Editorial: Exercício de reflexão

O segundo semestre de 2020 é também o segundo com o mundo sob as investidas de uma doença contagiosa, ainda não inteiramente conhecida em seu comportamento sobre o organismo humano e disseminação nas populações humanas. Os números presentes não deixam dúvidas quanto à gravidade da pandemia.

Há confirmação para mais de 11 milhões de infectados e meio milhão de pessoas morreu em decorrência da doença. É unânime entre os estudiosos de que os indicativos oficiais dos países, tabelados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), computam apenas uma parte da realidade, graças à subnotificação e à baixa testagem, em alguns lugares do planeta.

Ainda assim, decorridos seis meses, o mundo vive outra fase. Mesmo no Brasil, onde a doença chegou semanas e mesmo meses depois de ser documentada na Ásia e na Europa, as maiores cidades implementam planos de retomada das atividades. Ofícios considerados não essenciais foram suspensos para reduzir a circulação de pessoas nas cidades, quando os sistemas de saúde ainda se apressavam para adaptar suas estruturas, tornando-as mais robustas, para atender à demanda por leitos específicos para o tratamento de uma síndrome respiratória aguda grave.

Instalou-se o que vem sendo chamado de “nova normalidade”. As aglomerações ainda são evitadas, o cuidado com a higiene foi intensificado e a população deve seguir usando máscaras. A quarentena universalizada, imposta como medida necessária para promover o isolamento social e, assim, frear o ritmo do contágio, ficou para trás. Pelo menos, por ora.

Observando-se a forma como aconteceu com outras epidemias antes dessa que o mundo enfrenta, sabe-se que há o risco de novas ondas de contágio. No Ceará, por exemplo, a Capital vive dias de avanço, com redução dos indicativos de contágio e do índice de mortalidade associado à Covid-19. Contudo, em algumas regiões do Estado, a curva é ascendente e, caso não seja controlada, poderia afetar Fortaleza num “efeito bumerangue”.

Em um semestre, muito se avançou no conhecimento da Covid-19 e no estabelecimento de medidas profiláticas. Ainda não há vacina, com efetividade comprovada e validada, mas universidades e laboratórios de vários países seguem pesquisando e testando seus resultados. Dia a dia, testes com medicamentos já existente autorizam o uso dessas drogas para o tratamento da doença. Sente-se o efeito positivo, também, da larga adoção de certas medidas protetivas, para as quais antes nem sequer havia certificação acerca de sua eficiência, como o uso de máscaras de tecido.

É necessário, contudo, que se faça um exercício de reflexão, para que seja possível "desnaturalizar" a realidade da vida no contexto da pandemia. Se os números relativos à população da Capital são promissores, não se pode pensar que a doença passou a agir de forma diferente sobre o organismo dos indivíduos. A Covid-19 não se tornou menos grave, nem menos contagiosa. O cuidado pessoal - e solidário - continua a ser um imperativo ético e cidadão. É essa disciplina individual que precisa ser universalizada e reforçada, para que a sociedade possa se movimentar sempre numa só direção: a da superação da crise.