O sucesso do mentiroso e da mentira dura pouco: a dinâmica da mentira.

Mentiras repetidas, propagadas por falsos profetas, teriam a capacidade de “anestesiar mentes”, levando muitos a aderirem cegamente sem reflexão

Escrito por
Adalberto Barreto producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 16:49, em 26 de Setembro de 2025)
Legenda: O mentiroso habilidoso não se limita à distorção pontual; consegue criar ambientes inteiros onde o falso se torna norma e a desconfiança, regra
Foto: Shutterstock

A mentira surge quando a verdade não pode ser dita, servindo para encobrir traições, proteger cúmplices, escapar de sanções ou sustentar cenários irreais. Como o camaleão, com a capacidade mimética de se fundir para confundir e escapar de seus predadores. Torna-se uma cortina de fumaça diante de situações vergonhosas, amplificada por seguidores que abdicam de seu senso crítico.

Mentiras repetidas, propagadas por falsos profetas, teriam a capacidade de “anestesiar mentes”, levando muitos a aderirem cegamente sem reflexão. O mentiroso manipula os fatos em benefício próprio, distorcendo a realidade e impondo suas fantasias como verdades. Age sem respeito pelo outro, utilizando as pessoas como marionetes e formando séquitos que acabam perpetuando e ampliando informações falsas.

Mesmo frente à evidência, a repetição contínua faz com que tais mentiras sejam aceitas, demonstrando a alarmante perda da capacidade crítica no ambiente social, formando bolhas de alienação e desinformação. A mentira, ao enraizar-se, não somente dissimula a verdade: ela molda realidades paralelas e constrói narrativas que se impõem sobre fatos.

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O mentiroso habilidoso não se limita à distorção pontual; consegue criar ambientes inteiros onde o falso se torna norma e a desconfiança, regra. O sucesso desse tipo de manipulação está no uso da linguagem, na teatralização de gestos e na sedução do público que apela ao emocional coletivo.

Discursos inflamados, lágrimas cuidadosamente exibidas diante das câmeras, promessas feitas, usar o nome de Deus são exemplos clássicos de encenação.

Líderes carismáticos utilizam o tom de voz calculadamente dramático, pausas estratégicas, sorrisos em momentos oportunos e até gestos de humildade forjada — como abraçar crianças, sentar-se entre trabalhadores ou demonstrar falsa surpresa — para criar empatia e conquistar a confiança do público. No ambiente digital, a teatralização se traduz em vídeos cuidadosamente editados, expressões exageradas ou publicações repletas de hashtags emocionais, mobilizando seguidores a compartilhar e defender narrativas, mesmo em detrimento dos fatos.

Recentemente, as redes sociais e a imprensa nacional denunciaram uma jovem adolescente que construiu uma trama de mentiras, calúnias e fofocas, que criou o caos em uma pacata cidade mineira, desmanchou casamentos, pessoas se deprimiram, outras tentaram suicídio. Foi necessário a polícia intervir e prender essa jovem delinquente perturbadora da ordem social. Muito além do ato de mentir, existe uma engenharia de persuasão onde o discurso é cuidadosamente orquestrado para inflamar emoções.

A mentira cresce quando encontra terreno fértil na necessidade humana de pertencimento, segurança ou esperança, tornando-se ferramenta poderosa para quem deseja influenciar, controlar ou perpetuar-se no poder. O teatro da mentira não se limita a indivíduos isolados; suas engrenagens funcionam em instituições, empresas e governos, onde interesses pessoais e coletivos frequentemente se misturam.

Quando a mentira é sistematizada, ela ganha respaldo institucional e seus agentes passam a ocupar postos de liderança, influenciando decisões que afetam multidões.

Um exemplo recente no Brasil são as mentiras sobre as urnas eletrônicas, mesmo sem nenhuma comprovação. Assim, o sucesso do mentiroso se fortalece pela capacidade de mobilizar estruturas que validem o discurso enganoso. O ambiente social, enfraquecido pela desinformação e pelo culto à personalidade, torna-se terreno fértil para o surgimento de mitos e líderes carismáticos, cuja autoridade cresce à medida que a verdade se esconde sob camadas de mentiras de conveniência.

Cuidado! Você que adere ao mentiroso e suas mentiras é também cúmplice. É farinha do mesmo saco. É nesse espaço que a mentira se transforma em poder, redefinindo valores e moldando políticas públicas, com consequências que extrapolam o âmbito privado. O cidadão, por sua vez, enfrenta o dilema de confiar ou resistir, percebendo que o preço da ingenuidade pode ser alto e que a responsabilidade pela busca da verdade é coletiva.

Nenhuma posição de autoridade exime alguém de mentir, seja religiosa, política ou econômica. A vigilância individual, baseada na análise das atitudes e palavras, torna-se fundamental. O ditado “me diz com quem andas que direi quem tu és” ilustra a importância de avaliar interesses comuns e o impacto de nossas escolhas, principalmente ao eleger representantes.

O dilema do eleito se manifesta entre a fidelidade ao eleitor ou aos financiadores de campanha, revelando possíveis enganos por falsas promessas. O poder e a mentira caminham juntos quando a manipulação deixa de ser somente uma estratégia individual e estrutura sistemas, justificando políticas e decisões coletivas que afetam o cotidiano de milhares.

O mentiroso bem-sucedido se alimenta de estruturas frágeis, de falha no controle e falta de transparência, explorando brechas institucionais para consolidar a própria narrativa. E ainda conta com a adesão dos desinformados. Assim, mentiras se perpetuam em discursos oficiais, relatórios enviesados e campanhas cuidadosamente roteirizadas, tornando-se parte do tecido social e institucional. É o lobo vestido em pele de ovelha que deseja dizimar todo o rebanho desavisado.

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Nesse ambiente, a verdade e as leis são frequentemente relegadas ao papel de obstáculos, pedras incômodas no caminho de quem busca vantagem ou permanência no poder. Não é por acaso que juízes e legisladores são frequentemente atingidos por campanhas de ódio difamatórias para desacreditá-los. Eles simbolizam os obstáculos que freiam os impulsos de conquista de poder político, econômico ou religioso.

O discurso construído sobre inverdades adquire uma aura de legitimidade à medida que é endossado por autoridades, repetido por veículos de comunicação e disseminado em redes sociais, criando uma bolha de validação difícil de romper. Esses agem como a avestruz que enfia a cabeça no buraco e acredita-se segura de todo predador.

Mas o preço desse pacto com o engano é alto: a confiança pública é corroída, o diálogo democrático se fragiliza e a justiça se vê comprometida. O poder que se ancora na mentira, embora aparente força, é sustentado por alicerces frágeis, sujeito a ruir diante do menor sinal de lucidez coletiva. É como construir castelos sob a areia. Fica vulnerável e prestes a desabar a qualquer momento.

Dessa forma, a vigilância permanente, o estímulo à análise crítica e a valorização da transparência tornam-se condições indispensáveis para resgatar a confiança e restabelecer o valor da verdade na vida pública e privada. No campo dos homens públicos, é fácil diferenciar verdade e mentira. Basta observar a coerência entre discursos e práticas, verificação do patrimônio em relação à renda, e a análise do comportamento público são essenciais.O ditado “o sujo falando do mal lavado” ressalta o perigo de acusações entre corruptos e a dificuldade de distinguir o falso do verdadeiro.

Como se proteger contra a mentira e o mentiroso, existiria alguma vacina?

A desconfiança, a análise rigorosa e o uso de dois de nossos 5 sentidos do que se vê e ouve são ferramentas fundamentais. É necessário proteger-se contra líderes que negam evidências, inclusive daqueles que negam os benefícios das vacinas, e que criam realidades alternativas para benefício próprio. Quais as consequências do uso deliberado da mentira? A mentira destrói referências, impede o diálogo e semeia injustiça, dor e violência.

O compromisso com a verdade e a realidade dos fatos é essencial para libertar das armadilhas criadas pela manipulação, como ensina o antigo ensinamento de Cristo: “Conhecereis a verdade, e ela vos libertará.” O pacto silencioso que permite à mentira prosperar está amplificado pelo ambiente de polarização e incerteza, onde opiniões sobrepõem-se aos fatos.

Essa dinâmica facilita o surgimento de lideranças que exploram fragilidades institucionais, manipulam narrativas e consolidam-se através da repetição e do reforço coletivo, transformando a ilusão em referência, tomando suas fantasias pela realidade. O cidadão, diante desse cenário, é desafiado a cultivar um olhar crítico e a desconfiar de aparentes verdades prontas, reconhecendo que a responsabilização não é somente dos governantes, mas de cada um de nós e toda a sociedade que aceita ou propaga discursos duvidosos.

Não esqueça que o outro tem o poder que eu dou. A adesão à mentira do mentiroso não ocorre somente por ignorância, mas muitas vezes por conveniência, medo ou desejo de pertencimento a um grupo. O espaço público é inundado por slogans, frases de efeito e promessas que seduzem pelo apelo emocional, anestesiando a capacidade de discernimento. Nos lembra o ditado popular: quem tem fama se deita na cama?

A cultura da desinformação, impulsionada pelas redes sociais e veículos de comunicação comprometidos, constrói mitologias em torno de figuras públicas, protegendo mentirosos e perpetuando inverdades. Nessa paisagem, a principal defesa está na educação para o pensamento crítico, na verificação constante e na valorização da transparência como princípio fundamental do convívio democrático.

O pacto com a mentira acarreta consequências profundas: corrosão da confiança pública, fragilização do diálogo democrático e comprometimento da justiça. O poder que se sustenta sobre mentiras é, na realidade, vulnerável, como um castelo construído sobre areia. A repetição e o autoritarismo pavimentam o caminho para meias verdades, seduzindo os que buscam soluções fáceis.

Para proteger-se da mentira, é preciso exercitar a desconfiança e a análise rigorosa daquilo que se vê e ouve.

Líderes que negam evidências e criam realidades alternativas representam riscos à integridade coletiva. O compromisso com a verdade é essencial para libertar-se das armadilhas criadas pela manipulação. O ambiente polarizado amplifica a prosperidade da mentira, deslocando opiniões acima dos fatos e facilitando o surgimento de lideranças manipuladoras.

Todos somos chamados a cultivar senso crítico e a desconfiar de meias verdades, reconhecendo que a responsabilidade pela perpetuação da mentira é compartilhada entre governantes e cidadãos que aderem sem questionar. O compromisso com a verdade é o caminho para a superação das armadilhas da manipulação e para a reconstrução da confiança social

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.