Quais são as consequências de uma atitude egoísta e egocêntrica?

Na vida cotidiana, prevalece a mentalidade de 'meu time de futebol sempre deve ganhar' leva a atitudes de desespero e violência quando o outro ganha ou meu time perde

Escrito por
Adalberto Barreto ceara@svm.com.br
Legenda: Não se impõem limites aos impulsos egoístas das crianças. Não se ensina a lidar com a frustração. São filhos criados como areia cria batatas
Foto: Pexels

Primeiro, EU! Primeiro, meu time! Primeiro meu país! Por que priorizar meu interesse em detrimento do outro? Quando coloco meus desejos, ideias e vontades acima dos demais, desencadeio uma disputa por um espaço que só comporta a mim e aos meus, excluindo os outros. Este outro se transforma em um objeto a ser eliminado, um estorvo indesejável a ser descartado, expatriado. A lógica de “eu contra o outro” e de “nos contra os outros” se assemelha aos games que ensinam a deletar o adversário oposto ao desejo infantil de alcançar o seu objetivo. Só interessa ganhar, ganhar e ganhar! Quais são as consequências de uma atitude tão egoísta e egocêntrica?

Colocar meu Eu, o meu time, o meu país em primeiro lugar resulta em isolamento e na formação de guetos de intolerância e autoritarismo, onde o poder é exercido para destruir, combater os outros vistos como adversários, inimigos. Nas relações pessoais, focar no EU e no meu círculo de interesses e amizades torna a vida numa eterna competição e bloqueia as energias construtivas. Aqueles que não pertencem ao meu grupo são vistos como inimigos a serem combatidos. Para isso, todas as armas são válidas: mentiras, discriminações, chantagens, depredações, exportações violentas. Valores civilizatórios, como solidariedade, amor, compaixão e empatia, não apenas são ignorados, mas frequentemente atacados. Aqui se aplica a máxima: “Aos amigos tudo e aos inimigos o rigor da lei”.

Essa mentalidade contamina todos os aspectos da vida, como um vírus contagioso, que o que conta são os meus interesses pessoais e dos meus grupos econômicos, políticos e religiosos. No campo religioso, meu Deus é o único e verdadeiro, e os outros são considerados falsos, merecendo ser combatidos em nome da minha fé. Assim, religiões se transformam em espaços de doutrinamento contra outras expressões de fé, onde prevalece a ideia de um Deus único e verdadeiro que, para ocupar um trono solitário, deve eliminar os demais.

Veja também

O Deus do amor, da união, se transforma no deus do ódio, da guerra e da destruição. Na economia, meu modelo de produção predatória deve prevalecer sobre o modelo que respeita o meio ambiente. Se quebram acordos de preservação da natureza, se revogam decretos de proibição do plástico que polui os oceanos. E quando meu país carece de recursos que estão em outros territórios em outros países, como é frequente, a solução é tomar à força, declarando guerras ou sobretaxando os produtos para que eu seja o grande beneficiário em detrimento dos outros. Sacrifica-se o intercambio comercial que poderia beneficiar a todos. Por que desejar controlar tudo e beneficiar apenas um grupo seleto em detrimento do coletivo?

Na política, meu partido precisa ser o mais forte, enquanto os demais devem ser combatidos, silenciados. Não há espaço para a diferença ou para a discordância. O ideal seria a permanência no poder, por meio de ditaduras, evitando a possibilidade de alternância defendida pelas democracias. Na educação: Filhos criados como príncipes e princesas onde só há direitos e não deveres. Não se impõem limites aos impulsos egoístas das crianças. Não se ensina a lidar com a frustração. São filhos criados como areia cria batatas.

Na vida cotidiana, prevalece a mentalidade de 'meu time de futebol sempre deve ganhar' leva a atitudes de desespero e violência quando o outro ganha ou meu time perde. Não existe espaço para a alternabilidade saudável. O dito popular nos lembra que existem dias que são da caça e dias do caçador. Perder é inadmissível e um confronto saudável se transforma em violência indiscriminada. Se meu time perder, acuso o juiz de favorecer aos meus adversários e convoco colegas a agredir os que ganharam.

Se eu não for eleito, ataco o resultado das urnas e convoco a depredar o capitólio. Uso as armas que estão em meu poder. Este tem sido um episódio que tem se repetido em todas as cidades de nosso país. Por que meu time tem que sempre ganhar? Por que quando meu time perde o jogo, eu perco meu controle, meu equilíbrio e ataco aos que ganharam? Em que essa atitude de intolerância que acontece em nossas cidades difere do que acontece em outros países? Vivemos em nosso bairro, o que está acontecendo entre os grandes países.

Estamos testemunhando o fim da civilização que respeita e honra os que vencem com ética e compaixão aos que perdem e o retorno à barbárie, que não respeita as regras da convivência tanto entre países como entre nossa realidade cotidiana. No passado, cidades construíam muros para se proteger de inimigos, delimitando territórios onde apenas os pertencentes a uma nação podiam entrar. Políticas protecionistas criam barreiras que obstruem o livre fluxo de mercadorias e a competitividade benéfica aos consumidores. Ora, sabemos que a riqueza da vida reside na diversidade de cores, sabores, sons e experiências. Imagine a monotonia de um mundo com uma única cor, um único sabor ou uma única nota musical!

A beleza do arco-íris e a harmonia de uma melodia surgem da diversidade. Essa divisão do mundo em dois lados — um que tem direito aos benefícios do progresso e à vida e outro ao ostracismo — é uma arma de destruição mais poderosa que qualquer tecnologia bélica. Essa mentalidade excludente compromete nossa humanidade e a vida no planeta. Declarar guerra à complexidade e ao diferente vai contra a evolução da civilização e das espécies. O segredo da vida se dá na troca de energia entre as diferenças. Plantas produzem oxigênio, alimentando a vida dos animais, que, por sua vez, sustentam os humanos. Se houvesse apenas uma categoria de vida, a evolução não existiria.

A dinâmica de interação entre as diversas formas de vida é a matéria-prima da criação e de todo progresso duradouro e sustentável. O mundo está vivendo uma crise profunda. Em momentos de crise, não se deve tomar decisões precipitadas. É essencial fazer uma pausa para observar, refletir e analisar. Somente após compreendermos a complexidade dos fatores envolvidos, podemos agir conscientemente e promover mudanças necessárias em níveis pessoal, familiar e coletivo. Somos parte do problema, mas também da solução.

A transformação não vem de fora, mas de dentro de cada um de nós. Lembremo-nos de que o outro só possui o poder que decidimos lhe dar. Não devemos permitir que os líderes e partidos extremistas que defendem políticas de exclusão dominem, ganhem meu voto. Não vamos dar poder a quem se alinha com uma política de exclusão dos vulneráveis, que defende o retorno à guerra comercial ou guerra santa em nome de um passado que não existe mais.

Aprendamos com os erros do passado. Retroceder nas conquistas sociais é como voltar à idade média, aos tempos de feudos de poder e intolerância. Quem prega ódio e divisão representa um retrocesso que a história já enfrentou e superou. Não sejamos instrumentos em uma guerra que não é nossa; essa guerra é dos poderosos que temem perder privilégios e riquezas. Nossa verdadeira riqueza reside na convivência pacífica e em harmonia com nossas famílias, vizinhos e comunidades.

Imagem de mulher e o pôr do sol
Legenda: Quem prega ódio e divisão representa um retrocesso que a história já enfrentou e superou
Foto: Pexels

Atitudes egoístas e egocêntricas trazem diversas consequências negativas, tanto para o indivíduo quanto para os outros. Aqueles que agem de forma egoísta criam um ambiente hostil, fomentando conflitos e prejudicando a colaboração. Políticas protecionistas, por sua vez, geram tensões, afetando o crescimento econômico global e fomentando nacionalismos que desestabilizam democracias. Embora um país possa, temporariamente, aumentar sua riqueza, essa prosperidade se torna ilusória ao limitar a diversidade cultural e a inovação, elementos essenciais para o desenvolvimento civilizatório.

A rejeição à diversidade de perspectivas empobrece o conhecimento humano e a compreensão do mundo, levando a uma visão estreita e dogmática da convivência entre os povos e nações. É fundamental, portanto, que busquemos construir um mundo onde a diversidade seja valorizada e respeitada. Devemos promover um diálogo aberto, onde diferentes vozes possam ser ouvidas e respeitadas. A verdadeira força de uma sociedade está em sua capacidade de unir as diferenças, transformando-as em uma fonte de riqueza e aprendizado.

Se existem filosofias em que prevalece o individualismo, existe a filosofia “Ubuntu”. É um termo de origem africana, da língua bantu, que se refere a uma filosofia e um conceito de humanidade e interconexão. O termo é traduzido como “eu sou porque nós somos”, enfatizando a ideia de que a individualidade está intrinsecamente ligada à comunidade e ao bem-estar de todos. Essa filosofia valoriza a empatia, a solidariedade e o respeito mútuo entre as pessoas e nos princípios de colaboração.

Somente assim poderemos avançar, criando um futuro onde todos tenham espaço, onde a solidariedade e a empatia prevaleçam, e onde possamos viver em harmonia com as diversas culturas e perspectivas que enriquecem nossa humanidade. O caminho para um mundo melhor começa com cada um de nós, ao escolher agir com consciência, compaixão e respeito pelo outro. Essa é a verdadeira essência de uma sociedade civilizada.

Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.