Toda criança passa por pequenos estresses ocasionados por pequenas e necessárias frustrações, quando é contrariada por um não, ou quando o irmãozinho nasceu e ela deixou de ser o centro de atenção de seus pais, ou ainda quando vai ser vacinada ou nos primeiros dias de escola. Esse estresse é normal e faz parte da construção de sua personalidade. Quem ama frustra, porque impõe limites.
Educar não é somente abrir portas, mas muitas vezes fechar algumas. O estresse torna-se tóxico quando ele acontece de forma constante e repetida por período prolongado. Famílias submetidas a tensões, conflitos, violência doméstica, física, psíquica e emocional, com brigas constantes entre os pais, torna o ambiente familiar pesado e intoxica a convivência familiar e compromete a saúde mental de seus membros. Esse clima se agrava com uso e abuso de álcool e outras drogas, problemas mentais e casos de extrema pobreza em contexto de grande vulnerabilidade psicossocial. Os preconceitos comprometem o maior patrimônio de uma pessoa, que é a confiança em si.
Quando dilapidada por contextos marcados por toda sorte de violência, abuso sexual, gera a "síndrome da precariedade psíquica", caracterizada pela incapacidade de uma pessoa dizer não ao inaceitável, restando-lhe apenas dizer não a si mesmo. Em contextos tóxicos, os indivíduos tendem a perder a confiança em si. O individuo perde o seu bem maior. Não crê mais no seu potencial, se desvaloriza, sente-se nulo tanto em sua família e na sociedade e não mais merecedor do amor dos outros. É acometido de varias síndromes de melancolização.
Perda da confiança nos outros. O individuo perde a possibilidade de receber apoio, ajuda do outro. O outro torna-se objeto de desconfiança. Toda tentativa de aproximação é vista como ameaçadora, como intrusão. Perda da confiança no futuro. O individuo perde a esperança e a chance de avançar e vencer na vida. A confiança é a matéria-prima para se viver consigo e com os outros. Perde-se a fé no vizinho, no colega, na sociedade, na humanidade e em Deus.
O racismo causa impactos danosos do ponto de vista psicológico e social na vida de toda e qualquer criança ou adolescente. Esses pequenos desperdiçam toda a energia para sobreviver aos conflitos do dia a dia e não sobra tempo nem energia para pensar no amanhã. O futuro fica comprometido. Quando acontece na primeira Infância, até os 2 anos, as consequências são ainda mais graves. Pode causar dificuldades no relacionamento pessoal, no aprendizado, com tendência a comportamentos violentos e suicidas, delinquência, tendência à depressão, problemas com drogas, entre outros.
Contextos familiares
Pesquisas constataram que crianças expostas desde cedo a situações estressantes por períodos prolongados têm uma resposta menor e inadequada ao estresse quando adultas. O estresse tóxico atinge também crianças que vivem em contextos familiares com recursos materiais e afetivos satisfatórios, ocasionado pelo excesso de atividades em que a criança, além de suas obrigações escolares, é submetida a fazer: natação, academia, estudar línguas, reforço escolar, aulas de música, balé. Não sobra tempo para brincar e nem estar com sua família. Essa rotina pode gerar um grande desgaste emocional.
Um ambiente favorável na infância é primordial. Ele diminui neuroses, ansiedades e demais problemas psíquicos, facilitando a convivência e o aprendizado no ambiente escolar e futuramente também no ambiente profissional e familiar. Toda criança apenas precisa se sentir amada, acarinhada, protegida e amparada. Por isso, abrace-a, dê carinho, ouça o que ela tem pra dizer, deixe ela desabafar e colocar para fora suas emoções. Uma rotina tranquila, segura e amorosa traz benefícios para toda a vida!
É através principalmente do carinho, algo simples, mas extremamente eficiente, que os pais e cuidadores ajudam a evitar o estresse tóxico na infância. A OMS criou um guia prático com pistas para a gestão do estresse: manter uma rotina cotidiana para se deitar, acordar, se alimentar, fazer exercícios, ter momentos de lazer e prazer na sua família. Dormir o suficiente para repousar a mente e o corpo. Para garantir um sono recuperador, você precisa se deitar e acordar seguindo o mesmo horário. Cuide do lugar onde você dorme, para que ele seja calmo e silencioso, tendo os aparelhos de som, computadores, TV, desligados. Evite comer muito antes de dormir, beber álcool e cafeína.
A qualidade de nosso sono depende muito do ambiente saudável da vida familiar. Por isso procure cultivar um clima cordial, amigável com seus familiares. Procure falar com as pessoas de sua confiança sobre suas preocupações, suas alegrias e sentimentos. Tudo isso melhora nosso humor, diminui nosso estresse e o sono terá uma melhor qualidade. Procure se alimentar de forma equilibrada e saudável, ingerindo frutas, legumes e sobretudo beba bastante água durante o dia. Fazer exercícios regulares, como caminhada e praticar esportes.
Limitar o tempo de uso nas redes sociais e evitar, sobretudo, aquelas que disseminam o ódio e promovem o medo. Evitar programas de televisão ou filmes violentos que geram estresse. Eu queria fazer um apelo aos pais: vamos cuidar melhor de nossos filhos, não apenas colocando comida na mesa, mas construindo um lar que dê segurança e proteja esses seres frágeis. Eles se alimentam também de afeto, carinho e cuidados. Se você não teve uma família equilibrada, faça um esforço para dar aos seus filhos aquilo que você não recebeu. É uma oportunidade para dar a volta por cima e romper com esse ciclo de violência que tende a se repetir nas gerações seguintes.