O IBGE divulgou, semana passada, mais informações do último Censo. Desta vez, os dados tratam da composição etária da população. Não houve surpresa: no geral, a população brasileira continua a vivenciar transição demográfica com acentuado processo de envelhecimento, ou seja, os indivíduos com 65 anos ou mais tendem a aumentar sua participação na população nacional.
Dada a diversidade social do Brasil, também não nos admiramos ao constatar que os processos apresentam diferentes impactos e velocidades, a depender, principalmente, do contexto regional. A região Norte é marcada por idade mediana da população entre 28 e 33 anos, enquanto a região Sul entre 37 e 53 anos. Dentro das regiões, há, da mesma forma, disparidades. No Nordeste, o Sertão encontra médias de envelhecimento superiores às da zona costeira (Semiárida e da Zona da Mata). Diante dessas diferenças, como podemos explicar essa situação? Ao pensar os dados na escala dos municípios, algumas pistas são reveladas.
Veja também
A pesquisa censitária revela que existem zonas de concentração de cidades de jovens e de cidades de idosos. Chamamos de cidades de jovens aquelas onde a participação da população idosa (maior ou igual a 65 anos) não ultrapassa 25% do total de população entre 0 e 14 anos. As cidades de idosos são aquelas cujo índice de envelhecimento é igual ou superior aos 50%. As demais encontram-se em processo de transição. Nos estados do Amazonas e do Pará verifica-se maior número de cidades de jovens, por outro lado, no Rio Grande do Sul está localizado o maior conjunto de cidades envelhecidas.
A explicação mais corriqueira encontra-se nas taxas de natalidade e de longevidade. Se o número de nascimentos por família diminui, por consequência, no tempo, o número de jovens reduz. Se, na mesma população, as pessoas, em média, vivem mais tempo, lógico que mais idosos compõem aquele grupo social. O modo de vida urbano, por razões econômicas (elevação do custo de vida e a maior presença feminina no mercado de trabalho) e culturais (formações familiares diversas e elevação do número de anos de educação formal), explica as baixas nas taxas de fecundidade.
Não obstante, tais taxas não explicam todos os casos de cidades envelhecidas. Nesse sentido, há duas situações a considerar.
A primeira diz respeito às condições de debilidade econômica da cidade. Nesse caso, por não oferecerem postos de trabalho ou atividades econômicas rentáveis, os jovens tendem a migrar em direção às cidades com oferta de emprego e renda, como resultado da migração dos jovens e adultos, os idosos passam a ser numericamente superiores nas cidades de origem e os jovens superiores nas cidades de destino.
Contudo, há uma segunda possibilidade: cidades com urbanização consolidada e aptas a oferecer qualidade de vida aos seus habitantes, em especial, aos idosos e aposentados. Complementarmente, elas são capazes de atrair novos moradores com a mesma faixa etária. Não são incomuns os rankings a listar as melhores cidades para viver após a aposentadoria.
A predominância de jovens ou de idosos nas cidades aponta para demandas a serem consideradas por políticos e planejadores. Nas cidades de jovens, não há dúvida, que as demandas se voltam para a formação educacional/profissional e para as oportunidades do mercado de trabalho. No caso das cidades envelhecidas, além das condições econômicas, são necessárias adaptações no sistema de saúde, nas infraestruturas de mobilidade urbana e na incorporação dos idosos no planejamento da própria cidade.
Ratifico ainda que não há qualquer intenção em hierarquizar os dois modelos de predominância etária nas cidades. Cidades de jovens e cidades de idosos são peças do mesmo quebra cabeça social e, por isso, não concorrentes. Devem ser encaradas como fruto da dinâmica socioeconômica e territorial de uma sociedade em constante mudança.
Por fim, é sempre bom frisar que o envelhecimento nas cidades está longe de significar que todos os idosos vivam em situação socioeconômica semelhante. Ao destacar as necessidades de adaptação da cidade aos mais experientes há níveis de prioridade. Nestes termos, o Estado e suas políticas são indispensáveis para os idosos mais pobres.