O adiamento de uma edição dos Jogos Olímpicos, como ocorreu com a edição de Tóquio nesta terça-feira (24), é um fato inédito na história do evento. Até hoje, em 124 anos de Olimpíadas da Era Moderna, a competição nunca havia sido adiada, mas deixou de ocorrer em três ocasiões: 1916, 1940 e 1944, todas durante as grandes guerras mundiais.
>Jogos Olímpicos de Tóquio são adiados
A Olimpíada de 1916 aconteceria em Berlim. Dois anos antes, porém, o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, na Bósnia, colocou não só os Jogos Olímpicos em dúvida como mudou o curso da humanidade. A morte do príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro foi o estopim da Primeira Guerra Mundial.
Pouco tempo antes do atentado contra ele e sua mulher Sofia, a organização dos Jogos de Berlim havia dado início aos rituais olímpicos prévios à realização do evento. No Deutsches Stadion, construído para a Olimpíada e inaugurado em 1913, 60 mil pessoas assistiram ao espetáculo protagonizado por 10 mil pombos que foram soltos e ganharam o céu da capital alemã. Mesmo com o início da guerra, as autoridades alemãs, confiando na resolução dos conflitos, mantiveram o cronograma de planejamento do evento, até que os conflitos ganharam a Frente Ocidental.
Com o fim da guerra, em 1918, a Alemanha perdeu o direito de sediar a primeira Olimpíada em tempos de paz, que foi realizada na Bélgica. Também como parte da punição, os alemães foram afastados do programa olímpico até 1925. Berlim só ganharia o direito de finalmente sediar os Jogos Olímpicos em 1936, evento utilizado pelo governo alemão como plataforma da propaganda nazista para o mundo. A essa altura, o Deutsches Stadion, construído duas décadas antes, já havia sido fechado e dado lugar ao recém-inaugurado Estádio Olímpico de Berlim.
Cancelamentos na 2ª guerra
As duas outras Olimpíadas canceladas foram justamente as que aconteceram após Berlim-1936. Tóquio receberia a competição em 1940, enquanto Londres seria a cidade-sede em 1944. Entretanto, as duas cidades foram severamente bombardeadas durante a Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945 e interrompeu a realização dos Jogos Olímpicos.
Para os japoneses, a edição de 1940 era decisiva para o seu estabelecimento como principal potência asiática. Esse aspecto ganhou ainda mais relevância após o início da guerra contra a China, que começou em 1937 e foi alvo de críticas ao Japão por parte da comunidade internacional. No Massacre de Nanjing, cerca de 300 mil chineses, entre civis e tropas rendidas, foram assassinados.
A Olimpíada também coincidiria com o 2.600º aniversário do estabelecimento do Império Japonês pelo Imperador Jimmu em 660 a.C. O governo esperava que a combinação dessas celebrações pudesse despertar na população um maior sentimento de nacionalismo, fortalecendo o vínculo entre o povo e o poder.
Os esforços da guerra contra a China, contudo, fizeram com que o Japão optasse, em julho de 1938, por desistir da realização dos Jogos. Todo o investimento seria destinado ao conflito com os chineses.
A partir da desistência japonesa, o Comitê Olímpico Internacional transferiu o evento para Helsinque, que havia sido a segunda sede mais votada depois de Tóquio. Mas com o início da Segunda Guerra, o COI decretou o cancelamento dos Jogos de 1940 e, posteriormente, dos de 1944.
Cenário de crise
Tóquio ganhou nova chance de sediar a Olimpíada em 1964, enquanto Londres sediou as de 1948 e de 2012.
Para a primeira competição do pós-guerra, os organizadores precisaram alojar atletas masculinos em campos da RAF (a força aérea britânica) e as mulheres em escolas da capital inglesa, além de pedir para que os competidores do mundo todo trouxessem as suas próprias toalhas, já que o país passava por um período de racionamento e austeridade em razão da Segunda Guerra.
Nos Jogos de 1948, 59 países participaram. Alemanha e Japão foram proibidos de disputar o evento. Em Londres-2012, 204 nações competiram na Olimpíada.