Editorial: Desafio contínuo

Tempo de predomínio da alegria, o período carnavalesco deste ano foi atípico. As instabilidades da Segurança Pública no Ceará, e a escalada de crimes violentos associada a elas descoloriram os dias. Completaram o quadro de turbulências políticas em Brasília, que armam para março e criam atrito entre os poderes, e a chegada, desta vez confirmada, do coronavírus ao Brasil. Fortaleza teve dias chuvosos. Não chegaram a afastar os foliões dos polos festivos, mas trouxeram alguns problemas à cidade – caso dos buracos na malha viária e alagamentos insistentes.

Em meio a problemas e contratempos imprevistos, um desafio há meses anunciado para 2020 segue adiante, exigindo vigilância e ação. Trata-se da dengue. No ano passado, a Capital cearense registrou 3.888 casos da doença. Os dois primeiros meses deste parecem promissores, com uma redução de 64% de confirmações em todo o Estado, em relação a igual período do ano passado. Até a primeira semana de fevereiro, foram confirmados 173 casos da doença no Ceará, contra 480 de 2019. O acompanhamento é feito pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), e divulgado nos boletins epidemiológicos de arboviroses.

A notícia é boa, mas não deve desmobilizar ações públicas, nem dos cidadãos no sentido de combater a incidência da dengue. É preciso recordar o alerta do Ministério da Saúde, divulgado em meados de janeiro, para os nove estados da Região Nordeste e dois do Sudeste (Rio de Janeiro e Espírito Santo). Estas 11 unidades da Federação apresentariam mais risco de registrarem surtos da doença a partir de março.

A projeção é reconhecida pela Sesa, que já trabalha de forma preventiva e no sentido de minimizar os casos no Ceará. A apreensão se dá, também, em função do caráter cíclico da dengue. Há quatro sorotipos do vírus que provocam o mal e, neste ano, há chances de o Estado vivenciar, em maior escala, o retorno do sorotipo 2 da dengue. É considerado o mais perigoso dentre seus pares e, depois de anos “longe” da população cearense, prenunciou seu retorno em 2019, quando foi observado em dez municípios do Estado.

Alguns pontos do Ceará inspiram mais preocupação das autoridades: a Região Metropolitana de Fortaleza, por conta de sua densidade populacional; o Litoral Leste, onde se registrou mais casos do sorotipo 2 no ano passado, e o Sertão Central, por fatores culturais relacionados à guarda domiciliar de reservatórios com água. Há ações específicas a serem encaminhadas, de acordo com a necessidade de cada local. Fortaleza, por exemplo, possui muitas áreas propícias à infestação. Mais de 1.500 foram mapeadas, incluindo borracharias, sucatas e canteiros de obras. Tais espaços exigem monitoramento permanente.

O combate à dengue requer, sobretudo, disciplina e regularidade, pois a população tem um papel importante na redução de casos da doença. Tanto que a campanha estadual investe na conscientização de que o trabalho a ser feito é fundamental, porém simples. Pede-se “10 minutos de atenção por semana”, com a finalidade de eliminar focos de água parada nas residências, criadouros do mosquito transmissor de dengue – da chikungunya e da zika. O pedido é razoável; a tarefa, exequível; e o objetivo, legítimo e do interesse de todos.