Editorial: Acesso controlado

É inquestionável o quanto a pandemia do novo coronavírus tem afetado drasticamente cenários, práticas e perspectivas de toda ordem, em esferas do público e do privado. Neste momento de gradual retomada das atividades no Ceará e em outros estados brasileiros, reflexões a respeito dos impactos deste período nas distintas instâncias da vida tendem a ganhar ainda mais fôlego, sobretudo dado o caráter imperativo de adoção de novas posturas frente à realidade que se delineia no horizonte.

Diante de tantas questões urgentes, ressalta-se uma que tem chamado a atenção de psicólogos e profissionais envolvidos com estudos sobre o comportamento de crianças e jovens: o acelerado crescimento do consumo de telas e a superexposição a aparelhos tecnológicos na quarentena têm gerado efeitos bastante nocivos, a exemplo de problemas na visão, sobrepeso e ansiedade. Se antes da pandemia a lista de consequências já era expressiva, agora parece infindável.

Baseados em diferentes pesquisas, especialistas avaliam que esse uso desenfreado de tecnologia, associado ao isolamento compulsório, acarreta hábitos sedentários, com perda de massa muscular, e pode ocasionar até mesmo incapacidade de enxergar. Além disso, o sono e a concentração podem ser influenciados; há maior gasto de dinheiro com compra de jogos online ou otimização funcional de aplicativos; e a depressão emerge igualmente como efeito da hiperconexão.

Embora não seja um comportamento anormal neste período atípico - tendo em vista a ausência de atividades fora das paredes de casa -, é importante que pais e responsáveis fiquem atentos a como driblar a extrema dependência a esses aparelhos. Assim, a família toda deve se unir em prol de uma melhor vivência entre os pares, primando pelo equilíbrio no aproveitamento do tempo. Alternar momentos de socialização e recolhimento próprio, dando margem para que cada um elenque suas prioridades individuais, pode ser uma boa saída.

O diálogo é fundamental, bem como o estabelecimento de limites. Nos primeiros anos de vida, geralmente ensina-se às crianças a ter bons hábitos de consumo alimentar, por exemplo, a fim de otimizar a saúde corporal e psíquica. Nas últimas décadas, devido à onipresença da internet, há de se considerar que a educação digital também é indispensável e pode, inclusive, ser uma aliada.

Com moderação, visitas a sites ou canais educativos que auxiliem na assimilação de diferentes saberes podem ser um complemento em situações como o ensino remoto, aliando conhecimentos adquiridos com professores e vivências na esfera digital. Além disso, a quarentena também abre possibilidades para desenvolver hobbys nos pequenos, tais como aprender um idioma ou tocar um instrumento. A oferta de vídeos e apostilas na web contemplando esses assuntos é grande.

Todos esses direcionamentos, contudo, podem ser resumidos em apenas um: que os responsáveis pelos de menor idade sejam os próprios modelos para os filhos. A relevância da presença de pais e mães nos processos educacionais remete a um compromisso que deve ser de todos, assumido conjuntamente. Uma conexão capaz de gerar apenas benefícios e evoluções.


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