Autossabotagem prejudica a vida profissional
Especialista dá dicas para evitar hábitos supérfluos que podem atrapalhar o desempenho no dia a dia.
Criar obstáculos e empecilhos – de forma consciente ou inconsciente – que atrapalham a realização de tarefas ou a conquista de objetivos. Essa é a definição mais simples e objetiva possível do termo autossabotagem, feita por muitas pessoas no dia a dia. E se você pensa que também não está sujeito aos efeitos maléficos desse conjunto de hábitos, está enganado. Afinal, quem nunca decidiu trocar o boteco pela academia, deixou a leitura de um bom livro de lado para ficar conferindo as redes sociais ou optou por dormir mais em vez de estudar ou realizar um trabalho importante?
De acordo com os especialistas, quando a autossabotagem atinge a vida profissional, as consequências podem ser ainda piores, pois o trabalhador pode estar prejudicando seu desempenho sem saber, diminuindo suas chances de melhorar a carreira e aproveitar as oportunidades. Invariavelmente, quem pratica autossabotagem corre sérios riscos de ficar para trás no mercado.
Essa tendência foi confirmada por meio de uma pesquisa da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, publicada no Journal of Experimental Social Psychology. O levantamento foi feito com 237 pessoas e mostrou que a chance de boicotar-se é mais alta naqueles momentos em que o cérebro está em seu auge de atenção - e não quando está cansado ou distraído.
Isso prova que estamos conscientes de nossas ações, mas mesmo assim, procuramos sempre uma desculpa para não realizar algo que deve ou pode ser feito em detrimento de atividades supérfluas. O palestrante e escritor Uranio Bonoldi, professor em cursos de MBA da Fundação Dom Cabral, tem larga experiência em cargos de alta gestão de empresas. Ele traz algumas orientações valiosas para evitarmos a autossabotagem.
Síndrome do impostor
É a sensação de fraude e falta de autoconfiança que muita gente sente ao realizar tarefas complexas, mesmo sendo capacitadas para realizá-las. “Nós nos cobramos demais, somos críticos de nós mesmos e nos comparamos a todo momento com outras pessoas. Esse é um gatilho muito grande para a síndrome do impostor e nesse momento o importante é focar em você e tentar não se comparar. Com tantos parâmetros de comparações, principalmente pelas redes sociais, é preciso manter o foco em nós mesmos”, argumenta Uranio Bonoldi.
Falta de confiança
A junção da autoestima com a crença nas próprias capacidades forma a nossa confiança. Trata-se de uma construção que ocorre ao longo de toda a vida, e também se manifesta no aspecto profissional. “Conforme você se conhece e valoriza suas qualidades, cultivando atitudes positivas e aprimorando seus pontos fortes, a autoconfiança vai surgindo. É preciso reconhecer seus talentos e qualidades, não se criticar tanto quando comete um erro e lembrar que cada um tem seu tempo”, diz Bonoldi.
Procrastinação
Certamente você já ouviu o dito popular: por que fazer hoje o que você pode deixar para amanhã? Na verdade, esse é o lema (muitas vezes inconsciente) dos autossabotadores: deixar tudo para depois e ver uma pilha de tarefas impossíveis de serem realizadas. “Quanto mais tarefas acumuladas houver, menos vontade de cumpri-las você vai ter, o que gera perda de produtividade e falta de ânimo. Quando você consegue se esforçar para realizar pelo menos uma por dia, acaba criando hábitos bons para sair da procrastinação, a ter mais energia para cumprir as tarefas diárias”, enfatiza o professor Uranio Bonoldi.
Perfeccionismo
Esse é o ‘passatempo perfeito’ de quem se sente em constante insatisfação com seu desempenho e tem dúvidas sobre qualquer tipo de trabalho que se disponha a fazer. Em casos mais críticos, essas pessoas têm uma frustração enorme quando não conseguem atingir a perfeição. “Para os que sofrem com esse problema, vale a pena praticar o princípio de Pareto com base na regra 80/20: apenas 20% das atividades são responsáveis por 80% dos resultados. Isso significa que 20% de empenho tem potencial de causar 80% dos efeitos, então, vale mais a pena dedicar-se no que gera resultado, ao que importa, do que perder muito tempo com detalhes”, alerta Bonoldi. “Mudar é um processo. Pode levar mais tempo do que você gostaria para alcançar seus objetivos, mas isso não é uma corrida ou competição. Depois de se comprometer em alterar um comportamento, você continuará nesse processo por um bom tempo, até torná-lo um hábito. O importante é começar”, garante o professor.