Ontem, dia 1º de maio, foi comemorado o dia dos trabalhadores. A data é válida para discutir a situação da classe laboriosa nas cidades brasileiras, empregada ou não. Em um mundo pós-moderno, caracterizado por transformações intensas (econômicas e tecnológicas), os homens e mulheres trabalhadores defrontam-se com desafios quase insuperáveis para a manutenção dos postos de trabalho e, principalmente, da qualidade de vida.
Como está o Brasil? Os dados oficiais registram taxa de desemprego próxima a 12% e é recorde o número daqueles envolvidos em atividades laborais classificadas como informais. Além disso, a renda média do trabalho é uma das menores desde o ano de 2012.
A reestruturação produtiva, o avanço da financeirização e, atualmente, o uso crescente dos sistemas e redes informacionais induziram mudanças no mundo do trabalho, sobremaneira, a supressão estrutural de posto de trabalho na indústria e na agricultura modernas. Por outro lado, a chamada modernização dos processos dotou o setor terciário de maior relevância, porém sem garantias de empregabilidade ou salários justos.
Ao debater estas mudanças, geralmente, o discurso economicista acaba culpando os próprios trabalhadores ao dizer que o problema está neles, pois não são capazes de se prepararem; por não estudarem, ou por não dominarem as novas técnicas exigidas para ocupar os melhores cargos e obter maiores salários. Em contexto de estabilidade e justiça social, os argumentos até poderiam ser válidos, contudo como estudar se não há recursos para sobreviver? Como superar uma base educacional precária, geralmente, fruto de vulnerabilidades sociais históricas?
Do pensamento conservador surgem, também, as verdade absolutas: uma delas é a salvação pela reforma trabalhista. Como têm sido feitas, as chamadas reformas trabalhistas “flexibilizam” as relações, supostamente, a fim de dotar o trabalhador de mais liberdades e de oportunidades. No final, os trabalhadores ganham menos em relação ao que recebiam pelas mesmas horas trabalhadas de antes. Isso, quando há emprego. Quando não, são empurrados, às cegas, para a ilusão do empreendedorismo individual. Resultado: em poucos meses os microempreendedores individuais estão falidos, endividados ou ganhando menos que um salário mínimo.
Quem defende esta bandeira nunca entendeu de fato o processo de urbanização de países como o Brasil, e necessita, urgentemente, ler o livro Espaço Dividido, de Milton Santos, para entender a que corresponde o circuito inferior da economia.
O geógrafo, após estudar dezenas de cidades e países “subsdesenvolvidos”, chegou à seguinte conclusão: a informalidade, as fragilidades econômicas e a manutenção de relações arcaicas no mundo do trabalho em países pobres são subprodutos de processos de modernização conservadora e excludente. Em muitos casos, essa situação desigual serve de base para que o circuito superior da economia se aproveite de mão de obra não sindicalizada e miseravelmente paga.
Dizem popularmente que “o trabalho dignifica o homem (ou a mulher)”. Isso é falácia. O que de direito dignifica é o acesso aos valores justos, frutos das horas dedicadas às atividades laborais. Tomem como caso Fortaleza, repleta de exemplos de homens e mulheres envelhecidos (espremidos) por anos e anos de labuta, sem, porém, contar com as mínimas condições de existência. É urgente pensar novos paradigmas centrados na humanização da economia, do contrário, as cidades brasileiras continuarão como máquinas de moer trabalhadores e trabalhadoras.