O medo é uma pedra no meu caminho, que me atrapalha, mas me protege

O medo nos convida à reflexão sobre as próprias capacidades, escolhas e caminhos a seguir. No entanto, é exatamente ao reconhecer, acolher e enfrentar esses receios que se constrói o processo da autossuperação.

Escrito por
Adalberto Barreto ceara@svm.com.br
Legenda: A coragem, tão celebrada em histórias de superação, não elimina o medo, mas faz dele um aliado.
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Medo, coragem e autossuperação são inseparáveis. Uma freia, outra estimula a ir em frente e a terceira me possibilita superar-me. O medo, apesar de ser uma barreira, também é um guardião zeloso. Ele tem a função de alertar para perigos reais ou imaginários, aguçando os sentidos e preparando o corpo para reagir diante de ameaças: lutando, fugindo ou paralisando

O medo nos protege do desconhecido, de situações arriscadas, de decisões precipitadas e, muitas vezes, de repetir erros do passado. Ao mesmo tempo, em que nos limita, o medo é um aliado que preserva nossa integridade, orientando para escolhas mais seguras e para a autodefesa. 

O medo nos convida à reflexão sobre as próprias capacidades, escolhas e caminhos a seguir. No entanto, é exatamente ao reconhecer, acolher e enfrentar esses receios que se constrói o processo da autossuperação. 

Superar o medo não significa negá-lo ou ignorá-lo, mas sim aprender com ele, usá-lo como bússola para compreender os próprios limites e buscar novas estratégias de ação. O medo, muitas vezes visto somente como um obstáculo, na verdade, atua como um ponto de partida para a superação de si. 

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É diante das incertezas, dos riscos e das limitações impostas pelo medo que surgem as maiores oportunidades de crescimento e transformação. O segredo está no equilíbrio: dialogar com o medo, escutar seus alertas, mas não permitir que ele dite as regras. A coragem para ousar é, muitas vezes, o ponto de inflexão entre a vida que se sonha e a vida que se teme. 

Ousar é desafiar a rotina, dar voz à intuição e acreditar que é possível ir além do previsível. Essa disposição permite que novas portas se abram, que horizontes se expandam e que talentos adormecidos encontrem espaço para florescer. 

O lado positivo da coragem manifesta-se na autossuperação, no crescimento pessoal e na inspiração que se transmite a quem observa tal atitude. No entanto, o ímpeto de ousar não está isento de riscos: há quedas, fracassos e incertezas no caminho daqueles que decidem atravessar o limite do conhecido. 

Observe as oportunidades escondidas por trás dos receios. A coragem, tão celebrada em histórias de superação, não elimina o medo, mas faz dele um aliado. 

Coragem é o movimento de seguir adiante mesmo com dúvidas e incertezas. Quando unida à autossuperação, torna-se uma força transformadora. O verdadeiro ato de coragem é a decisão de agir apesar do medo. 

A autossuperação acontece quando se escolhe agir mesmo com o coração acelerado, quando se ousa dar um passo além da zona de conforto, transformando a ansiedade em motivação e o receio em prudência, transformando limites em caminhos de crescimento pessoal e social. Medo é a emoção que sinaliza riscos, acende alerta e protege dos perigos, enquanto a coragem é o impulso que incentiva a atravessar fronteiras e buscar o novo. 

A autossuperação, por sua vez, é a arte de transformar o medo em aprendizado e a coragem em ação consciente, promovendo amadurecimento e evolução pessoal. 

É nesse processo de acolhimento e escuta atenta do medo que nasce a autossuperação: ao invés de fugir, reagir ou negar, a pessoa passa a compreender o que realmente a paralisa, desenvolvendo estratégias para avançar com mais segurança. 

A importância da autossuperação reside exatamente nesse ponto de encontro entre medo e coragem. Ao escolher superar-se, a pessoa transforma a ansiedade em motivação, utiliza o medo para preparar-se melhor e converte cada obstáculo em aprendizado. 

Autossuperar-se é se permitir errar, aprender com os fracassos, ressignificar experiências e celebrar cada passo dado em direção ao autoconhecimento. Ao vencer limites impostos pelo medo, novas possibilidades surgem e a vida ganha mais significado e propósito. 

O equilíbrio entre medo, coragem e autossuperação é o que constrói uma vida plena. O medo convida à cautela, a coragem impulsiona e a autossuperação harmoniza, permitindo que a pessoa avance com consciência, respeitando seus próprios limites, mas sem deixar de ousar. 

Assim, medo e coragem e autossuperação se desafiam e se completam. O medo, com sua natureza de alerta, acende luzes sobre os perigos do trajeto, indicando limites e solicitando cautela. Já a coragem é o impulso que permite atravessar essas fronteiras, mesmo com o coração acelerado e a incerteza à espreita. 

Enquanto o medo aponta o abismo, a coragem constrói pontes sobre ele. Ambos, juntos, desenham o ritmo da jornada — ora parando, ora avançando. Em uma roda de terapia comunitária sobre os medos que nos paralisam, refletimos sobre os aspectos positivos do medo. O medo surge para nos proteger de nossa ousadia. 

Vejamos como esses testemunhos de autossuperação inspiram quem está ao redor, mostrando ser possível transformar vulnerabilidades em força. 

Eu tinha receio da escassez que acompanhou meus pais. Esse medo me levou a ser uma pessoa investidora e a fazer economias ao longo de minha vida. Hoje, vejo que ele foi importante para romper com o padrão vivenciado pelos meus pais. O meu medo era de ficar só.

O superei procurando fazer amizades, encontrar outras pessoas e depois descobri que meu medo da solidão me levou a me relacionar com pessoas toxicas. Foi quando passei a ser mais exigente e seletiva com as pessoas de meus relacionamentos; meu medo era de viver na dependência de outras pessoas. Superei, planejando melhor minha vida, fazendo uma reserva financeira para momentos difíceis; tinha um grande medo de não dar conta, de não ser capaz de vencer na vida. 

Esse medo me levou a ser uma profissional dedicada, competente, procurei aprender com meus erros, a pisar no freio de meus impulsos e desejos. Eu sempre tive muito medo de me expor e ser julgada ou criticada. Esse medo me levou a me expor com simplicidade, sendo autêntica e leal comigo mesma. Eu tinha muito medo de acidente de carro e viajava frequentemente do Rio para Brasília. Superei esse medo, ficando atenta nas estradas e sempre conversando com meu marido que dirigia o carro, e graças a Deus, nunca tivemos um acidente. Eu tinha medo de enlouquecer e eu me livrei desse medo, procurando autoconhecimento através das terapias comunitárias. 

Foi tomando consciência dos porquês de meus medos, que lentamente fui me libertando e hoje sou uma professora tranquila e encontrei na poesia uma maneira de me expressar e partilhar minhas descobertas com outras pessoas. Desde criança, tinha muito medo de ficar sozinha, sobretudo em ambientes escuros. Para superar esse medo, eu sempre pedia alguém para ficar comigo conversando e sobretudo rezando pedindo proteção a Deus. 

Esses depoimentos de superação dos medos mostram que muitas realizações surgem justamente após enfrentamentos internos. Quem teme a solidão, por exemplo, pode usar esse temor para fortalecer vínculos verdadeiros e selecionar melhor as próprias companhias. 

Quem sente medo do fracasso pode torná-lo um estímulo para preparar-se melhor, aprimorar habilidades e buscar excelência. Assim, aquilo que inicialmente paralisa, quando bem compreendido e trabalhado, pode se converter em energia propulsora para a autossuperação. 

Autossuperar-se é transformar o medo em aliado, deixando que ele ensine, proteja, mas também inspire. Estes depoimentos evidenciam ser graças a eles que repensamos e revisamos nossos projetos de vida. Procurar reconhecer e dialogar com nosso medo é um ato de coragem e maturidade. 

O medo nos encoraja a avançar com precaução e considerando os riscos e encontrar estratégias que nos permitam seguir em segurança. Seguir o caminho atento aos riscos é a garantia de nosso sucesso. Em vez de hesitar ou procrastinar, identificamos as oportunidades escondidas por trás dos receios. 

O medo excessivo é tão nocivo quanto sua ausência porque ambos distorcem o equilíbrio essencial para uma vida saudável e plena. Quando o medo se manifesta além da medida, paralisa, restringe escolhas e impede a pessoa de explorar novas oportunidades. 

O excesso de medo distorce nossa percepção, gera ansiedade constante, alimenta pensamentos negativos, dúvidas e pode provocar isolamento, insegurança e até mesmo doenças físicas e emocionais. A pessoa passa a enxergar riscos em tudo, tornando-se refém de suas próprias apreensões. 

Por outro lado, a completa ausência de medo também representa um grande risco. Sem esse sentimento fundamental, perde-se o senso de autopreservação. A falta de temor leva à imprudência, à exposição desnecessária a perigos e à tomada de decisões impulsivas, sem considerar as consequências. 

O equilíbrio reside justamente em aprender a escutar o medo, reconhecendo-o como um sinal de alerta que auxilia na tomada de decisões seguras, sem permitir que ele assuma o controle total da vida. Saber dosar o medo significa ter coragem para avançar, mas também sabedoria para recuar quando necessário. 

O medo aponta o abismo, mas é a vontade de superá-lo que constrói pontes e abre novos horizontes. A vida tem valor, e você também o tem. “Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar” Shakespeare. 

*Este texto reflete exclusivamente a opinião do autor.