Saudade é a presença da pessoa ausente

Apenas quem tem memória sente saudade. As memórias são poderosas, pois nos conectam com aqueles que amamos.

Escrito por
Adalberto Barreto producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 07:06)
Foto: Shutter

Esta forma poética que define a saudade é a essência do que é sentir saudade. Ela sugere que, mesmo quando alguém está fisicamente longe ou já não está mais presente em nossas vidas, sua memória e influência continuam a nos acompanhar. Há algo de eterno que a saudade resgata. Quando experimentamos saudade, carregamos a presença emocional dessa pessoa.

As lembranças, os momentos vividos e os sentimentos que cultivamos permanecem vivos em nossa mente e coração. Essa presença emocional pode ser reconfortante, quando nos conecta com o eterno, o imortal, mas também dolorosa, quando nos fixamos apenas na perda material e não vislumbramos o que experimentamos e nos trouxe conforto, proteção e segurança. 

Apenas quem tem memória sente saudade. As memórias são poderosas, pois nos conectam com aqueles que amamos. Elas podem ser evocadas por músicas, lugares ou cheiros, trazendo à tona vivências que nos fazem sentir como se a pessoa estivesse ali conosco, mesmo que apenas em espírito. Assim, a saudade se transforma em uma forma de manter essa conexão viva.

A ideia de que a saudade é a presença da pessoa ausente nos leva a refletir sobre a importância das relações em nossas vidas. Cada pessoa que entra em nossa trajetória deixa uma marca, e a saudade é uma maneira de reconhecer essa influência duradoura. Ela atesta que as conexões que formamos são significativas e moldam nossa identidade.

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Portanto, a saudade representa uma dualidade: é um reconhecimento da ausência material e uma celebração da presença que essa pessoa teve em nossas vidas. É um lembrete de que, embora alguém não esteja mais fisicamente presente, sua essência e os impactos que causou continuam vivos em nossas memórias. A frase “saudade é a presença da pessoa ausente” nos convida a refletir sobre a natureza de nossas relações e como a memória e o amor podem transcender a ausência física.

A saudade, então, se torna uma forma de honrar aqueles que amamos, mantendo suas memórias vivas enquanto navegamos por nossas próprias experiências emocionais.

Esse sentimento é complexo e multifacetado, permeando a experiência humana. Pode ser entendido como uma mistura de nostalgia, tristeza e desejo, manifestando-se de várias maneiras, dependendo do objeto da saudade. Aqui estão alguns tipos comuns:

  • Saudade de Pessoas:  

Esta é talvez a forma mais reconhecível de saudade. Ela surge quando alguém querido está distante, seja física ou emocionalmente. Essa saudade é frequentemente acompanhada por lembranças e momentos compartilhados, podendo ser intensa, especialmente em casos de perda, como a morte de um familiar. A recordação das risadas, a comida que a vovó preparava, e experiências vividas juntos podem provocar uma profunda nostalgia.

  • Saudade de Lugares:

Refere-se à nostalgia por ambientes significativos em nossas vidas, como a casa da infância, a casa de nossos avós, uma cidade onde vivemos momentos marcantes ou um espaço natural que traz boas lembranças. Esses lugares evocam sentimentos de conforto e pertencimento, e sua lembrança pode despertar o desejo de retornar a momentos mais simples e felizes.

  • Saudade de Experiências:

Ligada a vivências específicas que deixaram marcas em nossas vidas, essa forma de saudade pode surgir de eventos especiais, como uma festa, uma viagem ou um momento de conquista. Muitas vezes, é acompanhada por um desejo de reviver essas experiências que trouxeram alegria, aprendizado ou crescimento pessoal.

  • Saudade do Passado:

Muitas vezes, a saudade se relaciona com a passagem do tempo. Este tipo de saudade reflete sobre o que vivemos e como as coisas mudaram, podendo ser positiva, ao recordar momentos felizes, ou negativa, ao lamentar o que foi perdido. É uma forma de reconhecer a transitoriedade da vida e a inevitabilidade das mudanças. Além de pessoas, lugares e experiências, a saudade pode se manifestar em relação a ideais ou épocas que já não existem mais, como tempos mais simples ou valores esquecidos.

Essa saudade pode nos motivar a buscar mudanças ou resgatar aspectos que consideramos valiosos. A saudade está intimamente ligada à memória, por ser a lembrança de pessoas, lugares ou experiências que evocam esse sentimento. Quando sentimos saudade, acessamos memórias que nos causam nostalgia ou melancolia.

Essas lembranças podem ser vívidas e intensas, permitindo que revivamos momentos significativos. Assim, a saudade reflete nossa capacidade de lembrar e valorizar o que foi importante em nossas vidas. A memória e o esquecimento são processos complementares. A memória nos permite reter e reviver experiências, enquanto o esquecimento é necessário para evitar a sobrecarga emocional.

Algumas memórias podem ser dolorosas, e o esquecimento pode servir como um mecanismo de defesa, preservando nosso bem-estar emocional. No entanto, essa perda de lembranças pode contribuir para a saudade quando percebemos o que não lembramos mais. A saudade pode ser vista como uma resposta à tendência ao esquecimento. À medida que as memórias se desfazem ou se tornam menos acessíveis, a saudade pode emergir como uma forma de lidar com essa perda.

É como se a saudade fosse um apelo à lembrança, um desejo de reconectar-se com o que está se perdendo. Por outro lado, o esquecimento pode aliviar a dor da saudade, permitindo que avancemos, mas muitas vezes deixa um vazio que podemos sentir como saudade. Assim, a relação entre saudade, memória e esquecimento é um ciclo contínuo.

A saudade nos lembra da importância das memórias que temos, enquanto o esquecimento nos ajuda a gerenciar o peso emocional dessas lembranças. Juntos, esses elementos moldam nossa experiência humana, influenciando como nos relacionamos com nosso passado e como isso impacta nosso presente e futuro. Portanto, a saudade não é apenas um lamento pelo que foi perdido, mas também um reconhecimento da beleza das memórias que ainda carregamos.

A saudade é um sentimento que nos conecta com nosso passado, nossa história, nossas relações e nossas emoções. Embora possa trazer dor e tristeza, também serve como uma lembrança do que foi significativo em nossas vidas.

Através da saudade, somos lembrados de nossa humanidade, da transitoriedade da vida, de nossos laços e da riqueza das experiências que moldaram quem somos. É nessa mistura de sentimentos que encontramos a beleza e a complexidade da saudade.

Em suma, a saudade é um testemunho das conexões profundas que estabelecemos ao longo da vida, revelando tanto a fragilidade quanto a força dos laços que nos unem a outros, mesmo na sua ausência. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor