As olimpíadas da minha vida

A competição é negativa quando o meu objetivo é ser maior e mais forte que o outro. Posso até ganhar a medalha, mas perco a liberdade de viver

Legenda: Qual é o seu objetivo nas olimpíadas da sua existência? A felicidade? Viver em paz consigo e com os outros? Você está disposto e determinado a se esforçar para chegar lá? (Na imagem: a ginasta brasileira Rebeca Andrade durante as Olimpíadas de Paris)
Foto: Alexandre Loureiro/COB

A vida é uma olimpíada, não para ser melhor ou superar os outros, mas para superar minhas imperfeições e superar-me. Meu oponente é um parceiro em meu processo de aprimoramento. Ele incentiva-me a dar o melhor para alcançar meus objetivos. No entanto, preciso estabelecer minha meta com antecedência. Quando não sei para onde quero ir, qualquer lugar serve. Durante as Olimpíadas de Paris, muitos se dedicam para se tornar o nadador mais rápido, o judoca mais performador, o time campeão.

As metas são estabelecidas com antecedência e o trabalho é longo e árduo. Somente os fortes de espírito conseguem. Na mitologia grega, o Olímpio era onde os deuses moravam. Era uma prisão dourada onde viviam os deuses poderosos: Zeus, o rei dos deuses. Hera, a deusa dos deuses, do matrimônio e da família; Poseidon, deus dos oceanos e da água; e Atena, a deusa da sabedoria. Os deuses não viviam em um céu de harmonia, mas sim em um inferno, onde se digladiavam e se matavam.

Cada um lutava para ser mais forte que o outro. Era um território repleto de tragédias. Olímpio era uma escola de vida, na qual se aprende a compreender a dinâmica da vida, a desenvolver habilidades como paciência, astúcia e a convicção de que o bem sempre supera o mal. Qual é o seu objetivo nas olimpíadas da sua existência? A felicidade? Viver em paz consigo e com os outros? Você está disposto e determinado a se esforçar para chegar lá?

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O treinamento deve ser diário, com muita dedicação e renúncia. É imperativo compreender que, hoje, preciso ser melhor do que fui ontem e, amanhã, ser melhor do que sou hoje. Considere que sou o foco principal. A luta é comigo. Cada dia, tenho que me superar e não superar as qualidades ou defeitos do meu oponente. Sou meu próprio adversário. Essa competição, sem dúvida, é benéfica e pode nos auxiliar a sermos melhores a cada dia. 

A competição é negativa quando o meu objetivo é ser maior e mais forte que o outro. Posso até ganhar a medalha, mas perco a liberdade de viver, o convívio tranquilo comigo mesmo, com meus entes queridos e amigos. Você quer competir para se tornar um deus do olimpo ou uma pessoa feliz em seu lar? Simone Biles, uma das maiores medalhistas do mundo, nas Olimpíadas de Tokio, decidiu que não poderia sacrificar a sua saúde mental por uma medalha de ouro. Ela preferiu dar importância à saúde e à paz interior em detrimento da competição. Somente uma deusa humana consegue tomar essa decisão.

O que adianta ter uma coleção de troféus e fazer parte de um time seleto do Olímpio se não sou feliz? Somos antes de tudo humanos. Apesar de sermos fortes, possuímos limitações. As olimpíadas são uma oportunidade para todos estabelecermos novas prioridades, tanto pessoalmente como coletivamente. Direcione a sua energia para a criação de coisas benéficas. No mundo competitivo, é importante perguntar: tenho vencido, perdido ou aprendido? Terei ultrapassado os meus limites de tolerância, impaciência e desapego? Quais são os valores que devo priorizar na minha vida? Tudo o que fazemos de forma correta ou incorreta é uma oportunidade para podermos aprender e aperfeiçoar-nos.

Nascemos imperfeitos e temos toda a vida para melhorarmos nossas atitudes e comportamentos. Ao longo da minha trajetória evolutiva, é crucial considerar as diversas dimensões que nos definem como indivíduos. Temos um corpo que precisa ser nutrido adequadamente e bem cuidado. Sua higiene é feita com água e sabão. Nosso corpo emocional se nutre de afeto, carinho, aceitação e muito amor, e precisa de clareza para ampliar a consciência e se tornar protagonista de seu processo evolutivo.

Sua higiene passa pela compreensão dos obstáculos a serem superados, onde o perdão tem um valor incomensurável. Viver em sociedade requer respeitar as diferenças de ritmo, opinião e percepção. Isso acontece todos os dias quando vamos ao supermercado, caminhamos pelas ruas ou participamos de eventos sociais. É comum sermos confrontados com atitudes que contrariam nossas crenças e valores.

Somos seres espirituais que defendem valores universais e nos obrigam a manter uma coerência entre o que acreditamos, os valores eternos e a minha postura no dia a dia. Como posso ter uma espiritualidade que exige comportamento consequente se uso minha fé para excluir, condenar e menosprezar os outros que não concordam com o meu credo ou partido? Veja que temos muito para nos ocupar e gastar nossa energia.

Em cada uma dessas dimensões, temos obstáculos a serem superados, imperfeições a serem corrigidas e limites a serem ultrapassados. Em Paris, alguns atletas superam recordes, mostrando suas qualidades; outros revelam imperfeições, falta de preparo e retornam a seus países para, na próxima olimpíada, estarem mais preparados para a vitória. Outros atletas se despendem e abrem espaços para os novos que surgem.

Você, que assiste a tudo isso, o que está aprendendo e descobrindo sobre si, sua vida e a vida de seu país? Você está se identificando com os vencedores ou com os que perderam? O que você precisa fazer para se aprimorar na arte de conviver com as diferenças e retomar a direção da sua vida? Ser uma pessoa melhor e buscar sempre o equilíbrio entre o ser múltiplo que somos?

Não se limite à observação passiva destas olimpíadas. É importante salientar que as Olimpíadas de Paris, assim como o mitológico Olímpio da Grécia antiga, continuam sendo uma escola de vida para todos. Aprenda, respeite e acompanhe aqueles que se sobressaem. Aprenda com aqueles que perderam, pois nunca se perde nada ao aprender com nossas imperfeições. A aceitação da perda nas eleições tem sido um desafio para o poder político, tanto nacional quanto global.

Espero que alguns governantes aprendam com os atletas olímpicos a aceitar uma derrota sem perder a dignidade e a postura de estadista, saudando e respeitando o vencedor. Saber perder é tão importante quanto saber ganhar. Ambos são oportunidades para evoluirmos. 


 

 

 

 


 

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