Banco Central estuda fim do rotativo do cartão de crédito; será o fim da modalidade?

Será que presenciaremos o fim do cartão de crédito no Brasil? De forma recorrente, em minha coluna no Diário do Nordeste, alertamos para os perigos e cuidados que devemos ter no uso do cartão de crédito.

Falamos sobre o fato do cartão de crédito poder ser um aliado e também um vilão, dependendo da forma como você o utiliza. Mas percebemos, também, que ele tem sido responsável por nada mais que 80 milhões de brasileiros endividados. Isso mesmo, nós utilizamos o cartão de crédito de forma indiscriminada.

Compramos arroz, feijão, roupas, sapatos e até Uber pelo cartão de crédito. Esse não é o problema. O problema está em não conseguirmos pagar a fatura que vem com todas as compras e parcelas que nem lembrávamos mais. Sim, mais uma vez, nosso comportamento determina nossa vida financeira.

Mas qual a novidade, então? 

A novidade está em que, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou no dia 10 de agosto que a instituição está estudando o fim do crédito rotativo de cartão de crédito. Essa modalidade de crédito é uma das mais caras do mercado, com juros que chegaram a 437,3% ao ano em junho. Campos Neto participou de uma sessão plenária no Senado Federal para explicar as decisões de política monetária e estabilidade financeira adotadas pelo BC no semestre anterior.

O crédito rotativo é concedido ao consumidor quando ele paga um valor menor que o total da fatura do cartão e dura por 30 dias. Após esse período, as instituições financeiras parcelam a dívida. No caso do cartão de crédito parcelado, os juros ficaram em 196,1% ao ano em junho.

Campos Neto afirmou que o Banco Central apresentará uma solução para o "grande problema" que é o cartão de crédito em até 90 dias. A solução que está sendo considerada é o fim do crédito rotativo e a transição direta para o parcelamento, com uma taxa de juros em torno de 9% ao mês.

Assim, caso seja aprovado o novo método, quando você utilizar o cartão de crédito e vier a fatura de R$ 1.100,00, por exemplo, você não poderá mais pagar o “mínimo” e sua fatura, em caso de inadimplência, irá direto para um parcelamento automático, cujos juros propostos são cerca de 9% ao mês, em contrapartida, aos 36% ao mês em média cobrados atualmente.

Não foram definidas, ainda, algumas regras como a continuidade do uso do cartão com parcelamento, nem o número de parcelas possível para pagamento. Mas é uma luz no fim do túnel da dívida do cartão.

Outro aspecto relevante que está em discussão é a redução do número de parcelas sem juros nos cartões de crédito. Segundo o presidente do BC, uma das razões pelas quais as taxas de juros do cartão de crédito são tão elevadas é devido à grande utilização do parcelamento de compras em prazos mais longos. Isso aumenta o risco de crédito para as instituições financeiras e, consequentemente, eleva as taxas de juros. No Brasil, a média está em 13 parcelas sem juros, o que aumenta o risco bancário.

Com este risco alto, é difícil para os bancos reduzirem a taxa de juros do crédito no cartão, o que seria uma das tentativas do Banco Central, já que hoje, não existe teto de cobrança de juros determinada para as instituições.

Ocorre que os reflexos da redução de juros, na Economia, são significativos. O Brasil registrou um grande aumento no número de cartões de crédito nos últimos anos, juntamente com facilidades de crédito, o que contribuiu para o aumento da inadimplência nessa modalidade. 

De acordo com o presidente do BC, Campos Neto, "os bancos, novos entrantes e varejistas acabaram usando o cartão de crédito como um instrumento de fidelizar o cliente". Em um período de dois anos e meio, o número de cartões de crédito aumentou de pouco mais de cem milhões para 215 milhões, o que representa um aumento significativo.

Como resultado desse aumento, a inadimplência no crédito rotativo atingiu 52%, uma taxa sem paralelo em qualquer outro lugar do mundo. 

Uma solução proposta para esse problema é simplesmente limitar as taxas de juros do cartão de crédito, mas o presidente do BC afirma que isso poderia levar à retirada dos cartões de circulação. "Para pessoas com maior risco, os bancos não ofereceriam aquele cartão, devido a uma relação de risco e retorno ineficiente", explicou ele. Limitar o número de cartões também poderia ter um efeito significativo no consumo e no varejo, cujo desfecho é incerto.

Assim, percebemos quanto é importante o cartão de crédito não só para os consumidores como para os próprios bancos. Mas vale a pena tentar-se uma relação equilibrada entre ambos e não esta relação de juros abusivos que temos no Brasil. Fiquem atentos.

Pensem nisso! Até a próxima.

@anima.consult
Economista, Consultora, Professora e Palestrante

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.