Aplaudido de pé. Desta forma que César Cielo foi recebido pelo público que aguardava o início de sua palestra no Sesc, abrindo o Torneio Paralímpico e Master de Natação, na tarde desse sábado. Prestes a completar 11 anos que finalizou a prova de 50 metros livres em 21 segundos e 30 milésimos nos Jogos de Pequim, em 2008, e estabeleceu um recorde que nem ele mesmo conseguiu quebrar em Londres, 2012, ou nos Jogos do Rio, em 2016, o nadador concedeu entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares.
"Dia 18, completa 11 anos. Não imaginei que esse recorde duraria tanto tempo pelas condições que eram apresentadas. Eu não vou soltar fogos de artifício quando alguém quebrar, mas não é uma coisa que tenho muito apego. Tenho muito mais afeição aos títulos e ao momento do recorde porque era a hora 'H'. Eu tinha que me superar. A superação daquele instante era fundamental. Os 11 anos do recorde é como a cereja do bolo", afirmou o nadador.
Mas, apesar de ter tido momentos de glória no esporte, a vida do atleta é muito mais regrada e difícil do que aparenta. Para chegar ao topo, Cielo teve que abdicar de muitas coisas em sua vida pessoal e focar naquilo que sempre foi o seu grande objetivo: ser o melhor possível dentro das piscinas.
"O meu objetivo vem em primeiro lugar e minha vida em segundo. Por isso, abri mão de ir a tanta festa, casamento de amigos", lembra. "Eu treino para ser o melhor atleta de natação possível. Na final olímpica, o cara que conseguiu chegar em primeiro foi quem trabalhou diariamente".
Além de ter um instituto que desenvolve trabalhos sociais com o intuito de ajudar na educação e práticas de esporte para crianças e adolescentes, o nadador tem clínicas esportivas onde trabalha com profissionais "mergulhando" no universo do mais alto-rendimento possível para que novos "Cielos" sejam encontrados e, assim como César, deem alegria ao esporte brasileiro. Mais experiente com o passar dos anos, a busca pelo desempenho foi aumentando e Cielo afirmou ter aprendido que chegam ao topo aqueles que sabem dividir seus aprendizados.
"A essência da alta-performance está em compartilhar. Eu aprendi que, se você tem medo de compartilhar, ou sabe que não é tão bom ou tem medo de que o outro seja melhor que você. Esses dois pontos matam a competitividade de qualquer pessoa", disse o nadador.
Tóquio 2020
Aos 32 anos, muitas medalhas, decepções, treinos e sonhos, Cielo ainda não sabe se irá disputar os Jogos Olímpicos do ano que vem. Ainda precisando passar pelas seletivas, o paulista não decidiu se irá ou não representar o Brasil no Japão. "Se sentir que estou competitivo na seletiva olímpica, não vejo porque não participar. Se não estiver confortável ao ponto de competir, vou ajudar de outra forma".