Editorial: Nova rotina na Capital

Pouco mais de quatro meses da aparição do novo coronavírus, o cotidiano foi transformado em todas as partes do mundo. A pandemia da Covid-19 impactou os humores de todo mundo. Como a doença está longe de ser plenamente conhecida, as dúvidas são desfeitas aos poucos. Isso se reflete no combate a ela. O que em uma semana sequer era lembrado, na seguinte pode ter se tornado regra. Aprendeu-se a viver um dia atrás do outro, atualizando-se não apenas dos números e das consequências nefastas da doença, mas também das recomendações mais recentes para que as sociedades, em todo o mundo, consigam superá-la.

A Capital não viu diante de si outra alternativa senão adotar um modelo de isolamento social mais rígido. Em que pese as medidas adotadas pelo Governo do Estado e da Prefeitura de Fortaleza, a cidade está entre as mais atingidas pela Covid-19 no País. O reforço nas unidades de saúde, incluindo a ampliação significativa de leitos de UTI, não consegue acompanhar a escalada de casos da doença. De fato, na maior parte dos países atingidos com severidade pela pandemia, a resposta hospitalar teve dificuldades de se equiparar ao desafio imposto pela doença.

Deve-se encarar os recursos terapêuticos complexos, como a internação hospitalar, como os últimos a serem adotados. Isso porque há maneiras de evitar que sua demanda cresça de forma que, nas unidades médicas, seja preciso decidir quem morrerá e quem se tentará salvar. Este quadro será, em parte, condicionado pelas medidas profiláticas e preventivas adotadas e pela adesão destas por parte da população e das instituições.

O distanciamento social e, por conta dele, a suspensão de parte das atividades produtivas, avaliadas como não essenciais, são recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Também foram reconhecidas e chanceladas pelas autoridades sanitárias de todos os países democráticos. São reconhecidos seus efeitos colaterais, em especial para a economia, mas entende-se que uma abertura apressada, sem planejamento e carente de protocolos rígidos para a flexibilização podem ser ainda mais danosos para as pessoas - e, consequentemente, para a própria economia.

A avaliação dos primeiros dias da vigência do isolamento social rígido para Fortaleza foi positiva. O cálculo oficial é que 80% da população observou as regras e passou estes dias dentro de suas próprias residências. Os deslocamentos foram mínimos e, quando feitos, resguardados pela essencialidade de seus motivos. Antes das novas regras entrarem em vigor, havia dias em que as taxas de isolamento social estavam abaixo dos 50%. A adesão inicial foi, ao longo das semanas, sendo abandonada e as ruas se enchiam de transeuntes e de veículos.

A consequência desse relaxamento social se fez sentir na velocidade do contágio da doença e do crescimento exponencial do número de mortes. A crise, é necessário que seja dito sem rodeios, ainda está longe do fim. Seu desfecho, contudo, pode ser abreviado e ganhar feições menos terríveis com o respeito às regras cunhadas pelas autoridades sanitárias e sancionadas pelos chefes do Executivo no Estado e no município de Fortaleza.