E.T. Bilu alerta o Brasil de novo: busquem conhecimento

O camarada cearense Denival Landim alertou esse escriba para um detalhe que costuma passar despercebido nas manifestações bolsonaristas, como a deste domingo, 25, aqui em São Paulo. “Repare que há sempre uma turma com referências ao E.T. Bilu e assuntos ligados à ufologia”, sugeriu. Ri, naturalmente, diante do jeito sério e compenetrado do conterrâneo. “São os mistérios do Planeta”, completou o amigo garçom, natural do Crato, lembrando uma letra de música dos “Novos Baianos”.

Inesquecível E.T. Bilu, para quem não lembra, foi um fenômeno midiático que surgiu em 2010, em uma área rural do município de Corguinho, no Mato Grosso do Sul, a 100 km da capital Campo Grande. A fama da criatura extraterrestre começou mais ou menos assim, vem comigo:

— Qual é a sua mensagem para a Terra?, perguntou o repórter do programa Domingo Espetacular, da TV Record, à fugidia entidade.

— Apenas que busquem conhecimento, respondeu uma voz que, supostamente, vinha do E.T. Bilu.

Minutos antes, a visagem, até então creditada como um alienígena, aparecera na tela da TV, iluminada pela luz de uma lanterna, no meio do mato.

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Entre outubro e novembro daquele mesmo ano, diversas emissoras brasileiras, como SBT, Band e RedeTV, também exploraram o estranho fenômeno — que fez enorme sucesso popular, mas que também foi considerado uma das maiores farsas da ufologia brasileira.

A primeira tv que tentou achar o Bilu no seu habitat foi o SBT, mas não conseguiu vê-lo. O jeito foi se contentar em exibir as imagens de divulgação do porta-voz da bizarra criatura, o sr. Urandir Fernandes de Oliveira, autointitulado paranormal e ufólogo.

Numa reportagem do programa CQC (Band), o Bilu apareceu – ou melhor, quase, já que a imagem era muito confusa, pois no meio de um matagal. Com a voz que imitava a de uma criança, o bicho dizia ter 4.010 anos de idade. É o novo!

Com o Projeto Portal, o mentor do E.T. atraiu uma romaria de fiéis. Uma excelente oportunidade para vender suas casas em forma de iglus. O comércio imobiliário rendeu, muita gente ficou morando em Corguinho na esperança de receber mais e mais Bilus.

O empreendimento ufológico levou o guia espiritual a responder a vários inquéritos policiais, sob acusações de charlatanismo, estelionato e falsidade ideológica. Liso, Urandir saiu livre de todos os rolos na Justiça.

O guru reapareceu, porém, em 2021, no papel de líder da cruzada negacionista contra a vacinação de Covid-19 no Mato Grosso do Sul. Também militava no terraplanismo. Supreendentemente, incorporou um terraplanista moderado: a Terra não seria plana e muito menos esférica — “é convexa”, disse.

Tudo pode parecer muito bizarro, mas contou com ajuda e chancela do governo Bolsonaro em Brasília. O secretário de Cultura, Mário Frias, era o aliado mais eufórico. O pai de Bilu aproveitou o cenário favorável para anunciar, em 2022, o reino de Ratanabá, uma civilização secreta na Amazônia brasileira. A sua nova “criação” foi um sucesso na internet, deixando eufóricos muitos fãs do extraterrestre de Corguinho e do então presidente da República.

Há quem diga que o criador do Bilu teria sido o responsável pelos rituais da oração aos pneus e do celular aceso sobre a cabeça, ambos utilizados nos acampamentos populares nos quartéis na tentativa de reverter, milagrosamente, a derrota eleitoral da extrema direita na eleição de 2022.

“Busquem o conhecimento”, repete o garçom Denival, agora frescando com a ignorância interplanetária deste cronista do Cariri. Boa semana e até a próxima. Com ou sem visagens e assombrações.

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