benefícios no curto e longo prazos para as companhias. 

“Essas leis postas valem para CLT, mas para as pessoas jurídicas (PJ) ou microempreendedoras (MEI) ainda temos um longo caminho para percorrer em termos de segurança porque a precarização ameaça os direitos das mulheres no mercado de trabalho”, diz.

No entanto, acrescenta, a promoção da equidade de gênero também demanda a adoção de práticas de ESG, sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança (Environmental, Social and Governance).

“São necessárias vagas afirmativas para mulheres e pessoas negras, algo ainda muito restrito no nosso mercado. As licenças maternidade e paternidade estendidas, que estão no contrato da Empresa Cidadã, não trazem custo nenhum por serem absorvidas pela seguridade social, mas muitos negócios não têm feito”, frisa.

Conforme Maíra, as empresas também podem incentivar as lideranças femininas, sobretudo de pessoas negras, pensar em jornadas flexíveis, apoiar com creches, espaços para a amamentação no retorno do trabalho e estabelecer políticas de conciliação de parentalidade. 

Retrato da desigualdade de gênero 

Segundo o Índice Global de Disparidade de Gênero 2024, do Fórum Econômico Mundial, estes são os 10 países que atingiram o maior percentual de igualdade entre homens e mulheres.   

  • Islândia (93,5%);
  • Finlândia (87,5%);
  • Noruega (87,5%);
  • Nova Zelândia (83,5%);
  • Suécia (81,6%);
  • Nicarágua (81,1%);
  • Alemanha (81,0%);
  • Namíbia (80,5%);
  • Irlanda (80,2%);
  • Espanha (79,7%).

O Brasil, contudo, amarga percentual de 71,6%, ficando na  70ª posição, em 2024. Apesar de estar distante do ideal, houve um leve declínio da desigualdade de gênero em relação ao ano anterior, quando a pontuação era de 72,6%.

Em relação ao fator de equidade econômica, o número é 66,7%, enquanto o de paridade em cargos de liderança é de 66,1%. Em relação à política, O Brasil acompanha a média global (22%). 

4 pontos que você precisa saber

O que é ESG?

ESG é a sigla, em inglês, para Ambiental, Social e Governança (Environmental, Social and Governance). O conjunto de práticas visa reduzir os impactos ambientais provocados pelas empresas e desenvolver um sistema econômico justo e transparente. Por isso, pode contribuir para a descarbonização da economia, termo usado para a redução da emissão de dióxido de carbono (CO₂), principal gás responsável pelo efeito estufa. ESG surgiu em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004, e também está atrelado aos Objetivos de Desenvolvimento da ONU.

Por que o ESG é importante para o consumidor?

O ESG é importante para toda a sociedade, considerando que o País é marcado por assimetrias socioeconômicas, herança do período colonial, escravista e de uma cultura patriarcal. Por isso, pode promover mudanças de equidade no mercado de trabalho, além de reduzir os impactos ambientais dos negócios, sobretudo em um contexto de crise climática. Compreender a importância da agenda ESG ajuda a tomar decisões de consumo baseadas em práticas ambientais e sociais, pressionando os negócios a se adequarem.

O que é a Agenda 2030?

A Agenda 2030 é um compromisso global firmado pelos 193 Estados-membro da ONU, com o objetivo de gerar desenvolvimento sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental, considerando as prioridades de países e localidades. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são parte da Agenda 2030

O que é o Acordo de Paris?

O Acordo de Paris é um pacto internacional voltado para conter o aquecimento global, aprovado como lei doméstica por 194 países e pela União Europeia, em 2015. Pelo tratado, a meta era manter o aquecimento abaixo de 2ºC e, na medida do possível, 1,5ºC.