Começou 2022, ano de novas eleições para os cargos de presidente da República, governador, senadores e deputados federais e estaduais. As articulações para o pleito, no entanto, começaram antes mesmo do início do calendário eleitoral, ainda em 2021.
O Diário do Nordeste faz um apanhado do que se sabe até aqui sobre a disputa eleitoral para cada cargo, a exatos dez meses do primeiro turno das eleições, marcado para 2 de outubro.
Governo do Ceará
A disputa pela sucessão do governador Camilo Santana (PT) se apresentou, em 2021, mais instável em relação aos possíveis nomes indicados na base governista do que mesmo nas definições da oposição.
PDT
Com estratégia semelhante à adotada na sucessão de Cid Gomes, em 2014, e na de Roberto Cláudio, em 2020, nas eleições pela Prefeitura de Fortaleza, o partido apresentou, até agora, quatro nomes como pré-candidatos: a vice-governadora Izolda Cela; o ex-prefeito Roberto Cláudio, o deputado federal Mauro Filho e o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão.
Izolda Cela é cotada, inclusive, para assumir o Governo em abril, diante da expectativa da descompatibilização de Camilo Santana do cargo para disputar o Senado. Se assumir o Governo em 2022, disputar as eleições para governadora e for eleita, Izolda teria apenas quatro anos de mandato.
Roberto Cláudio, ao deixar a Prefeitura de Fortaleza, era tido por algumas alas como o "sucessor natural" do atual governador. Ele, no entanto, enfrenta resistências internas de aliados, principalmente dentro do PT.
Mauro Filho também foi cotado, em 2014, como candidato à sucessão de Cid Gomes. Na época, ele disputou vaga no Senado e foi derrotado por Tasso Jereissati. Em 2018, foi eleito deputado federal, mas se manteve a maior parte do tempo afastado do Legislativo para ficar à frente da Secretaria do Planejamento e Gestão no Governo. Deixou a pasta nesta sexta-feira (31), a pedido do governador, já que tem planos de disputar as eleições novamente, mesmo que em cargo indefinido.
Já o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, está ainda no segundo mandato de deputado, mas tem ocupado posições estratégicas dentro do grupo político. No final de outubro, assumiu por sete dias o Governo, durante viagem de Camilo e Izolda, e adotou agenda intensa de eventos públicos no Estado.
Nos últimos meses, o PDT tem realizado encontros regionais para testar a afinidade dos pré-candidatos. As definições de fato, no entanto, devem ficar para o final de julho e começo de agosto, próximo ao prazo para as convenções partidárias oficializarem os candidatos.
PT
O PT, que deve manter aliança com o PDT para 2022, pelo menos a nível local, ainda debate internamente os rumos do partido. Há manifestações de candidatura própria, como dos deputados federais José Airton e Luizianne Lins. Apesar das insinuações, poucas figuras petistas acreditam na aventura. Camilo, inclusive, defende a manutenção da aliança.
O que tem pesado nas articulações é a disputa nacional. Enquanto o PT tem o ex-presidente Lula como pré-candidato, o PDT tem o ex-ministro Ciro Gomes. Ambos são aliados do governador Camilo Santana.
O partido ainda aguarda definições sobre a federalização com siglas como PSB, PV e PCdoB. A expectativa de se unirem na disputa eleitoral pode impactar na força de negociação localmente também.
Oposição
Do lado da oposição à direita, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) está firme com a pré-candidatura. Ele tem viajado pelo Interior em busca de apoio para a primeira disputa majoritária a nível estadual.
No segundo semestre de 2021, Wagner também se posicionou mais objetivamente como aliado do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), diferentemente da postura que adotou nas eleições municipais em 2018.
Em agosto, Wagner recebeu acenos públicos de Bolsonaro em evento no Cariri. “O Brasil já tem um capitão. Eu acho... Eu acho, não! Eu tenho certeza que o Ceará também terá um capitão no ano que vem”, disse o presidente, ao chamar o parlamentar de “velho companheiro”.
O pré-candidato, no entanto, tem tido dificuldades em manter a base aliada de opositores. Um dos nomes fortes ao lado de Wagner em 2020, o prefeito de Caucaia, Vitor Valim (Pros), está mais próximo do Palácio da Abolição. No final de 2021, Valim esteve ao lado de Camilo em diferentes eventos públicos, com elogios ao petista em discursos nos palanques e nas redes sociais.
Outra expectativa em relação à oposição em 2022 é da decisão sobre a fusão entre DEM e PSL, formando o União Brasil. No Ceará, Wagner disputa a presidência do novo partido, que se tornará o mais forte do Congresso Nacional, com o senador suplente Chiquinho Feitosa.
Senado
Com apenas uma vaga em disputa, as articulações para o Senado seguem um pouco tímidas, inclusive por conta do nome do governador Camilo Santana (PT) estar sendo cotado. Com amplo favoritismo do petista para vencer o pleito, nem mesmo a oposição conseguiu trabalhar um nome competitivo para a vaga que deve ser deixada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB).
Falando no tucano, o ex-governador não deu indicativos de que deve concorrer à reeleição. Pelo contrário, a expectativa é que ele deixe a vida pública pelo menos por enquanto.
Tasso deve ter dificuldades para a construção de um palanque no Estado. Afastado de Capitão Wagner (Pros) a nível local, o parlamentar ainda não se pronunciou sobre o tucano João Doria para a presidência da República. Nas prévias do partido, o cearense fez campanha pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Pelo grupo do pré-candidato ao governo, Capitão Wagner, nenhum nome foi colocado para jogo na disputa de senador. Publicamente, tanto Wagner quanto o senador Eduardo Girão, principais articuladores do grupo opositor, ainda falam em aproximações partidárias. O nome vai ficar para um segundo momento.
O ex-senador Eunício Oliveira, apesar de ainda não ter batido o martelo sobre o futuro eleitoral, não deve concorrer novamente ao Senado. O emedebista já declarou publicamente a possibilidade de tentar uma vaga na Câmara dos Deputados e, sem seguida, trabalhar pela presidência da Casa.
O grupo de oposição à esquerda também não definiu nomes que disputarão o Senado. A Unidade Popular (UP) faz reunião no dia 26 de fevereiro para tomar as decisões.
Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa
Em 2022, será a primeira vez que deputados federais e estaduais serão submetidos à regra do fim das coligações. Nas eleições para vereador em 2020, os partidos já tiveram que concorrer de forma isolada. O modelo deve resultar em trocas de partidos pelos deputados em busca de uma melhor distribuição de forças.
Dentre os dez deputados estaduais mais votados no Ceará em 2018, segundo dados da Justiça Eleitoral, a maioria se movimenta em busca da reeleição para a Assembleia Legislativa. Outros, no entanto, devem tentar assumir novos cargos, como uma cadeira na Câmara dos Deputados ou mesmo o comando do Governo do Estado.
A eleição de 2020 também mexeu com a movimentação de forças políticas, especialmente com derrota de nomes tradicionais da política, como o ex-prefeito de Juazeiro Arnon Bezerra, pai do deputado federal Pedro Bezerra.
Outras famílias se preparam, no entanto, para fortalecer o espaço político. Em Tauá, Domingos Filho carrega uma longa trajetória na política. Eleito deputado estadual por diversas vezes, foi presidente da Assembleia Legislativa e vice-governador do Ceará. A esposa, Patrícia Aguiar, é prefeita de Tauá. O filho, Domingos Neto, é deputado federal. E a filha, Gabriella Pequeno Aguiar, é pré-candidata à deputada estadual.
Outra disputa acirrada deve ser o campo conservador da política local. Alguns pré-candidatos despontam no cenário: o deputado estadual André Fernandes (Republicanos), a secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, a vereadora de Fortaleza Priscila Costa, o comandante da Força Nacional de Segurança, coronel PM Aginaldo Oliveira, esposo da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e a esposa de Capitão Wagner, Dayany Bittencourt, filiada ao Republicanos em 2021.
Presidência da República
Semelhantemente ao cenário nacional, no Ceará, as principais forças no Estado têm se dividido entre Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes. Em 2018, Ciro venceu no Ceará, mas a presença de Lula numa possível disputa neste ano pode mudar a preferência. Quatro anos depois, Bolsonaro também fortaleceu sua base política na região.
No segundo semestre de 2021, tanto Lula como Bolsonaro cumpriram agenda no Ceará. O Estado tem sido foco importante na disputa, especialmente em relação aos recursos hídricos. Parte das visitas do presidente ao Ceará foram para inaugurar obras relacionadas a abastecimento de água, como a própria transposição do rio São Francisco.
A expectativa é de que Bolsonaro foque o discurso eleitoral no Nordeste tanto nos recursos hídricos como no auxílio de renda à população. No final de 2021, ele acabou com o programa Bolsa Família, símbolo das gestões petistas, para lançar o Auxílio Brasil.
Já Lula, em visita ao Ceará em agosto, reforçou o foco numa frente ampla para 2022. Ele esteve com lideranças políticas variadas no Estado, como Tasso, Cid e Eunício.
Em relação a Ciro Gomes, um dos episódios mais marcantes foi a operação da Polícia Federal que teve como alvos principais ele e o senador Cid Gomes. O episódio devolveu Ciro aos holofotes nacionais. Em nota, Ciro disse que a operação teve o objetivo de tentar criar danos à pré-candidatura dele à presidência da República.