Desarranjos políticos e seus efeitos para a cidade de Fortaleza

As decisões tomadas dificultam o funcionamento dos serviços básicos e vão longe do que realmente os cidadãos almejam de seus líderes políticos

Legenda: A cidade de Fortaleza é a principal aglomeração urbana, econômica e populacional do Estado
Foto: Fabiane de Paula

Divergências e disputas discursivas-ideológicas fazem parte do jogo político. Elas entram nas estratégias dos partidos e dos políticos geralmente para demarcar posições e servem para autodiferenciação em períodos eleitorais. O que chamo aqui de desarranjo político refere-se às situações onde os atuais governantes entram em querelas pequenas, mal resolvidas e cujos desdobramentos só tem a prejudicar a gestão e o planejamento da cidade.

Em Fortaleza, os desarranjos estão cada vez mais comuns. As decisões tomadas dificultam o funcionamento dos serviços básicos e vão longe do que realmente os cidadãos almejam de seus líderes políticos. Eu posso citar três situações claras nas quais a condução político-social foi ou é desastrosa: a instituição da Taxa do Lixo, as lacunas no momento de revisão do Plano Diretor e as batidas de cabeça entre o gestor municipal e o gestor estadual.

No caso da Taxa do Lixo, depois dos vaivéns jurídicos, ficou definido que a taxação é constitucional e a gestão municipal está amparada. Contudo, os efeitos da cobrança ainda não foram socialmente digeridos, pois os argumentos que justificam a taxação foram mal construídos e superficialmente difundidos. 

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Questiono-me: por que a gestão municipal, antes das votações na Câmara de Vereadores, não explicou didaticamente como os novos recursos do contribuinte seriam utilizados? Faltou explicar a toda a população de Fortaleza os planos de educação ambiental e o cronograma de ações a serem desenvolvidas para tornar Fortaleza uma cidade mais limpa e bem cuidada.

A essas ausências aponto um indício de desarranjo político. Não haveria unanimidade jamais, mas tenho a impressão de que os efeitos seriam menos ruins do que os que observamos momentaneamente. A insatisfação com a Taxa é geral e a cidade continua suja.

O segundo caso diz respeito ao processo de revisão do Plano Diretor de Fortaleza que está em curso. As oficinas e seminários foram divulgados na página oficial e há chamados de entidades públicas e privadas interessadas na inserção de seus interesses no hall de prioridades do plano. Contudo, não observo um posicionamento claro do executivo municipal passando às limpas quais são os projetos de maior interesse do atual comando do Paço Municipal.

Para o cidadão e a cidadã comuns, é democrático compreender qual é a plataforma básica que o governo vai defender no momento de votação na Câmara. Quais são as linhas mestras do Zoneamento defendido? Quais serão os instrumentos urbanísticos regulados prioritariamente? Com que força entrará o tema da habitação de interesse social? A gestão municipal deve vir a público indicar o que defende, até para que haja o debate político.

O último entre os casos é a querela entre gestão estadual e gestão municipal sobre obras, ações e obrigações. De quem é a responsabilidade pela lentidão das obras na Ponte Metálica? Quem não fez o quê? Sinceramente, a cidade de Fortaleza tem problemas demais para perder tempo com esse show. Os gestores, como homens públicos, e para o bem da cidade, devem diferenciar seus objetivos políticos-eleitorais das suas obrigações enquanto representantes já eleitos.

A cidade de Fortaleza é a principal aglomeração urbana, econômica e populacional do Estado. Governador e Prefeito sabem disso. Assim, sentem-se, conversem e resolvam os problemas de milhões de cearenses. Isso é o que o povo da cidade almeja. Senhores, disputem politicamente fazendo mais e melhor, tomando a preferência pelos mais pobres. 

Se a democracia aqui e acolá é atingida e nossas cidades têm uma agenda enorme de dificuldades a suplantar, perder tempo com desarranjos políticos só serve para ampliar os discursos autoritários, apolíticos e supostamente fora do sistema. É bom abrir o olho!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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