Mesmo sem direito a uma só vaga entre a macharada titular da CPI da Covid, as intervenções das senadoras têm sido brilhantes, contundentes, essenciais, com sangue nos olhos e uma sustança histórica ao melhor estilo Mossoró (RN) — cidade pioneira na conquista do voto feminino no Brasil, em 1927.
Volto o vídeo da sessão de interrogatório desta quarta-feira (19) e reparo na importância da firmeza da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). O general Eduardo Pazuello parecia engambelar os homens, com sua prosa rococó, quando a maranhense detecta o truque: “A sensação que eu tenho é que parece que o senhor está brincando com a cara da gente na CPI, o senhor já mentiu demais nessa comissão”.
Com documentos à mão, Eliziane levou o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro a recorrer ao silêncio pela primeira e única vez. Ela cobrou que o ex-ministro da Saúde respondesse sobre a oferta de um avião cargueiro dos EUA que ajudaria a socorrer os hospitais de Manaus durante a tragédia da falta de oxigênio. Sem saída, Pazuello seguiu orientação de um advogado e calou.
O arrojo da senadora ainda rendeu uma advertência do presidente da CPI, Omar Aziz, que pediu cordialidade da política maranhense com o general.
Em um ambiente em que a tropa de choque governista ameaça até sair no braço, a intervenção de Eliziane pode ser considerada civilizadíssima. O que incomodou foi a sua sagacidade em detectar o rosário de mentiras do interrogado.
No dia anterior, a responsável por frear o delírio de Ernesto Araújo foi Kátia Abreu (PP-TO). A senadora sapecou duas definições definitivas sobre o ex-ministro das Relações Exteriores: “negacionista compulsivo” e “bússola que nos direcionou ao caos”.
As bravas atuações desta semana, com Eliziane e Kátia, deixaram patente o óbvio: caso elas fizessem parte como titulares da comissão, os mentirosos, engambeladores e Rolandos Leros teriam uma vida mais difícil ainda durante os interrogatórios.
É de um machismo miserável, em maio do ano da graça de 2021, que os partidos não tenham indicado uma só senadora entre os 18 marmanjos do time. Uma indecência.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.