Editorial: Volta às aulas

Desde a última segunda (18), mesma data do tão aguardado início da vacinação contra a Covid-19 no Ceará, as aulas presenciais estão de volta na rede privada de ensino do Estado. Com exceção do 1º e do 2º ano do Ensino Médio, vetados de acordo com decreto estadual, grande parte dos alunos poderão compartilhar o espaço físico com colegas, professores, diretores e demais funcionários das escolas, pela primeira vez desde o início da pandemia do coronavírus, em meados de março de 2020.

O retorno ao ensino presencial não é totalmente inédito desde o início da crise. Em setembro passado, a educação infantil foi liberada para receber as crianças - com a condição de respeitar os protocolos sanitários necessários para a preservação da saúde de alunos e trabalhadores da educação. O momento, ainda, é de muita cautela para essa volta, apesar de todos os protestos do empresariado envolvido com o funcionamento dos estabelecimentos escolares e a exaustão (evidente) de pais e demais responsáveis envolvidos no cuidado de seus filhos e tutelados.

A cautela se dá também por conta da alta do contágio e do número de mortes observados em todo o Brasil. Com o processo de vacinação agora em curso, o enfrentamento da pandemia no País tem a melhor perspectiva desde o início da crise. No entanto, no que diz respeito ao funcionamento das escolas, vale lembrar que professores só entraram na quarta fase de aplicação do imunizante - ao lado deles, estão trabalhadores da segurança e salvamento; funcionários do sistema prisional e a população privada de liberdade.

O governador do Ceará, Camilo Santana, ainda tentou, junto ao Ministério da Saúde, a inclusão dos professores logo na primeira fase da vacinação, mas não obteve sucesso. E logo que a categoria seja vacinada, é importante observar que existe um passo a passo para o paciente confiar que está imunizado. Além de tomar a primeira dose, o indivíduo precisa manter o isolamento social, depois tomar a segunda dose e, por fim, aguardar, segundo estima-se, por cerca de três semanas a um mês para que a vacina faça o efeito devido.

Embora o risco do contágio siga iminente, por mais que os protocolos sejam respeitados, a favor do retorno das escolas pesa o cansaço de pais e responsáveis pelos cuidados com as crianças. Os próximos meses ainda podem revelar como todo esse período de reclusão - e insatisfação de grande parte dos alunos com o ensino remoto - afetou a saúde mental desses jovens que, mexidos pela pandemia, retornam agora a um ambiente de cobrança de desempenho.

No entanto, a vida escolar também é fonte de estímulo social e afetivo, e a falta dessa vivência sempre foi uma das principais preocupações dos pais com seus filhos confinados. É tempo de escuta e flexibilidade para que o retorno à rotina escolar presencial não impulsione novos casos de Covid-19. Embora estudos comprovem que as crianças sejam menos vulneráveis à doença, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sinaliza que, no Brasil, 9,3 milhões de idosos ou adultos com alguma comorbidade residem com uma criança em idade escolar. Vale, portanto, todo o cuidado já aprendido há quase um ano e que a sociedade cearense siga articulada em prol da vacinação com o resto do País.