Extra, extra, extra! Esta notícia entrou para o folclore do jornalismo brasileiro e foi incorporada à cultura pop do país, a cada 10 de março, a data é comemorada nas redes sociais como o #caetanosday.
A extraordinária notícia foi publicada pelo portal Terra, em 10 de março de 2011, com o seguinte título original: Caetano Veloso passeia pelo Leblon e estaciona o carro.
A informação foi editada em uma “galeria” de três fotos. Vamos às legendas, absurdamente geniais: 1) Caetano Veloso se prepara para atravessar uma rua do Leblon; 2) Caetano espera no estacionamento carioca nesta quinta-feira; 3) Caetano estaciona carro no Leblon nesta quinta-feira.
Imediatamente, a bizarra notícia tornou-se um meme. A partir de 2012, a data de 10 de março passou a ser comemorado como o “Caetano’s Day”. No Twitter, as hashtags #caetanosday e #caetanoestacionanoleblon costumam ficar no topo dos “trading topics”, seção que organiza os assuntos mais comentados na rede social.
O assunto foi incorporado ao repertório da cultura pop brasileira. Virou tema do humorístico Porta dos Fundos, pauta de programas de fofocas e até o próprio artista baiano entrou na brincadeira — em 10 de março de 2018, ele usou o Twitter para relembrar o aniversário de seu passeio inesquecível na zona sul carioca. O post da efeméride teve mais de nove mil compartilhamentos e 20 mil curtidas.
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Em março de 2021, o portal Uol celebrou uma década do acontecimento caetânico-leblonístico. A reportagem foi a fundo: “Consultando a placa do Kadett, descobrimos que o carro é do modelo 1994. Está registrado no Rio de Janeiro, capital, e foi licenciado pela última vez em 2014. Além disso, o veículo ‘famoso’ tem duas multas de trânsito, totalizando R$ 212,82. Uma delas, já prescrita, é por estacionar em local proibido, com data de 22 de janeiro de 2015. No caso, a infração aconteceu longe no Leblon, na Zona Sul: foi no bairro de Vila Isabel, no lado oposto da cidade.”
Agora vem o mais delicioso disso tudo. Na mesma ocasião do aniversário de dez anos da estacionada histórica, a autora da notícia original, Elisangela Roxo, publicou, na revista Piauí, um relato sobre o nascimento dessa pérola do jornalismo brasileiro.
Ela conta que a antimanchete surgiu num momento de desespero, durante um plantão pós-carnaval. Sem muito o que escrever, mas obrigada a bater uma meta de dez notícias diárias, a redatora recebeu as fotos e decidiu cumprir tabela.
“Desculpe a minha petulância com sua imagem, Caetano, mas eu precisava rir de mim mesma naquela atividade tão carente de sentido. Precisava me satirizar enquanto satirizava o jornalismo sobre o nada, entende?”, escreveu Elisangela na revista, um texto em forma de carta que vale por uma tese de mestrado sobre o funcionamento da mídia caça-clique.
A nota do Terra não era assinada, como de praxe nesse tipo de “galeria” de fotos de celebridades. Mesmo depois de todo o barulho, a autora confessa que não revelou seu nome por medo de comprometer sua carreira. Era comum, na repercussão inicial da notícia, dizer que a estacionada no Leblon seria “o fim do jornalismo”, entre outras opiniões apocalípticas.
Elisangela seguiu no mesmo portal jornalístico. Saiu de lá voluntariamente, ainda em 2011, para continuar exercendo a mesma profissão. Mora atualmente na Dinamarca, onde se tornou mestre em comunicação pela Universidade de Aarhus. O jornalismo, como bem sabemos, passou mal, mas felizmente ainda não acabou. Escapou fedendo, como a gente diz no Ceará. Ufa.