“Botar boneco” é uma expressão popular cearense que explica o modus operandi do presidente Jair Bolsonaro. Decifro para o leitor e a leitora de outras terras: botar boneco é o mesmo que armar confusão, fazer uma presepada, atrair todas as atenções com atos e atitudes inoportunas e grosseiras, atrapalhar a vida alheia, acabar com a harmonia de uma festa etc etc.
E de boneco em boneco, como nesta pauta sem futuro do voto impresso, o ex-capitão monta circo e cercadinho e escapa do debate fatal sobre a carestia, corrupção na vacina, mansão de Flávio Bolsonaro, rachadinha em família, desemprego recorde, volta do Brasil ao mapa da fome, destruição da Amazônia, novo aumento da gasolina, fila do osso, entre outras desgraças que passam batidas na pauta da política e da economia.
Caímos fácil na artimanha bonequeira. Nas redes sociais e nos bancos de praça. Em vez de questionar o preço do gás e o cardápio à base de pé de frango, lá estamos nós dando corda às lorotas bolsonaristas sobre “fraudes” comunistas nas urnas eletrônicas.
Derrotada a tese do voto impresso na Câmara, pode aguardar, ainda esta semana o presidente submete uma nova marmota à sua bovina plateia na porteira do Palácio da Alvorada — é lá que começa tudo de novo.
Há “bonequeiros” engraçados que, mesmo nos seus momentos bêbados de chatice, despertam o riso com suas mungangas. É o outro lado da bonecaria, com uma queda para a gaiatice, a goga, a gozação, a brincadeira. Não tem sido o caso do presidente.
Qual é a graça de botar boneco com o fumacê de tanques e urutus na porta do Planalto? Bonequeiro golpista não se garante nem mesmo no seu humor tosco e apelativo. Melancólico, minha gente.
Aí já está mais para “botar queixão”, como vejo aqui em outro verbete do “Dicionário do Nordeste”, volume essencial de Fred Navarro (Cepe editora). É coisa de quem tenta ganhar no grito ou à força. Barra pesada. Patético, não vale, o Brasil não merece essa triste figura.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.