Editorial: A quem serve a política

As casas legislativas - em suas três instâncias: federal, estadual e municipal - retomaram os trabalhos há uma semana. Há projetos políticos e de poder em curso, desafios inadiáveis e uma eleição no horizonte, para o mês de outubro que, dada a ansiedade da classe política, nem parece tão distante assim. São três elementos que não podem ser considerados em separado, pois se influenciam mutuamente. E é o resultado desta interação que deve determinar, em grande medida, o trabalho de vereadores, deputados estaduais e federais e senadores ao longo do ano.

No modelo de democracia adotado no Brasil, o Legislativo é um dos três poderes da República e, assim como o Executivo, seus ocupantes são temporários - atuam por mandatos - e eleitos pelo voto popular. Há diferenças nas missões de vereadores, deputados e senadores, mas em comum os três cargos têm a obrigação de desempenhar uma tripla função, imperativa para a consolidação e exercício da democracia. A primeira é a de representar o povo brasileiro; a segunda, legislar sobre assuntos de interesse nacional e, por fim, fiscalizar a aplicação dos recursos públicos por parte do Executivo.

Enquanto prefeitos, governadores e o presidente da República precisam lidar com a complexa necessidade de fazerem uma gestão para todos, buscando conciliar interesses, não poucas vezes, antagônicos por parte de setores da sociedade, parlamentares têm a possibilidade de serem representativos. É evidente que se cobra de cada um a responsabilidade de ter em vista, em todas ocasiões, o bem comum, de se combater os males do sectarismo. Contudo, é positivo que sejam feitas defesas dos mais variados grupos que compõem uma comunidade - seja ela um município, um estado ou o País.

O exercício parlamentar exige o diálogo com as bases, um canal com o povo, pois a comunicação entre representantes e representados não deve se dar em sentido único, nem se restringir ao período eleitoral. Não faltam meios desta relação se estabelecer, seja na presença do cidadão no espaço legislativo, seja nas incursões dos parlamentares até onde as pessoas estão para ouvir suas demandas e anseios, além, evidentemente, do canais digitais.

Há, contudo, que se estar atento para eliminar desvios. Se é, de fato, importante o trabalho parlamentar para além do espaço das casas legislativas; é inegável que o trabalho a ser feito lá dentro é imprescindível e insubstituível. A ausência de representantes em plenário não fere a princípios na letra da lei, dada a infinidade de razões possíveis e aceitáveis para que esta aconteça, dentro da razoabilidade e das limitações das pessoas. Contudo, é de se lamentar quando sessões deixam de acontecer pelo fato de não se contar com a presença do número mínimo de parlamentares exigidos.

Em ano eleitoral, o trabalho nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional deve seguir um curso responsável, atento às pautas de interesse da sociedade. E é esse interesse que deve justificar a presença ou ausência parlamentar, sem que essas se deem para o cumprimento de agendas que sirvam, apenas, às ambições pessoais ou partidárias por postos eletivos. Não se deve esquecer a quem servem os representantes da população.