Como estabelecer limites de telas para crianças e adolescentes?

Entenda os riscos do excesso de telas na infância e adolescência e veja dicas para atuar

“Grasi, o que faço para tirar meu filho das telas? Ele está cada vez mais isolado, rejeita o convite dos amigos, não quer mais nem sair de casa.”

Talvez esse seja um problema que atormenta a maioria das famílias de hoje em dia.

O controle do uso de telas, não é uma tarefa simples, já que esses aparelhos parecem ser tão indispensáveis para crianças e adolescentes. E não é difícil de entender, até nós adultos, estamos totalmente imersos nas mídias digitais. Vídeos, jogos, redes sociais, aplicativos, a indústria tecnológica investe bilhões todo ano para tornar esse universo cada vez mais atrativo.

O que torna uso de telas tão atrativo para crianças e adolescentes?

Sabemos que desde cedo, muitas crianças têm acesso a dispositivos eletrônicos como celulares, tablets e computadores, que oferecem acesso de maneira fácil e rápida, por meio dos quais podem se conectar com o mundo.

Essas telas oferecem uma conectividade que permite que as crianças e adolescentes se comuniquem com amigos e familiares, mostrem suas habilidades, descubram novos interesses e tenham acesso a um amplo mundo de possibilidades de aprendizado e entretenimento. A grande questão a ser discutida é o excesso dessa exposição.

Quando crianças e adolescentes utilizam as telas, seu cérebro libera dopamina, a mesma substância química que é ativada por uso de álcool e drogas. Quanto mais essa exposição acontece, com mais frequência os jovens precisarão “consumir” as telas em busca da sensação de prazer que tinham anteriormente.

Esse uso abusivo, gera dependência, o que pode levar ao vício, eliminando outras opções de lazer e atividades físicas que são importantes para a saúde.

Além do mais, o uso excessivo de eletrônicos, prejudica as crianças e adolescentes em múltiplas áreas da sua vida. Pode gerar transtornos mentais e emocionais, isolamento social, déficit de atenção, baixo rendimento escolar, traz prejuízos nas habilidades socioemocionais, como capacidade de comunicação, empatia, autoestima, ocasionando diversos danos para a saúde.

Outra preocupação importante se refere ao conteúdo ao qual os jovens estão expostos. Conteúdos de sexualização, violência, culto a padrões de beleza. Que os levam a ter como referência as atitudes de “youtubers” e “tiktokers”,como modelo de condutas a seguir, e muitas vezes incentivam o consumo exacerbado, adultização precoce e comportamentos inadequadas.

Como sempre pontuo, o cérebro dos jovens ainda não está totalmente maduro, o que não os permite a elaborar, filtrar e julgar esses conteúdos de maneira saudável. Em consequência os deixam suscetíveis e vulneráveis a situações de risco como abusos e bullying digital.

Ademais, os danos causados pelo uso abusivo de telas não são somente psicológicos e sociais, especialistas das mais diversas áreas chamam a atenção para os riscos a saúde. Dentre eles:

Problemas na visão como cansaço visual, dificuldade de foco e até mesmo contribuir para aumento de casos de miopia;

Distúrbio do sono - causando insônia, agitação e dificuldade de concentração no dia seguinte. Estudos comprovam que a exposição à luz azul, especialmente à noite inibe a liberação do hormônio melatonina, que é responsável pela indução do sono;

Atraso no desenvolvimento – Como passam muito tempo sentados e se movimentam menos, crianças e adolescentes podem ter atraso no desenvolvimento motor e cognitivo;

Sedentarismo - O uso prolongado de telas pode levar à inatividade física, o que pode resultar em problemas de saúde como obesidade, pressão alta e diabetes;

Prejudica a saúde de pele - Sabiam disso? Estudos apontam que a luz azul emitida pelas telas, pode danificar as células da pele, aumentando o risco de rugas e machas precoces.

Diante de tantos riscos a saúde e respondendo a pergunta inicial. O que a família pode fazer?

A principal missão dos adultos é conduzir os filhos a evitar os excessos a exposição. É óbvio que não podemos evitar em sua totalidade, pois as telas fazem parte da vida. Porém o exagero é o que é prejudicial.

Sei que é difícil seguir as recomendações dos especialistas. Algumas famílias dizem que é quase impossível. Mas podemos utilizá-los como uma referência, um guia.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, deve ser evitada totalmente, mesmo que de maneira passiva, a exposição de telas para crianças até 2 anos de idade; de 2 a 5 anos a orientação é limitar em até uma hora por dia; de 6 a 10 anos, até duas horas por dia; e de 11 a 18, em até três horas, considerando também os videogames.

Sabemos que principalmente na adolescência é difícil alcançar essa meta. Por isso as famílias não devem se culpar se não conseguir, no entanto, é necessário ter esses dados como norteador para os combinados e acordos.

Estratégias para diminuir o uso excessivo:

  1.  Estabeleça limites diários e semanais para o tempo de tela dos seus filhos. Defina limites razoáveis e consistentes e certifique-se de que eles os compreendam. Esses limites podem ser construídos junto com as crianças e adolescentes. É importante apresentá-los os prejuízos do uso em excesso e se utilizar de várias estratégias lúdicas para ajudar nessa administração do tempo. Devem ser feito combinados, quadros, contratos, desafios em família, tudo com a participação ativa dos filhos.
     
  2. Incentive atividades alternativas, como jogos de tabuleiro, esportes, leitura ou atividades artísticas e criativas.
     
  3. Aumente a conexão com a natureza, faça passeios pelo campo, praia, montanhas, crie o hábito de observar a natureza, esse contato ajuda na criação de novas ligações neuronais, ajudando a diminuir a dependência das telas. 
     
  4. Defina uma rotina para a hora do sono. Reduza o tempo de tela antes de dormir para ajudar seus filhos a se acalmar e ter um sono tranquilo. O ideal é retirar as telas pelo menos 1 hora antes de dormir e que o celular seja carregado longe da cama.
     
  5. Não permita que dispositivos eletrônicos sejam usados durante as refeições, interações familiares e atividades sociais.
     
  6. Monitore o comportamento online dos seus filhos. Existem alguns aplicativos que ajudam nesse processo. Porém converse com eles sobre o que estão vendo e certifique-se de que entendam o que é apropriado e seguro.
     
  7.  Estabeleça regras claras sobre o uso de dispositivos eletrônicos em locais públicos, como restaurantes e lojas.
     
  8. E principalmente, seja um modelo de uso responsável de dispositivos eletrônicos para seus filhos. Limite o tempo que você passa em telas e demonstre outras formas de se divertir e se conectar com sua família.

Éimportante pontuar que a mídia eletrônica não é intrinsecamente prejudicial, e que os benefícios do seu uso em moderação, podem incluir estimulação cognitiva, acesso a um mundo de informações, dentre outros benefícios . Porém, o limiar entre o uso saudável e o excesso dessas telas está cada vez mais tênue e ignorarmos essa questão traz riscos para os nossos filhos.

Tratar desse uso abusivo é responsabilidade não só das famílias ,precisamos levar essa discussão e conscientização também para as escolas. Deve ser uma questão de saúde pública, um compromisso também do estado, das empresas de tecnologia e da sociedade como um todo.