Guilherme Dantas conta como a sanfona e a composição o fizeram conquistar os palcos do forró

O cantor cearense é o primeiro cego a se apresentar no São João de Campina Grande (PB), um dos maiores eventos juninos do Brasil

Cantor, multi-instrumentista e compositor, Guilherme Dantas faz música desde os 4 anos. Dono de um ouvido absoluto -  fenômeno auditivo considerado raro que se caracteriza pela habilidade de identificar ou recriar uma dada nota musical, mesmo sem ter um tom de referência -, o cearense já era quase predestinado a viver num ambiente musical. Cego desde que nasceu, Guilherme nunca se limitou e constrói uma trajetória profissional baseada em estudo, talento e criatividade.

"Eu vejo a cegueira como um detalhe. E isso não me incomoda, desde que as pessoas não achem que isso vai ser motivo pra eu não chegar lá. A cegueira é apenas a falta da visão do olho, mas não da visão do coração"
Guilherme Dantas
Cantor, compositor e sanfoneiro

A história do artista, que nesse fim de semana sobe no palco do São João de Campina Grande como o primeiro cego a se apresentar no evento, foi contada no episódio desta quinta-feira (6) do podcast Que Nem Tu. Ele contou como começou a tocar de forma autodidata a sanfona, passou por várias bandas de axé e forró, e hoje assina composições que conquistaram sucesso nacional, como "Me Ame ou Me Deixe" e "Facim Facim".

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"Quando você põe o coração nas coisas fica melhor. Não estou falando que a música comercial não é boa. Até porque a gente, com tanta experiência, tenta fazer o melhor. Tenta agradar o artista e fazer com que a canção vire um hit. Mas quando você coloca o coração parece que tem uma verdade alí e isso é arriscado... é perigoso, como diz um amigo meu, dar muito certo", conta ele sobre seu segredo para compor  sucessos.

Se hoje, Guilherme se dedica a sua carreira como cantor, integrando a cartela de artistas da Vybbe ( empresa de Xand Avião), nem sempre foi fácil convencer produtores e contratantes que um sanfoneiro cego poderia brilhar em um palco. Ele conta que o preconceito existe e há muitos estereótipos que precisa vencer. No início,  chegou a ouvir que ele não poderia subir em um palco como cantor porque não enxergava. No entanto, quando suas composições começaram a fazer sucesso na voz de Xand e Wesley Safadão, ele tinha certeza que havia espaço para ele.

"Acho que hoje não sofro mais com preconceito. Pode existir uma dúvida de quem não me conhece. Mas o lance de começar a cantar só aconteceu por conta da composição. Foi ela que me deu mais fôlego. Era mais um motivo pra alguém me dar um espaço", reconhece ele que fez suas próprias adaptações para conseguir dominar o palco.

"Quando eu comecei a cantar eu tinha uma pessoa que me levava lá de trás do palco para entrar no centro e eu fui entendendo que aquele momento de abertura tinha que ser de ápice. Ele não podia ser algo que as pessoas olhassem com pena. Eu notei que isso gerava pena nas pessoas e ficavam apreensivas. Tive uma ideia que a primeira guia de palco era um cabo grampeado no chão", relembra. El ele ia pisando até chegar lá na frente  do palco.

Hoje as adaptações evoluíram. Ele usa ponto e fica em contato direto com o produtor. "A confiança é nele e também nos pisos táteis no palco pra não ter dúvida que eu estou no caminho certo. O palco é marcado e eu entro num show e sinceramente as pessoas que não sabem nem  imagina que sou cego", conta.

Guilherme Dantas, que está com um novo trabalho audiovisual, reuniu artistas conhecidos do mundo do forró, como Xand Avião na faixa “Mantenha a Distância”, além de Dorgival Dantas e Tarcísio do Acordeon. Ele vai sonhando em abrir mais e mais espaços como cantor ao mesmo tempo em que conquista também reconhecimento como compositor,  marcando presença nos repertórios de artistas consagrados como Wesley Safadão, Gusttavo Lima, Mano Walter e Xand Avião.