O inverno das criptomoedas chegou e parece distante de ir embora. Apesar de alguns resultados positivos nos últimos dias, o ano de 2022 é de perdas para a principal cripto, o Bitcoin, que tem performance negativa superior a 50%.
Na semana passada, no texto Bitcoin: a cripto e a cripta explicitei algumas das razões para a queda do Bitcoin, em que destaco as dificuldades inerentes ao próprio mercado dos criptoativos e o aperto monetário promovido pelos Bancos Centrais.
Adicionalmente, chamo atenção para um fato: o Bitcoin tem uma nova configuração como ativo.
De maneira a jogar luz sobre as trevas que pairam sob o Bitcoin, que tal um pouco de ciência financeira? Por meio de duas métricas em finanças, a correlação e o indicador de risco sistemático (beta), apresentarei essa nova “configuração” do Bitcoin como ativo.
Para os cálculos e parametrização mais robusta, utilizei as performances semanais (em dólar) do Bitcoin e do S&P500*.
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A correlação entre ativos apresenta oscilação no intervalo de -1 a +1. Quando o cálculo de correlação estiver em direção a -1, os ativos possuem caminhos opostos, ou seja, um ativo sobe, e outro, deve cair.
Por outro lado, quando a correlação é mais próxima de +1, os ativos possuem caminhos similares, em que um ativo sobe, e o outro, também apresentam resultado positivo. Contudo, quando o ativo cai, o outro, por ter correlação +1, também cai.
Um dos principais argumentos para inserir o Bitcoin nas carteiras dos investidores consistia na estratégia de descorrelação de ativos. Quem conhece o cálculo de risco de carteiras, sabe dos efeitos benéficos da inclusão de ativos que apresentam correlação nula ou negativa.
Antes da pandemia, de 2012 a janeiro de 2020, a correlação do Bitcoin com o S&P500 era de 0,0 (zero), portanto, de correlação nula, o que tinha interessantes resultados na mitigação de riscos nas carteiras de investimentos.
Em razão da forte injeção de liquidez no mundo e do maior apetite dos investidores em ativos para investir, o Bitcoin foi um dos ativos mais buscados. Entretanto, o Bitcoin se transformou nesses últimos dois anos, de forma que desde o início da pandemia a principal criptomoeda e o S&P500 agora tem correlação de 0,3. Ou seja, começou a trilhar o caminho de maior aderência aos movimentos do mercado.
Quando avaliamos somente 2022, o Bitcoin e o S&P500, a correlação já alcança 0,6, e caminha fortemente para a correlação perfeita, +1. Assim, a magia da descorrelação do Bitcoin com o mercado parece deixar de existir.
O risco sistemático, conhecido como Beta, busca medir a sensibilidade de um ativo em relação a uma carteira de mercado. De forma bem simples, este indicador buscar mensurar como um ativo se comporta em relação ao mercado em termos de volatilidade.
O beta de referência é 1, que é o do mercado. Quando um ativo tem beta menor que 1, significa que tem menor oscilação que o mercado. E quando o beta do ativo é maior 1, apresenta maior volatilidade que o mercado, e portanto, maior risco. E vale dizer que quanto maior que 1, mais sensibilidade (risco) esse ativo tem em relação ao mercado.
Nos cálculos realizados do risco sistemático do Bitcoin, utilizando o S&P500 como a referência, o beta foi de 0,4 no período pré-pandemia (2012 a janeiro de 2020). Contudo, após a pandemia de covid, o indicador passou a subir forte, e somente em 2022, o Beta do Bitcoin já alcança 1,9. Portanto, o Bitcoin passou a ter alta sensibilidade (quase o dobro) dos movimentos de mercados.
A conclusão que chegamos é que o Bitcoin se transformou de forma rápida, passando a ser fortemente correlacionado com o mercado e altamente sensível à volatilidade do mercado de ações.
Caro leitor, saiba que a jornada de investimentos em criptomoedas se tornou altamente desafiadora. Antes de tomar qualquer movimentação, seja de entrada ou de venda, procure suporte de profissionais do mercado, para lhe ajudar a tomar a melhor decisão com base no seu perfil de investidor, objetivos e prazo de utilização dos recursos.
Grande abraço e até a próxima semana!
*Não usei o índice Nasdaq por entender que o S&P500 possui maior robustez estatística para ser o benchmark de mercado.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.