Um homem tetraplégico foi identificado, no Piauí, suspeito de liderar um grupo criminoso que aplicava golpes pela internet, com vítimas em todos os estados do Brasil. Outros suspeitos do grupo, que aplicou mais de R$ 2 milhões em golpes, também foram presos. As informações são do portal G1.
A operação, denominada "X", foi deflagrada na sexta-feira (30) pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Piauí (PCPI). Durante a ofensiva, foram cumpridos três mandados de prisão temporária. Assim, a mãe, o irmão e o tio do homem tetraplégico, identificado como "Branco", foram presos suspeitos por atuarem na organização criminosa.
O chefe da quadrilha, contudo, não foi preso em razão da condição dele. No entanto, foi determinada medida cautelar que o proíbe de entrar em contato com as vítimas e manter contas em redes sociais.
A PCPI ainda cumpriu cinco mandados de busca e apreensão, além do sequestro de bens obtidos por meio de crimes, como imóveis, veículos e ativos financeiros.
Segundo o delegado Anchieta Nery, da DRCI, as investigações foram iniciadas após a Polícia receber informação de que uma pessoa da Zona Norte de Teresina estava praticando golpes online e teria um modo de vida "bastante incompatível" com sua renda.
"Foram necessários mais de seis meses para entender toda essa engenharia criminosa, além da participação de cada um dos investigados, e localizar o patrimônio obtido com o crime", disse Nery.
A Polícia apurou que o grupo criminoso usava perfis falsos com dois "personagens" nas redes sociais para aplicar os golpes, nos quais eram oferecidos serviços por meio de anúncios.
"Um dos personagens é um suposto hacker, que oferecia o serviço de invadir o celular, poderia ser do companheiro de alguém ou de um patrão, por exemplo. Também tinha um personagem de um suposto pai de santo que oferecia serviços espirituais, como trazer de volta a pessoa amada, ou vaga de emprego”, destacou o delegado.
Dessa forma, o homem conseguiu vítimas que acreditavam na realização dos serviços. “As pessoas acreditavam que realmente estavam diante de alguém que faria o serviço, então elas contratavam, transferiam os valores e logo depois ele bloqueava essas vítimas”.
A Polícia acredita que a quadrilha tenha faturado mais de R$ 2 milhões com os golpes somente no ano de 2020. A estimativa para este ano é de que foram faturados mais de R$ 500 mil em quatro meses. A investigação, contudo, ainda aguarda resposta de outras instituições financeiras para saber outros valores recebidos pelo grupo.
"A função dos demais membros da associação, que tem o tio, o irmão e a mãe do Branco, era criar contas em várias instituições financeiras para movimentar esse dinheiro, ocultar e depois fazer a lavagem de dinheiro", pontuou.
Os criminosos aplicavam os valores dos golpes na compra de imóveis, com o intuito de garantir licitude ao dinheiro obtido de modo ilegal.
A investigação identificou vítimas em todos os 27 estados brasileiros. Muitas delas, contudo, não prestaram queixa em razão do tipo de serviço contratado. "Quem foi vítima do personagem pai de santo tem uma certa vergonha de dizer que contratou esse serviço. Quem foi vítima do personagem hacker tem dificuldade de colaborar com a Polícia, pois estava contratando um serviço que é um crime, que é invadir o dispositivo de alguém", explicou.
Anchieta Nery orientou que a população tenha mais atenção para evitar cair nesse tipo de golpe, pois não é o trabalho policial que impedirá esse tipo de ocorrência. "O que vai evitar isso é a educação digital, que é alertar, criar campanhas educativas, e fazer com que a população entenda, que se deseja usar a internet, precisa entender mais daquilo e não acreditar no que as pessoas dizem ser na internet".