No compasso do alerta

Quando ficou claro que a crise sanitária que se iniciou em Wuhan ganharia escala global, não houve mais espaços para pensar em soluções que não fossem, necessariamente, coletivas, solidárias e internacionalistas. Geografia alguma foi capaz de assegurar que qualquer pessoa estivesse livre do contágio da Covid-19. A desigualdade social expôs parcelas da sociedade de forma mais frequente e determinou a qualidade e a agilidade do socorro clínico para aqueles que vivem em condições mais precárias. Contudo, nem as camadas mais abastadas se viram blindadas contra as investidas do vírus. O imperativo da empatia, na prática, tem suas limitações. Há desacordos, desencontros e mesmo oposições exaltadas, quando a pauta é o combate à Covid-19. É forçoso reconhecer que o Plano de Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais do Estado do Ceará, lançado pelo Governo do Estado ainda em junho, não foi recebido unanimemente com otimismo. Houve quem antevisse uma verdadeira catástrofe no horizonte, anunciando-a a cada passo da reabertura presencial de negócios e espaços sociais. O fato é que, de imediato, a visão pessimista não se concretizou. Ao passo que o plano avançava, o número de casos da Covid-19 no Estado aplainava-se, reduzindo dia a dia seu índices de novas infecções e de mortes em decorrência da doença.

A retomada foi importante para a sociedade. Possibilitou que muitos setores econômicos dessem início ao processo de recuperação, da crise que antecedia em pelo menos cinco anos à Covid-19 e dos efeitos da própria pandemia. A economia, que se faça lembrar, é pauta do dia de todo cidadão - determina o que ele terá à mesa. Os efeitos positivos não foram exclusivamente no campo da economia, do emprego e da renda. Pode-se afirmar que foi importante como suporte emocional, dado que a necessidade e a correção do isolamento social não foram suficientes para se evitar crises de ansiedade e problemas de depressão, por exemplo.

A pandemia, contudo, ainda não é uma história do passado. O caminho que perfaz, desde o início, é tortuoso, e não se pode perder isso de vista. A semana fechou com anúncio do Governo do Estado de que restrições anteriormente suspensas precisariam ser novamente adotadas. A medida leva em conta indicativos de que, em algumas partes do Estado, o número de infecções teria voltado a crescer. Alegando um "aumento considerável" na quantidade de pacientes com suspeita de Covid-19 em busca de atendimento nas emergências de suas unidades, um dos planos de saúde em atuação no Ceará suspendeu a marcação de novas cirurgias eletivas não essenciais em seu hospital, na Capital.

A orientação da autoridade estadual vetou a realização de eventos festivos em ambientes fechados. Nesse longo ano de combate a um mal virótico, o cidadão foi informado de forma intensa acerca dos comportamentos de risco a serem evitados. Portanto, para além do decreto estadual, há de recorrer ao que dita a consciência de cada um, baseado no que diz a ciência, evitando aglomerações e adotando cuidados higiênicos rigorosos. É dessa forma - com iniciativa, disciplina e espírito solidário - que se garantirá que a tragédia dos dias passados não volte a ser vivida no futuro.


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