Nos últimos meses, os fortalezenses foram “agraciados” com a majoração da tarifa do transporte público. Além disso, acrescentou-se, às obrigações anuais do cidadão, o pagamento da polêmica “taxa do lixo”. Partindo do pressuposto que os valores são justos e necessários, cabe perguntar: a qualidade do serviço prestado atende às expectativas da população?
Começo pelo transporte público. Como sou passageiro assíduo dos ônibus da nossa capital, tenho certa expertise. Se por um lado, o aplicativo “Meu ônibus” indica o horário aproximado da chegada do coletivo nos pontos de parada, por outro o conforto dentro dos veículos não é característica usual.
Raríssimos são aqueles nos quais a climatização está disponível, mesmo com as promessas de retorno pós-pandemia. Em algumas linhas são postos a funcionar veículos antigos ainda menos confortáveis e barulhentos.
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Há também, na minha percepção, uma desarmonia na distribuição e frequência dos coletivos. No horário de pico os ônibus ficam lotados dando a impressão que existem menos do que a demanda exige. Nos outros momentos do dia, chega-se a esperar quase uma hora para apanhar o ônibus, o que nos leva a imaginar que menos ônibus circulam.
Estando a situação difícil, houve a genialidade de ampliar a altura da catraca. Já vi até matéria de jornal demonstrando o quanto essa medida é desagradável ao usuário. E de fato o é. Ao passar com qualquer bolsa ou mochila, o cidadão deve fazer verdadeiro contorcionismo ou malabarismo.
Sem força suficiente para erguer seus pertences à altura do obstáculo, pessoas passam dificuldade para atravessar a barreira. Se uma minoria pula a catraca, a maioria dos usuários não pode ser penalizada com mais esse desconforto. Que seja encontrada outra solução para os “pula-catraca”.
Mudando de assunto, sigo para outro serviço urbano essencial: a zeladoria urbana e a coleta dos resíduos sólidos. Assim como os demais fortalezenses, gostaria de me orgulhar em morar numa cidade bem limpinha, onde as calçadas servem para caminhar e não para acumular volumes de lixo, por isso paguei imediatamente o boleto da criticada taxa. Infelizmente, as minhas esperanças andam longe de serem concretizadas.
Até o momento, não vi nada de diferente em relação à limpeza dos espaços públicos. Paisagens marcadas pela sujeita crônica continuam tão descuidadas quanto antes. Os mesmos canteiros centrais e as calçadas permanecem, inadequadamente, repletas de sacos e toda espécie de resíduo. Não sei vocês, mas ainda não vi, na TV ou na prática, qualquer nova estratégia para mudar tal situação.
A Prefeitura de Fortaleza e as empresas contratadas para execução dos serviços precisam demonstrar com total transparência o que vem sendo feito de novidade com o dinheiro extra repassado pelos usuários aos cofres públicos municipais.
Depois da taxa, é inaceitável apenas culpar as pessoas sem educação (realmente existem) que depositam seus resíduos equivocadamente. Onde estão os planos de educação ambiental e comportamental? Onde estão as campanhas de massificação das boas práticas? Não há tempo a perder.
Em resumo, tomando os dois exemplos apresentados, posso concluir o quão grandemente é dispendioso morar na cidade de Fortaleza e o quanto os serviços são ruins. Tanto a passagem de ônibus como a taxa do lixo pesam no orçamento da classe “arremediada” e, principalmente, no bolso dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados.
Empresas concessionárias e o poder público local são corresponsáveis. Haja vista a lógica de mercado, se as empresas lucram, são obrigadas por lei a garantir, no mínimo, os direitos do consumidor. Por sua vez, a municipalidade deve fiscalizar com todo rigor as empresas e, mais que isso, planejar as políticas públicas e zelar pelo direito do cidadão e da cidadã. Isso não é favor, é obrigação constitucional.
Quem sabe, daqui a algum tempo, volto aqui para descrever um cenário diferente? É o que eu e todos os fortalezenses almejamos.
*Este texto reflete exclusivamente a opinião do autor.