'Nunca mais um Brasil sem nós': mulheres indígenas e negras pelo bem viver

Sônia Guajajara e Anielle Franco, nos seus discursos, explicitaram trajetórias ricas de experiências de luta contra o racismo e pelo bem viver

Legenda: Anielle Franco e Sônia Guajajara, ministras da Igualdade Racial e dos Povos Indígenas, respectivamente
Foto: Agência Brasil

Nesse ano, no dia 11 de janeiro, assistimos a um momento histórico de significado nunca visto, quando se trata de reconhecimento étnico e justiça racial. Tomaram posse em Brasília a líder política Sônia Guajajara, no recente Ministérios dos Povos Indígenas; e a jornalista e ativista Anielle Franco, no Ministério da Igualdade Racial.

Cena recheada de simbolismo, por demais aguardada por aquele/as que lutam por um projeto societário que inclua os grupos racializados de modo subalterno, em particular as mulheres indígenas, negras, da periferia e pertencentes aos povos e comunidades tradicionais (quilombolas, povos de terreiros, ciganos).

Se no dia 08 de janeiro de 2023 a sede dos Três Poderes foi tomada por atos terroristas, vandalismo e ataques golpistas e antidemocráticos na capital federal, passados três dias assistimos a uma das mais belas e pujante cerimônia de posse das duas ministras, que trazem a questão racial para a agenda política.

O simbolismo recai neste ato vibrante a favor dos povos indígenas e da população negra, representada por essas duas mulheres que tem suas trajetórias marcadas por lutas a favor de uma sociedade democrática em termos raciais.

São grandes lideranças que demonstram trabalho coletivo árduo e o fazem por meio de relações generosas, ancoradas na ancestralidade, em busca de superar as condições de vulnerabilidade a que estão sujeitos os povos originários, tradicionais e negro em todas as regiões deste país de extensão continental como o modelo de desenvolvimento predatório, racismo, violência, extrema pobreza, desemprego, violação de direitos, agravamentos da saúde, dificuldade de efetivar uma educação diferenciada e antirracista e ataques fascistas dentre outras desigualdades.

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É certo que estamos passando por uma crise humanitária, e nada mais importante do que o compromisso do Estado com a reparação histórica, a inclusão daqueles/as discriminado/as de forma negativa, os ausentes em cargos de decisão na administração pública.

Serem indicadas para assumir tais cargos representa o reconhecimento da diversidade dos povos e culturas que formam o Brasil, posto que atuam no campo democrático preocupado com o futuro e preservação da natureza, com a demarcação e titulação de terras e territórios dos povos originários e tradicionais e com o combate ao racismo estrutural.

Sônia Guajajara e Anielle Franco nos seus discursos explicitaram trajetórias ricas de experiências de luta contra o racismo e pelo Bem Viver, denunciaram as raízes de tantas desigualdades raciais e sociais e apresentaram alternativas, pela via de pactos civilizatórios.

Sônia Guajajara elucida no seu discurso algo de grande profundidade e relevância que precisa ecoar diante do propósito de reconstruir a nação tão abalada e atacada nos últimos anos – “nunca mais um Brasil sem nós”.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.

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