Pantaleão e Justo Veríssimo explicam o Brasil 2021

Legenda: Justo Veríssimo, personagem de Chico Anysio
Foto: Reprodução

“É só uma gripezinha. É mentira, Terta?”

Na semana dos 90 anos de Chico Anysio (1931-2012), balanço aqui a cadeira do folgado Pantaleão e escuto lorotas dignas de uma autoridade máxima da República. Inevitável lembrança, né, Pedro Bó?

Mesmo na era dos memes, o mestre do humor político se lambuzaria com a fartura tragicômica do bolsonarismo. Pelo menos uma dezena dos seus 209 tipos e personagens seria escalada para abarcar o festival diário de patacoadas e gabolices que acontece no Palácio do Planalto e salões ministeriais.

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Como falar de Paulo Guedes sem recorrer ao deputado Justo Veríssimo e a sua conhecida aporofobia - aversão e medo dos pobres e miseráveis. Sim, lembra quando o ministro da Economia, no seu pantim esnobe, criticou o câmbio que permitia “uma festa danada” das empregadas domésticas na Disneylândia? “Pera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita”, disse.

O nobre parlamentar da galeria de Chico City também interpretaria a turma da Receita Federal que documentou, na semana passada, uma besteira digna de uma vaia cearense: só os ricos leem livros no país. Basta uma espiada na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2020) para verificar o pitaco fiscal sem pé nem cabeça.

Com a palavra na tribuna, o excelentíssimo Justo Veríssimo: “Quero que pobre se exploda! Eu tenho horror a pobre. Horror”.

Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, teria muito trabalho na atual conjuntura. Estaria firme no Ministério da Saúde, mesmo com as seguidas mudanças de titulares na pasta. Calunga, seu adjunto, também estaria prestigiado.

Santelmo e o professor Raimundo Nonato, porém, estariam na rua da amargura. O primeiro por não saber mentir, um defeito imperdoável para uma autoridade de qualquer repartição ou autarquia; o segundo, óbvio, pela irrelevância da educação em um tempo de louvor à ignorância.

Somente o gênio de Maranguape, o cearense que veio ao mundo no dia 12 de abril de 1931, para aliviar um pouco a barra nessa hora pandêmica. Por isso é obrigatório celebrar sempre Chico Anysio. E fiquem com a sabedoria e as barbas brancas do Profeta: “Tenham paciência: o futuro é hoje”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.