Vantagem competitiva

Em entrevista exclusiva para o Você Empreendedor, o advogado Rômulo Alexandre Soares analisa o ambiente econômico para exportação.

Legenda: Rômulo Alexandre Soares

Taxa de câmbio, logística, novas rotas de transporte e situação econômica internacional. O cenário para expandir os negócios no mercado externo é dos bons ventos. A conexão com mercados estrangeiros pode trazer vantagens competitivas para empresas domésticas. Em entrevista exclusiva para o Você Empreendedor, o advogado Rômulo Alexandre Soares, Presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e Vice-Presidente Nordeste da Federação de Câmaras de Comércio Exterior, analisa o ambiente econômico para exportação e os desafios do comércio exterior.

Diário do Nordeste: Qual é a sua avaliação sobre o cenário de exportação atual? É um bom momento para expandir os negócios para fora?

Rômulo Alexandre Soares: O Ceará passar por um momento importante para a expansão da sua economia, especialmente com o mercado externo. Além da atual taxa de câmbio tornar o produto cearense mais competitivo no mercado externo, a nossa condição logística tem se alterado bastante nos últimos anos, aumentando as rotas de transporte aéreo e marítimo com outros mercados e, com isso, reduzindo o custo do frete e o tempo que as mercadorias passam em trânsito.

Entre 2015 e 2019, o Ceará mais do que duplicou as suas exportações, sobretudo devido ao início da operação da Companhia Siderúrgica do Pecém, além da expansão de outras atividades, como a pesca, por exemplo.

Por outro lado, o interesse do governo brasileiro em abrir a sua economia, integrar-se à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e negociar um acordo com a União Europeia e outros blocos ou mercados, possibilitará a redução da burocracia que hoje dificulta o esforço exportador e permitirá a redução das tarifas nos mercados de destino. Também devemos olhar para o fato de sediarmos a maior Zona de Processamento de Exportações operacional no Brasil, como um instrumento diferenciado e indutor das exportações do Estado.

Qual a representatividade das pequenas e médias empresas cearenses nas exportações?

As MPEs têm uma representação pequena nas exportações cearenses, quando se considera o volume exportado. Entretanto, quando se olha o número de empresas sem considerar o montante exportado, praticamente 1 a cada 3 empresas cearenses que vendem produtos para o mercado internacional são classificadas como MPEs. Conforme dados levantados pelo Sebrae, são aproximadamente 135 empresas cearenses nessa categoria. Também é importante observar o quanto as MPEs estão integradas na cadeia de produção voltada para a exportação. Veja o caso da indústria calçadista, do couro, da fruticultura e da pesca. São setores cuja cadeia de produção envolve empresas de menor porte e que, juntas, têm uma contribuição expressiva para as exportações de algumas grandes empresas no Estado.

Em relação a fatores econômicos, qual o principal incentivo para o empreendedor cearense para exportar seus produtos?

Certamente o principal incentivo é que o mercado internacional não vive um período de recessão. Isso ajuda muito na hora de vender. Associado a isso, o mercado doméstico não está aquecido. Sempre que o mercado doméstico não está bem, as exportações tendem a se expandir. Certamente, esse desejo de vender no mercado externo deveria ser uma vocação permanente das empresas. A conexão com o mercado externo traz vantagens de competição para as empresas domésticas. Uma empresa que já exporta tende a ser melhor avaliada no mercado interno e realizar maior controle de qualidade nos produtos e serviços que produz.

Quais os principais desafios ou barreiras existentes para o empreendedor exportar?

É preciso investir numa cultura de exportação. Atualmente, o Brasil está inserido num processo de negociação com outros mercados a fim de reduzir barreiras tarifárias e simplificar o fluxo de comércio. Se não estivermos preparados para competir num mercado aberto, não somente teremos dificuldades em exportar, como também em assegurar o mercado interno, pois as empresas estrangeiras virão competir aqui no Ceará. É preciso que os empreendedores cearenses se internacionalizem e participem de redes internacionalizadas. O uso de redes sociais ajuda muito a construir vínculos com o mercado externo. Conheço várias empresas que se utilizaram de redes como LinkedIn para mapear o mercado e contatar empresas e clientes no exterior.

O quanto temos avançado em relação a políticas de incentivo à exportação?

Hoje, tanto em nível federal como estadual, existe uma política de articulação do setor produtivo em torno do mercado externo. Cito a Câmara Setorial de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, articulada no âmbito da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) e que reúne mais de 25 entidades ligadas ao processo de internacionalização da economia cearense. Esse fórum, participado por organismos como Receita Federal, Sefaz, Correios, Ministério da Agricultura, Fiec, Sebrae, Fecomercio e Câmaras de Comércio, tem se debruçado em entender os gargalos das nossas exportações e propor medidas de simplificação. No entanto, precisamos avançar mais, simplificar os procedimentos aduaneiros e a complexidade fiscal.

Na sua visão, que setores têm um potencial maior para avançar nas exportações?

Acredito que devemos aproveitar as nossas vantagens competitivas. A aposta do Ceará como hub terá um impacto grande em atividades ligadas à energia, ao transporte, à tecnologia e ao turismo. Além disso, a pesca e o agronegócio, bem como o fortalecimento de alguns clusters, como o polo siderúrgico, podem ser decisivos para a nossa performance nas exportações. É preciso fortalecer a cadeia de suprimentos dessas atividades econômicas para aumentar a exportação de produtos e serviços, bem como captar investimentos estrangeiros. Nosso objetivo deve ser captar poupança externa necessária para financiar o desenvolvimento do Estado.

Como a Fiec atua nesse ecossistema empreendedor no sentido de incentivar as exportações cearenses?

A Federação das Indústrias tem como uma de suas principais vocações assegurar que as indústrias estejam preparadas para competir num mercado globalizado. Isso foi bastante reforçado na atual gestão, liderada pelo Presidente Beto Studart. O esforço que a entidade realiza na participação em feiras internacionais e na defesa comercial é permanente. Além disso, a Fiec possui um papel estratégico na execução de uma inteligência comercial. Além de manter o Centro Internacional de Negócios - que desenvolve ações como apoio a exportadores, organização de missões, encontros empresariais e rodadas de negócios com empresários de outros mercados -, a Fiec tem um Conselho de Relações Internacionais, que visa orientar a ação estratégica da Federação em temas como comércio exterior e atração de investimento estrangeiro para o Ceará. Posso dizer que hoje a Casa da Indústria é o espaço que respira negócios internacionais, recebendo permanentemente missões diplomáticas e sediando Câmaras de Comércio, por exemplo.